Por Francisco Castro
Ao
longo de mais de 35 anos de participação no movimento espírita, temos observado
que uma das questões de grande relevância para o futuro das instituições espíritas
é a sucessão de seus dirigentes, seja de uma pequena casa, de uma instituição de
maior porte e até do órgão de coordenação dessas instituições, chamado de órgão
federativo.
Já se tornou até um refrão ouvirmos
expressões como essas: não tem quem queira assumir cargos na diretoria; não
podemos passar o comando para qualquer pessoa; quando falamos nesse assunto
todos fogem; e assim por diante.
Por que será que acontecem essas
coisas nas instituições espíritas? Por que será que as pessoas se comportam
assim? Será verdade que é assim mesmo que as coisas acontecem? Será que não estamos
colocando uma capa para encobrir outro tipo de problema?
Há uma questão, de certa forma
recente, mas não tão nova assim, que acontece também nas organizações voltadas
para a obtenção de lucro, chamadas de empresas, ou seja, as organizações que
visam o lucro, que é o exercício do poder. Os dirigentes dizem: aqui eu
coloquei todas as minhas economias, obtidas com o meu suor ao longo de tantos
anos de trabalho, não posso entregar a qualquer pessoa, ou a qualquer um que
chegar!
Essa questão de poder nas
organizações, modernamente chamada de “empowerment”,
que podemos aportuguesar para chamar de empoderamento, é uma questão séria,
especialmente nas instituições que não têm finalidade lucrativa, como as instituições
espíritas, porque é vital para a continuidade dos seus objetivos precípuos, que
são o estudo, a difusão e a prática da Doutrina Espírita.
Empoderamento, para se usar o termo
aportuguesado, significa dar autoridade, poder, aos trabalhadores para realizar
tarefas sem precisar obter a aceitação da decisão por parte de seus superiores,
de seus dirigentes. O que na prática significa o trabalhador fazer o que tem
que ser feito, agir sem esperar a autorização de seus chefes ou superiores
hierárquicos. Será que nas instituições espíritas deve ser diferente?
Na questão 625 de “O Livro dos
Espíritos”, Allan Kardec faz a seguinte pergunta aos Espíritos Codificadores: Qual o tipo mais perfeito que Deus tem
oferecido ao homem para lhe ser servir de guia e modelo? A resposta é a
mais concisa de toda a obra basilar da Doutrina Espírita, na tradução de
Guilhon Ribeiro: “Jesus”.
Será que, na questão que estamos
examinando, Jesus também serve de guia e modelo? Nessa questão organizacional
será que podemos extrair alguma orientação dada por Jesus para que possamos
tranquilizar o nosso coração e confiar na solução proposta? Penso que sim,
senão vejamos, o primeiro exemplo que Jesus nos deu foi que ele não trabalhou
sozinho, seu primeiro exemplo foi o de formar uma equipe de trabalho.
Para formar sua equipe Jesus
recrutou doze trabalhadores para com ele formar um grupo de trabalho. Não foi
buscá-los entre os mais sábios ou entre os mais ricos e poderosos, mas entre os
mais simples, mas com disposição suficiente para segui-lo nessa nova
empreitada, que era levar a boa nova àqueles que dela precisavam, ou seja, a
implantação do Reino de Deus entre os homens!
Será que os dirigentes espíritas estão
formando equipes de trabalho? Alguns até poderão responder que sim, embora
objetem, mas ninguém quer assumir o comando! Talvez porque todas as decisões
estejam centralizadas, neles mesmos, ou não deleguem, não incentivem, não
estimulem a tomada de decisão sem precisar passar pelo seu crivo de aprovação.
O segundo exemplo vamos encontrar em
Mateus 17:15-21, quando aquele homem procurou Jesus para expulsar o demônio do
seu filho que era lunático, ou seja, afastar os espíritos obsessores, e, após a
cura operada por Jesus, os discípulos perguntaram ao Mestre por que eles não puderam
fazer o mesmo, ao que Jesus respondeu: Por causa da vossa pouca fé!
Veja-se que citamos apenas dois
desses exemplos, mas o Evangelho está cheio deles, de situações em que Jesus
demonstrou confiança naqueles que o seguiam. Nas casas espíritas e nos órgãos
federativos, será que podemos dizer o mesmo?
Allan Kardec, nos escritos que foram
publicados após a sua desencarnação sob o título “Obras Póstumas”, justifica que
no início a centralização era uma
necessidade, mas antes de desencarnar ele sugeriu a formação de uma Comissão
Central, também formada por doze membros, onde o presidente teria mandato de um
ano. Ele dar a entender que qualquer um dos doze estaria apto a ocupar o cargo
de presidente.
No projeto de regulamento que Allan
Kardec sugere para as sociedades que se formariam, e que se encontra publicado
no livro “Viagem Espírita em 1862”, também se encontra no número 6 (seis), letra
“a”, que a sociedade seria dirigida por quem fosse designado, e pelo tempo que
a sociedade fixasse.
O assunto que abordamos aqui também
pode ser complementado em um outro que publicamos, pouco tempo atrás, sob o
título: “Sobre a falta de trabalhadores
na Casa Espírita”, quando tivemos a oportunidade de afirmar: “O dirigente espírita deve ser um
incentivador e orientador de colaboradores e um verdadeiro caçador de talentos,
tem que estar sempre antenado”, portanto, deve dar poder aos seus colaboradores!
É preciso um estudo muito profundo para desvendar este mistério. Há controversias!
ResponderExcluirA formação do trabalhador espírita passa pelo estudo da Doutrina Espírita de forma sistematizada. Passa pelo exercício da tolerância, do companheirismo, da solidariedade...Descobrir nesses grupos, aqueles que serão: presidente; coordenadores; secretário; tesoureiro, eis a questão...
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