quinta-feira, 30 de agosto de 2012

UM PONTO DE VISTA



"...pessoas da família de Cloé, informaram-me a Vosso respeito, meus irmãos, que está havendo contendas entre vós. Digo isso, porque cada um de vós afirma: 'Eu sou de Paulo'; 'Eu sou de Apolo'; ou 'Eu sou de Cefas'; ou 'Eu sou de Cristo'. Será que Cristo está dividido?" (1 Cor 1: 11-13)

Por Jorge Luiz

Compartilho com a ideia daqueles que acreditam que os ensinamentos morais do Cristo serão vivenciados mais por força das relações do mundo corporativo do que no contexto inter-religioso, apesar dos mais de dois mil anos de domínio do último.
Se olharmos o cenário religioso da atualidade é fácil constatar que vivemos o apogeu do fenômeno que o Profr. Herculano Pires definiu como “Agonia das Religiões”. É um processo cíclico e característico das religiões consideradas sociais, dentro da estrutura de Pestalozzi, o grande Mestre de Allan Kardec: religiões primitivas, sociais e morais.
Um sinal desse processo “agonizante" das religiões sociais é o crescente florescimento das seitas.
Se voltarmos à vista para o contexto da família espírita é fácil de verificar que experienciamos um grande cisma (*) em todas as suas dimensões, apesar das advertências de Allan Kardec elaboradas nos estudos sobre o tema, publicadas em Obras Póstumas, Constituição do Espiritismo.

Tem-se teoricamente uma Doutrina sistematizada no contexto da Promessa de Jesus para reedição do Cristianismo em sua essência - a moral cristã. Na prática, no entanto, em todos os níveis, temos um movimento que diz buscar esse ideal totalmente sem identidade, desarticulado, sincrético, fragmentado, partidarista, competitividade predatória entre eventos, lubrificado pela cizânia e bem distante do modelo desenhado por Allan Kardec e dos ensinamentos básicos do Espírito da Verdade.
O Espiritismo não é parlenda que deve ser recitada para entreter crianças. O Espiritismo é uma ciência que exige estudo metódico e sistemático, e não pode ser aplicado e dirigido de forma arbitrária e ao sabor dos ventos. É uma Doutrina inserida no campo do Conhecimento regido por leis da lógica e de logísticas que direcionam o processo cultural. É uma doutrina eminentemente coletiva.
O que consigo enxergar, no entanto, em uma boa parcela das iniciativas espíritas, e aqui não apontando dedo para ninguém, são projetos pessoais com a marca das vaidades humanas, o que não deixa de caracterizar “espírito de seita”. Vejam a quantidade de ligas, associações e organizações a unirem, médicos espíritas, delegados, magistrados. União Espírita, Aliança Evangélica, Sinagoga Espírita, Cruzada dos Militares etc,
Embora tenha reconhecimento e consideração da utilidade de todas, defendo que o ambiente legítimo para a difusão e prática dos ensinamentos espíritas é o Centro Espírita. Reconheço, no entanto, que as casas espíritas, em sua grande maioria, não oferecem um ambiente doutrinário e organizacional adequados para acolher esses profissionais.
O Espírito Deolindo Amorim, pela psicografia de Élzio F. de Souza, de maneira muito ponderada afirma que estamos na fase mais difícil, muito parecida, segundo ele, com aquela em que a oposição se torna governo. Geralmente, diz ele, os que combatem com veemência um regime e sistema dominantes, ao atingirem a governança não conseguem colocar em ordem as próprias idéias, desentendem-se entre si e são incapazes de dirigir.
Vou, portanto, fechar essa equação.
Desde o início da década de 90 do século passado, os estudiosos da Ciência da Administração vêm estudando e atualizando conceitos administrativos perante a nova ciência que abrange várias disciplinas no campo da própria física, da biologia, da química, da ecologia, da evolução e da teoria do caos. Vários sãos os teóricos e líderes organizacionais que recorrem a essas disciplinas.
Sob títulos como pensamento complexo, pensamento sistêmico ou pensamento ecológico surge uma nova consciência que estamos em permanente interconexidade. Percebem-se sistemas em vez de participantes isolados. Esse nível de conhecimento não se aplica apenas às ciências, mas também ao mundo dos negócios.
Compulsando autores nacionais e estrangeiros observei que o item que abre qualquer agenda no mundo dos negócios na contemporaneidade é a Espiritualidade.
Margaret Wheatley (**) que cito como exemplo, atesta que “as questões de ética e de moral já não são nebulosos conceitos religiosos, mas elementos essenciais no relacionamento de qualquer organização com as empresas associadas, com os acionistas e com as comunidades. No terreno pessoal muitos autores abordam hoje a relação interior com o espírito, com a alma e com o propósito de vida.”    
Conceitos como espírito, consciência, significado, sentido de vida são considerados propósitos da nova ciência da administração. O amor e o conhecimento de si mesmo são peças chaves para o novo estilo de liderança para o mundo que se avizinha.
Jesus já inspira muitos consultores da área de liderança. É fácil de encontrar em qualquer livraria várias obras com esse direcionamento.
Allan Kardec na Revista Espírita de janeiro de 1867 afirma que “é impossível entrar na via da espiritualidade sem fazer Espiritismo involuntariamente.”
Considerando que o Espiritismo está atualizando todos os ramos das ciências ortodoxas e a Ciência da Administração tem conformação com essa mesma Ciência, tem-se que admitir que a afirmativa de Kardec validar-se-á.
Ao considerar ainda que o ser humano passa um terço da sua vida no ambiente de trabalho, sem contar os investimentos indiretos e diretos para o seu aperfeiçoamento profissional, a disciplina, os resultados que persegue, a vivência da espiritualidade no ambiente de trabalho será determinante para a transição que se opera no mundo.
Outras tendências que precisam ser aqui incorporadas são à individualização e à humanização da religião e um enfoque maior na psicologia nas práticas religiosas; a psicologia considerada para a busca pelo Eu Superior, ou o Deus Interior – autodescobrimento.
Recentemente ouvi um expositor espírita afirmar que Deus não espera pelo necessário, mas opera através das possibilidades disponíveis.
Acredito que esteja com a razão. Os Espíritos do Senhor, de forma sutil e ao mesmo tempo alarmante, não ficarão à espera do discernimento e da sensatez dos espíritas e fazem com que o Espiritismo realize o propósito Divino para a Humanidade: a sua regeneração moral.

(*) Um cisma, é uma dissidência de uma pessoa ou grupo de pessoas do seio de uma organização ou movimento, geralmente religioso. Allan Kardec considera todos os aspectos que poderiam repercutir em um cisma espírita, no capítulo “Constituição do Espiritismo”, publicado em Obras Póstumas.
(**) Margaret J. Wheatley é presidente do Berkana Institute, uma fundação de pesquisas científicas e educacionais sem fins lucrativos que se dedica à descoberta de novas formas de organização. Ela é também diretora da Kellner-Rogers & Wheatley Inc., instituição internacional de educação e consultoria que aplica os princípios dos sistemas vivos em organizações humanas.

  • Fontes Consultadas:
·         A Agonia das Religiões- J. Herculano Pires.
·         Espiritismo em Movimento – Elzio F. de Souza, pelo Espírito Deolindo Amorim;
·         Liderança e a Nova Ciência – Margaret J. Wheatley;
·         Obras Póstumas – Allan Kardec;

8 comentários:

  1. Caro amigo e irmão Jorge, paz e luz! Gostaria de parabenizá-lo e ao mesmo tempo saber se está arquivando seus textos para a publicação mais tarde de um livro espírita de pensamentos e discussões? Gostaria também, de pedir que explica-se melhor a questão das associações espíritas, pois acredito que algumas delas têm carater relevante no contexto do ensino espírita. Grande abraço a todos.
    Fernando Bezerra (ICE)

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  2. Caro amigo Fernando, não sei se o amigo Jorge está arquivando, mas é bem verdade que eu leio e arquivo todas. Abraços fraternos aos irmãos e muita paz!!!

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  3. Todos os textos colocados aqui são ótimos! Estou compartilhando todos no facebook e no twitter. Parabéns Jorge Luiz por mais um texto para reflexão...Abraços e muita PAZ!

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  4. Olá caríssimo ! De volta à leitura do meu blog preferido!!! Grande abraço !

    Aline Loiola

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  5. Está à altura do autor. Muito bom. Revela conhecimento profundo.

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    1. O comentário acima é de Deusimar Apoliano

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  6. Sabe que realmente me despertou para a realidade de "grupos", pois isto poderá levar a uma retalhação enquanto a doutrina pede a união INDESTINTA.

    HELANE

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  7. Parabéns Jorge, vc sempre nos surpreendendo!!

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