sábado, 8 de setembro de 2012

CHAMADO VIRIL





 Pelo Espírito J. Herculano Pires (*)

Os espíritas não têm a consciência do momento histórico que vivem hoje e da responsabilidade que assumiram, no sentido de dar sequência natural ao curso deste moto contínuo de transformação moral e existencial, na busca da renovação de valores: única forma de espantar, em definitivo, os fantasmas da alienação, da irresponsabilidade e do desequilíbrio, tão disseminados neste momento, em nosso planeta.
O movimento espírita, infelizmente, jaz adormecido e acomodado, na pachorra dos estacionamentos de pedintes esfaimados, indolente aos estímulos revivescentes emanados das páginas luminosas da Codificação Kardeciana e enfunados pelos grandes emissários divinos, em seu esforço permanente e otimista, à espera de uma reação positiva.
Permanece imobilizado em comportamento ditado pelas tendências do passado, na busca do alcance da condição de privilegiado, não raras vezes, através da política de favores pessoais e permutas pueris.
Estaciona em uma posição de mentalidade estreita e mesquinha, mantenedora de atitude “feijão com arroz”, apenas suficiente para a saciedade do estômago e nada mais.
Isso tudo – somado às expectativas quase que exclusivas da obtenção de vida fácil, na fuga do bom combate, sob as escusas invariáveis da carência de possibilidades –, impede-o de atentar para a profundidade doutrinária e o significado transcendente e providencial do Espiritismo no mundo.

A Doutrina Espírita é o chamado viril feito por Jesus há dois mil anos, a ecoar fortemente em nossos dias; a clamar por uma atitude de coragem, de enfrentamento e de ação dissociada de objetivos imediatistas e personalistas. É explosão de luz, direcionada e gerenciada de tal maneira a nos permitir a acomodação visual indispensável, pelo esforço exato, no tempo certo. Representa voto de confiabilidade divina em nosso potencial, apesar da nossa freqüente claudicação, no que respeita às questões de vivência espiritual.
A miopia espiritual dos espíritas está dando azo a uma estagnação da marcha e a uma descaracterização conceptual do Espiritismo, resultado das querelas internas de pseudointelectualismo e do anseio infrene de domínio, por necessidades indébitas de autoafirmação, motivo dos temerários desvios de seu núcleo indestrutível que é a Obra Kardeciana.
Faz-se imprescindível tomemos todos nós a responsabilidade de fazer luz em meio às trevas; não a nossa luz – que ainda não possuímos –, mas a luz de empréstimo, obtida com segurança das páginas consagradas da obra fundamental do Espiritismo.
Não nos é lícito arrefecer o ânimo; nem nos é lícito soçobrar ante as armadilhas preparadas pelos nossos adversários – armadilhas que são como falsos brilhantes a aguçar os apetites e as ambições do passado, mantidos no presente pela invigilância e pela indolência, pelo farisaísmo e pela preguiça mental e operacional.
Relembremos os primeiros cristãos! Será que somos dignos de uma comparação com aqueles impetuosos e valorosos discípulos do Cristo, que enfrentavam, peito a peito e de peito aberto, a adversidade, os horrores existenciais e as feras monstruosas da violência?
O que temos nós feito pelo Espiritismo? Onde a repercussão e a reverberação dos nossos atos?
Não podemos perder o instante histórico! Não devemos deixar escapar por entre os dedos as oportunidades presentes. E não nos devemos preocupar nem mesmo como o número que somamos ou que deixamos de somar, posto ter sido, a partir da determinação e do esforço de um punhado de homens semianalfabetos e simples, em sua maioria, que o Cristianismo tomou corpo, partindo das apagadas terras da antiga Palestina, para vencer a gloriosa Roma Imperial dos césares.
O Espiritismo não é um clamor circunscrito; não é iniciativa tacanha; não veio apenas para ilustrar inteligências entrincheiradas entre paredes, aprisionadas em meio a comportamentos semiesotéricos e exclusivistas; mas é doutrina universal, para todos, sem segregações.
Urge tomemos consciência da sua importância e magnitude, do seu destino e complexidade, para que, de forma intrépida e ousada, conduzamo-la à vitória.
Tenhamos a certeza de que não estamos sós. Ergamos a frontes, dispostos a enfrentar os aparentes “obstáculos intransponíveis” da descrença, do escárnio, do orgulho e da discórdia, posto serem eles os últimos estertores de agonizantes asfixiados pela vacuidade material.
Cultuar a indiferença ante o chamado viril do Espiritismo, permanecendo em atitude inconsequente, inerme e inerte, ante os acontecimentos atuais, é crime de lesa-humanidade e de lesa-progresso.

(*) página psicografada, em Reunião de Desobsessão, no ICE, no dia 06.06.2009.

José Herculano Pires (25.09.1914-09.03.1979) foi um jornalista, filósofo, educador e escritor espírita brasileiro. Destacou-se como um dos mais ativos divulgadores do espiritismo no país. Traduziu os escritos de Allan Kardec e escreveu tanto estudos filosóficos quanto obras literárias inspiradas na doutrina espírita.




3 comentários:

  1. Quanta falta nos faz a presença física do Prof. Herculano Pires, muito embora sua voz continua soando como brado de alerta a todos os espíritas, em face das deturpações doutrinárias que caracterizam ainda o nosso movimento espírita. Merecidamente foi chamado pelo Espírito Emmanuel como " o metro que melhor mediu Kardec."

    ResponderExcluir
  2. Na sexta feira teremos uma palestra da filha dele. Vamos comparecer para lembrarmos um pouco do ilustre irmão espírita. Muita Paz!

    ResponderExcluir
  3. Olá, caro Denísio,
    Muito bem lembrado. Dia 14, no auditório da Base Aérea, Prof. Heloísa Pires, as 19:30 horas.

    ResponderExcluir