Pelo Espírito J. Herculano Pires (*)
Os espíritas não têm a
consciência do momento histórico que vivem hoje e da responsabilidade que
assumiram, no sentido de dar sequência natural ao curso deste moto contínuo de
transformação moral e existencial, na busca da renovação de valores: única forma
de espantar, em definitivo, os fantasmas da alienação, da irresponsabilidade e
do desequilíbrio, tão disseminados neste momento, em nosso planeta.
O movimento espírita,
infelizmente, jaz adormecido e acomodado, na pachorra dos estacionamentos de
pedintes esfaimados, indolente aos estímulos revivescentes emanados das páginas
luminosas da Codificação Kardeciana e enfunados pelos grandes emissários
divinos, em seu esforço permanente e otimista, à espera de uma reação positiva.
Permanece imobilizado em
comportamento ditado pelas tendências do passado, na busca do alcance da
condição de privilegiado, não raras vezes, através da política de favores
pessoais e permutas pueris.
Estaciona em uma posição de
mentalidade estreita e mesquinha, mantenedora de atitude “feijão com arroz”,
apenas suficiente para a saciedade do estômago e nada mais.
Isso tudo – somado às
expectativas quase que exclusivas da obtenção de vida fácil, na fuga do bom
combate, sob as escusas invariáveis da carência de possibilidades –, impede-o
de atentar para a profundidade doutrinária e o significado transcendente e
providencial do Espiritismo no mundo.
A Doutrina Espírita é o
chamado viril feito por Jesus há dois mil anos, a ecoar fortemente em nossos
dias; a clamar por uma atitude de coragem, de enfrentamento e de ação
dissociada de objetivos imediatistas e personalistas. É explosão de luz,
direcionada e gerenciada de tal maneira a nos permitir a acomodação visual
indispensável, pelo esforço exato, no tempo certo. Representa voto de
confiabilidade divina em nosso potencial, apesar da nossa freqüente
claudicação, no que respeita às questões de vivência espiritual.
A miopia espiritual dos
espíritas está dando azo a uma estagnação da marcha e a uma descaracterização
conceptual do Espiritismo, resultado das querelas internas de pseudointelectualismo
e do anseio infrene de domínio, por necessidades indébitas de autoafirmação,
motivo dos temerários desvios de seu núcleo indestrutível que é a Obra
Kardeciana.
Faz-se imprescindível
tomemos todos nós a responsabilidade de fazer luz em meio às trevas; não a
nossa luz – que ainda não possuímos –, mas a luz de empréstimo, obtida com
segurança das páginas consagradas da obra fundamental do Espiritismo.
Não nos é lícito arrefecer o
ânimo; nem nos é lícito soçobrar ante as armadilhas preparadas pelos nossos
adversários – armadilhas que são como falsos brilhantes a aguçar os apetites e
as ambições do passado, mantidos no presente pela invigilância e pela
indolência, pelo farisaísmo e pela preguiça mental e operacional.
Relembremos os primeiros
cristãos! Será que somos dignos de uma comparação com aqueles impetuosos e
valorosos discípulos do Cristo, que enfrentavam, peito a peito e de peito
aberto, a adversidade, os horrores existenciais e as feras monstruosas da violência?
O que temos nós feito pelo Espiritismo? Onde
a repercussão e a reverberação dos nossos atos?
Não podemos perder o
instante histórico! Não devemos deixar escapar por entre os dedos as
oportunidades presentes. E não nos devemos preocupar nem mesmo como o número
que somamos ou que deixamos de somar, posto ter sido, a partir da determinação
e do esforço de um punhado de homens semianalfabetos e simples, em sua maioria,
que o Cristianismo tomou corpo, partindo das apagadas terras da antiga
Palestina, para vencer a gloriosa Roma Imperial dos césares.
O Espiritismo não é um
clamor circunscrito; não é iniciativa tacanha; não veio apenas para ilustrar
inteligências entrincheiradas entre paredes, aprisionadas em meio a
comportamentos semiesotéricos e exclusivistas; mas é doutrina universal, para
todos, sem segregações.
Urge tomemos consciência da
sua importância e magnitude, do seu destino e complexidade, para que, de forma
intrépida e ousada, conduzamo-la à vitória.
Tenhamos a certeza de que
não estamos sós. Ergamos a frontes, dispostos a enfrentar os aparentes “obstáculos
intransponíveis” da descrença, do escárnio, do orgulho e da discórdia, posto
serem eles os últimos estertores de agonizantes asfixiados pela vacuidade
material.
Cultuar a indiferença ante o
chamado viril do Espiritismo,
permanecendo em atitude inconsequente, inerme e inerte, ante os acontecimentos
atuais, é crime de lesa-humanidade e de lesa-progresso.
(*)
página psicografada, em Reunião de Desobsessão, no ICE, no dia 06.06.2009.
José Herculano Pires (25.09.1914-09.03.1979) foi
um jornalista,
filósofo,
educador
e escritor
espírita brasileiro.
Destacou-se como um dos mais ativos divulgadores do espiritismo no país.
Traduziu os escritos de Allan Kardec e escreveu tanto estudos
filosóficos quanto obras literárias inspiradas na doutrina espírita.
Quanta falta nos faz a presença física do Prof. Herculano Pires, muito embora sua voz continua soando como brado de alerta a todos os espíritas, em face das deturpações doutrinárias que caracterizam ainda o nosso movimento espírita. Merecidamente foi chamado pelo Espírito Emmanuel como " o metro que melhor mediu Kardec."
ResponderExcluirNa sexta feira teremos uma palestra da filha dele. Vamos comparecer para lembrarmos um pouco do ilustre irmão espírita. Muita Paz!
ResponderExcluirOlá, caro Denísio,
ResponderExcluirMuito bem lembrado. Dia 14, no auditório da Base Aérea, Prof. Heloísa Pires, as 19:30 horas.