Há 155 anos a Doutrina Espírita vem
consolidando a sua credibilidade no mundo, sobretudo, porque as descobertas
científicas têm caminhado, passo a passo, com muitas das verdades já há tanto
propagadas por Kardec. Avançamos. Se
ontem as pessoas corriam dos espíritas, hoje correm para nós,
atrás das respostas que só “o Consolador” pode dar.
Mais que nunca é preciso divulgar o
Espiritismo e isto implica, entre outros, no uso da palavra escrita e falada.
Mas divulgar não é empurrar material doutrinário goela abaixo. Divulgar
é antes de tudo comunicar-se, estabelecer empatia imediata com o receptor,
despertar interesse inicial, contínuo e gradativo pelo material apresentado, é
fazer-se entender e sentir. Assim, há que se ter uma abordagem minimamente
adequada para que se consiga tocar a alma e chegar à razão.
Nesse ponto, faz-se urgente uma
reflexão. Conseguiremos nós, espíritas, em pleno século XXI, alcançar corações
e mentes sem atualizar nossas formas de comunicação?
A pretexto de fidelidade doutrinária
campeia entre nós um linguajar monótono e obsoleto. Incrivelmente, ainda há
quem acredite que ser fiel à codificação se resume à manutenção da linguagem
utilizada pelo codificador no século retrasado. Reflitamos, é no mínimo
incoerente imaginar que Kardec, o reformador por excelência, o modernizador da
gramática francesa de então, o homem à frente de seu tempo, espere dos
espíritas uma atuação alheia à realidade de cada época.
Quanto às formas de expressão, às
vezes a impressão que se tem é que se parou no tempo, mais precisamente nas
décadas de 40 a 60, apogeu da produção mediúnica de Chico Xavier. Outro dia,
lendo o editorial de um jornal federativo, dei de cara com a palavra
“efemérides” - entre outras expressões arcaicas que recheavam o texto - e
fiquei a pensar... Se a mim, que já passei dos cinqüenta, soa estranho, imagine
ao pessoal da nova geração! Os mais jovens devem ter que dar tratos à bola para
decifrar o que significa tal “palavrão”, já praticamente extinto nos dias de
hoje. Essas situações comprometem de pronto a continuidade da leitura, pois a
chamada leva a pressupor – e com razão – um texto maçante. Quem vai se
interessar por matérias cujos termos remetem ao tempo dos nossos bisavos, o que
- com todo o respeito que devemos aos nossos ascendentes - nada tem a ver com
os anseios do momento presente?
Como podemos querer o aval da
comunidade científico-tecnológica, se em plena era virtual ainda insistimos em
chamar planeta de “orbe”, só porque Emmanuel, na década de 50 – quando esse
termo ainda estava em uso - assim o fez? Se, rebuscadamente, nos referimos à
sociedade “hodierna”- citada por Joanna de Angellis - quando poderíamos
simplesmente utilizar o termo “moderna”, de muito mais fácil compreensão? Passa da hora de aposentarmos os ósculos,
amplexos, destras e outras expressões “jurássicas”. Ou a gente
acompanha os novos tempos ou vai ficando para trás, sob a pecha da alienação.
Não pretendemos aqui fazer a
apologia das gírias, do modernismo inconseqüente. Mesmo porque a palavra
escrita ou falada na norma culta, dentro de uma relativa formalidade, é
passaporte certo para a credibilidade. Mas precisamos repensar o nosso
linguajar enquanto palestrantes e redatores espíritas, para que não nos
escondamos numa espécie de dialeto esquisito que só leva à estagnação e
ao isolamento. Se não devemos vulgarizar a palavra a pretexto de atingir a
massa, tampouco devemos permanecer como se o tempo não tivesse passado para
nós. Se tudo o que mais almejamos é universalizar o conhecimento espírita, por
que não utilizar uma linguagem mais coloquial e interessante? Desde que se
tenha o zelo necessário para que não haja distorções no conteúdo doutrinário,
por que não adaptar textos antigos para uma linguagem moderna, facilitando
assim o seu entendimento?
Alguns companheiros, por entenderem
que a manutenção de termos difíceis provoca um enriquecimento da linguagem, são
resistentes a adaptações literárias. Porém, imaginemo-nos como alguém ainda
engatinhando no conhecimento espírita, que buscando consolo num momento de dor
se depara com uma linda e consoladora mensagem, mas cheia de termos rebuscados,
que exijam o uso do dicionário. Essa interrupção certamente esvaziará o impacto
emocional do conteúdo, esfriando o coração do leitor ante a necessidade de
parar e buscar tantos sinônimos. Emoção cortada, alma frustrada, objetivo
perdido.
O nosso compromisso é com a formação
espiritual e não acadêmica. Embora tenhamos o dever de nos expressar
elegantemente e estimular doutrinariamente o aprimoramento do saber,
contribuindo assim - e muito – também para a intelectualização do ser, o que
precisamos entender é que, definitivamente, trabalhar aquisição de vocabulário
e erudição não é a nossa prioridade. Nossa prioridade é esclarecer e consolar,
com vistas ao progresso moral dos seres, e ninguém esclarece ou consola
sem usar de clareza e simplicidade.
Portanto, didaticamente, simplifiquemos a nossa fala, a nossa escrita, façamos o nosso papel de facilitadores das verdades espirituais e deixemos às escolas do mundo o papel que lhes cabe.
Portanto, didaticamente, simplifiquemos a nossa fala, a nossa escrita, façamos o nosso papel de facilitadores das verdades espirituais e deixemos às escolas do mundo o papel que lhes cabe.
Sob pena de perdermos o trem da
história, há uma contradição que precisa ser vencida pelo movimento espírita.
Uma doutrina evolucionista por princípio, não pode e não deve ficar parada no
tempo. Termos novos são criados a todo momento para coisas novas. Termos
antigos são substituídos a todo instante por outras nomenclaturas.
Caminhamos, hoje, para uma democratização do conhecimento. O que antes era
privilégio de uma casta intelectual agora é acessível a todos. Isso significa
distribuição mais justa da informação e oportunidades igualitárias,
correspondendo aos ideais de justiça e igualdade defendidos pelo Espiritismo.
Então, não faz sentido uma elitização que só retarda a colheita dos frutos
semeados.
O mundo gira, o progresso está aí, e
a lei é de evolução em todos os sentidos. Descomplicar é a
palavra de ordem para quem quer “colocar a candeia sobre o alqueire.” Não há
mais espaço para termos antiquados, que soam até mesmo de forma ridícula
a quem os lê. É inadiável escolher. Ou continuamos a bater na tecla de uma
erudição exibicionista a fim de, aqui mesmo, receber o galardão ou optamos pela
pedagogia simples de Jesus, cujas parábolas demonstram estratégia impar
para alcançar o interesse e o entendimento daquela população ainda tão
rudimentar quanto às verdades espirituais que veio trazer.
Nesse momento difícil de transição,
em que milhares de irmãos nossos precisam, desesperadamente, estabelecer um
link emocional e cognitivo imediato com as verdades consoladoras do Espiritismo
Cristão, não há mais lugar para comportamentos arraigados a tradições pueris.
Deixemos fluir a simplicidade culta que nos fará fiéis articuladores da verdadeira
divulgação, aquela que de fato acontece, que dá resultados palpáveis, pois fala
simultaneamente ao cérebro e à sensibilidade. Só assim estaremos cumprindo efetivamente
o papel de colaboradores do mundo invisível junto ao aprimoramento moral
contínuo da sociedade na qual estamos inseridos, aqui e agora.
Coloquemos em prática, na íntegra,
as recomendações contidas no cap. XII, item 10 do ESE, à página “O Homem no
Mundo”, que nos chama à realidade temporal em que vivemos, ao conclamar:
“Vivei com os homens do vosso tempo, como devem viver os homens.”
E - há que se admitir - numa vida de
inter-relação, respeito e comunicação fazem toda a diferença.
*Joana Abranches é
Assistente Social, escritora e Presidente da Sociedade Espírita Amor Fraterno Vitória/ES
joanaabranches@gmail.com – amorefraterno@gmail.com
joanaabranches@gmail.com – amorefraterno@gmail.com
Porisso é que a recomendação prime do Evangelho no Lar é colocado para que se faça a leitura e comentário através do Evangelho Segundo o Espiritismo pois ali se consolida a base do ensinamento. Muita Paz!!!
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