segunda-feira, 3 de setembro de 2012

UMA QUESTÃO DE PODER




Seja, pois, o vosso sim, sim, e o vosso não, não.”
(Tiago 5:12)

Por Jorge Luiz

             O Espiritismo está na moda. O Espiritismo ganhou Cidadania. Só isso foi o bastante para as disputas pelo poder tomar dimensões partidaristas na seara espírita. As distensões intestinas hoje em muitos núcleos espíritas geradas pela disputa de poder são preocupantes. Em todos os níveis a situação vem ocorrendo, inclusive no movimento federativo.
            Max Weber, sociólogo alemão (1864-1920), foi quem melhor definiu o poder à compreensão humana, ao afirmar que “é a possibilidade de alguém impor a sua vontade sobre o comportamento de outras pessoas.” A definição é medíocre em demasia para enquadrar adeptos de uma Doutrina de amor, luz, desprendimento, consolação, fé racional e tendo como seu estandarte a caridade.  Prefiro pensar assim.
            J. Kenneth Galbraith (1908-2006), professor Emérito de Economia da Universidade de Harvard, ao estudar a anatomia do poder asseverou que “a exemplo de muitos outros aspectos do poder, os propósitos pelos quais ele é procurado são amplamente sentidos, mas raramente enunciados.” Atesta ele que “um cinismo profundamente enraizado e extremamente valioso é a réplica apropriada e usual a todas as declarações abertas dos objetivos do poder; exprime-se na onipresente pergunta O que ele realmente pretende?”
            Foi assim que se constituiu um pretenso império das almas, que se mostrou muitas vezes em pavorosa tirania pela usança da tortura e da fogueira para se manter. Um “poder espiritual” consolidado a partir da proclamação do reino de Deus, - justiça, amor e caridade -, direito de todos, para direito de alguns, exercido pela privação dos direitos da Consciência, lugar reservado à Lei de Deus. Esse “poder espiritual”, desmentiu-se a si mesmo.

            Ernest Renan (1823-1892), escritor, filósofo, filólogo e historiador francês, atesta em sua obra  clássica “Vida de Jesus”, dia virá, e estamos próximos desses dias, em que a separação trará seus frutos, em que o domínio das coisas do Espírito não mais se chamará um “poder” e sim “liberdade”. Essa é a audaciosa iniciativa do Rabi Galileu cuja esperança de realizá-la está em cada um de nós. Esse é o propósito do Espiritismo ao reviver a mensagem da Boa Nova.
            O Apóstolo Paulo em sua II Epístola aos Coríntios, 13:10 aponta a direção para o uso adequado do poder: “Segundo o poder que o Senhor me deu para edificação, e não para destruição.”
            Já Allan Kardec sugere que não façais ao outro o que não querereis que vos fosse feito, mas fazei-lhe, ao contrário, todo o bem que está em vosso poder fazer.
          Estamos sempre compelidos a manifestações apaixonadas que esquecemos os imperativos da prudência evangélica, sob o destempero do egoísmo, ao considerar que as ideias defendidas superam às dos irmãos do caminho.
            Articulam-se planos mirabolantes e dissemina-se o vírus da maledicência contra o companheiro ao constatar que as ideias que se defende são pouco confiáveis ante às dos confrades de ideal.
            O espírito de equipe é logo solapado pela intolerância que se cristaliza e destrói as aspirações mais sublimes da amizade e respeito ao próximo.
            Não se está servindo à seara espírita para aniquilar o que é imperfeito, mas para dar curso a um projeto Divino para regeneração da Humanidade, ainda inacabado, atesta o Espírito Emmanuel.
            A jornada é espiritual e não contempla a inserção da competitividade mórbida que campeia os quatro cantos do Planeta, mas processo de aprendizado que somente com a convivência fraterna é que se sairá vitorioso dos compromissos espirituais assumidos.
            Somos candidatos à renovação de nossas almas e Jesus é o grande comandante dos nossos passos na evolução. Seguindo-O, esse é o discurso habitual, quais os motivos que nos levam a essa postura heterônoma diante do poder?
       Detendo-se ideias extraordinárias, embora díspares, unamo-nos sob o lábaro da caridade e que se promova o diálogo, pois certamente quem ganhará serão o nosso movimento e os princípios unificadores do Espiritismo. 
            Ser espírita é trabalhar para a edificação do Espiritismo, portanto, não há motivos para dissensões e conflitos pela disputa do poder, já que os ensinamentos para esse desiderato são o amor e o conhecimento que liberta.
            O Rabi Nazareno quando entre nós considerou em várias oportunidades o significado do poder Real, ao afirmar que “não se pode servir a dois senhores.” Em outra oportunidade, desconcertou a todos quando ponderou que desse “a César o que era de César e a Deus o que é de Deus.”
            O poder que deu a seus discípulos foi o de disseminar a Boa Nova, curar os enfermos e expulsar os demônios. O mesmo poder que os espíritas estão revestidos.
            Foi enfático quando destacou as nossas potencialidades divinas que refletem a marca de Deus em nós:
            “Eu disse, sois deuses? (Jo 10:34)
            “Vós sois o sal da terra.” (Mt 5:13)
            “Vós sois a luz do mundo.“ (Mt 5:14)
          Busquemos nos inspirar no estilo de liderança do Cristo, pois Ele afirmou que não veio para ser servido e sim para servir.

3 comentários:

  1. É preciso ter pulso forte para saber educar. Desde os nossos filhos, é preciso saber a hora de dizer o "sim" e dizer o "não" e ficar tudo certo! - MUITA PAZ!!!

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  2. ...'O espírito de equipe é logo solapado pela intolerância que se cristaliza e destrói as aspirações mais sublimes da amizade e respeito ao próximo.'...

    E o mais engraçado é quando anulam boas idéias, dizendo que o Centro Espírita não é 'samba do crioulo doido' e logo em seguida, agrega esta mesma idéia com sendo sua, divulgando-a como autor da idéia de terceiros... Será que pensam que espírito de equipe é isto?

    Infelizmente amigo Jorge, tudo é uma questão de PODER!!

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  3. Muito bom. Muito oportuno!

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