“Tenho ainda outras
ovelhas que não são deste aprisco; é preciso também a essas eu conduza; elas
escutarão a minha voz e haverá um só rebanho e um único pastor. Jesus ( Jo,
10:16)
A Ilíada de Homero (750 a. C.),
uma das epopéias da literatura grega, oferece-nos o episódio do cerco a que foi
submetido os troianos, e que durou cerca de 10 anos, somente vencidos em
decorrência da astúcia do herói Ulisses, que constrói grande cavalo de madeira,
abandonado às portas de Tróia, após fingir retirada. Apesar dos presságios de
Cassandra, o cavalo é introduzido na cidade que trazia em seu ventre os
guerreiros de Ulisses. Aberta as portas, os gregos investem sendo Tróia
completamente saqueada e destruída.
Classifico o episódio de suma importância para nos
incitar a reflexões profundas acerca do momento que atravessa o Movimento
Espírita.
As notícias que temos, não só no Ceará, como também aos
quatro cantos do Brasil, dão-nos conta da inclusão de palestras de outras doutrinas em nossas atividades ou eventos sob pretexto ecumênico. As
iniciativas da espécie merecem o devido cuidado e um profundo senso doutrinário
quanto aos assuntos que deverão ser abordados nessas programações, desde que em
evento de pluralismo-ideológico, em espaço público.
O frequentador da Casa Espírita a procura na ânsia
de conhecer a Doutrina Espírita. Parte das instituições espíritas ainda
não atende essa necessidade plenamente em decorrência de carências múltiplas,
inclusive programação doutrinária de profundidade.
Casas Espíritas sem o amadurecimento
doutrinário adequado podem encampar essa idéia e aprofundar cada vez mais o
processo de descaracterização do Espiritismo,
já bem delineado no movimento espírita brasileiro. Poderá levar à confusão o
neófito bem como aqueles que não adquiriram ainda consciência doutrinária
segura.
A lenda mitológica grega passou para o Movimento Espírita
em forma de realidade.
O “cavalo troiano” ressurge com diversos adereços trazendo em seu
ventre intenções de desfigurar mais ainda o espírito original da Codificação Kardequiana..
A falta de identidade do movimento
espírita é notória. A discrepância de iniciativas que se observa no contexto
doutrinário-espírita necessita de permanente vigilância para que não nos
tornemos vulneráveis a essas investidas. Todo cuidado é pouco.
Não tenho a menor dúvida que essas
iniciativas são movidas pelas melhores intenções, no entanto, não se pode de
forma nenhuma deixar que isso se torne atividade habitual sob a justificativa
de que se está fazendo ecumenismo.
Ecumenismo são todas as atividades de
iniciativas do Vaticano ordenadas a promover a unidade dos “cristãos”, conforme Concílio Vaticano II, decreto sobre o
Ecumenismo, 4. Para o Vaticano, Budismo, Hinduísmo, Islamismo e o Espiritismo,
dentre outras, não são reconhecidas como “cristãs”.
Portanto, a relação que admite estabelecer com as crenças ditas “não
cristãs” denomina-se diálogo inter-religioso. Com o tempo
o conceito de ecumenismo assumiu outra dimensão, embora o direcionamento original
continue o mesmo.
Os sentimentos de fraternidade e
respeito regem nossas relações com os adeptos de outras crenças. Esses
sentimentos, contudo, não devem obscurecer as diferenças conceituais e
ideológicas da Doutrina Espírita em relação aos demais credos.
O ecumenismo é uma iniciativa
católica como proposta de unidade entre as igrejas que o Vaticano considera “cristãs”;
repito. Diametralmente oposto, nós espíritas somos permanentemente
convocados a trabalhar pela unidade de princípios – Unificação - no contexto do movimento espírita, estruturados por
Allan Kardec no Projeto 1868, inserido em Obras
Póstumas. Portanto, é impossível conciliar processos tão distintos,
pragmáticos como ideologicamente.
Allan Kardec, em A Gênese, promove elucidações oportunas
a respeito de como surgirá o movimento que fundará a promessa do Mestre, citada
pelo Evangelista João. Ele deixa bem claro que as iniciativas que levarão a
esse resultado não nascerão em campo dito
oficial, mas sim em iniciativas
individuais. Propósito bem distinto do elaborado pelo Vaticano.
Diante disso, fica evidente que o
propósito do Cristo será alcançado pelo respeito individual à crença alheia,
emoldurado por emoções elevadas pela fraternidade.
A ação do Espiritismo nesse processo
é ativa e coerente com a Promessa de Jesus, não só pela sua essência, mas pela
própria natureza: as leis naturais.
Na questão 789 de “O Livro dos Espíritos” os Benfeitores
Espirituais assim respondem a Kardec quanto ao Espiritismo tornar-se crença comum:
“Certamente
se tornará crença geral e marcará nova era na história da humanidade, porque
está na natureza e chegou o tempo que ocupará lugar entre os conhecimentos
humanos. Terá, no entanto, que sustentar grandes lutas, (...)”.
Percebe-se
o quanto é importante o papel da Casa Espírita na difusão das idéias e dos
princípios do Espiritismo e a
necessidade que esse esforço seja realizado em conjunto visando alcançar
melhores resultados, fortalecendo todos para a superação dessas dificuldades
citadas pelos Espíritos. Esses propósitos estão definidos nos ideais de União e Unificação coordenados pelo Espírito Bezerra de Menezes.
"O Espiritismo é uma Doutrina que se basta a
si mesma, sem empréstimos e acréscimos adicionais”, advertia-nos o
saudoso, jornalista, escritor e conferencista espírita Deolindo Amorim
(1906-1984).
Tomemos tento!
(*) Personal Coach, expositor espírita, livre-pensador e voluntário no Instituto de Cultura Espírita do Ceará - ICE.
Devemos levar esses estudos criteriosamente à sério! Muito Obrigado!!!
ResponderExcluirMuito bem Jorge Luis!
ResponderExcluirTomemos tento, posto que, como disse Leon Denis na obra NO INVISÍVEL: "O Espiritismo será o que dele fizerem os homens."
ExcluirMuito bacana Jorge.
ResponderExcluirMuito bacana Jorge.
ResponderExcluirOlá, gente!
ResponderExcluirGratíssimo pelas palavras. Tomemos tento!
Fraternal abraço!
Olá JOrge, forte abraço. Tema excelente que você abordou. Além de oportuno, bastante elucidativo. O Ecumenismo jamis foi definido com propriedade nem aesclarcido seu verdadeiro objetivo. Para mim, o importante é o respeito ao "ponto de vista", conforme esclarece no "Evangelho Segundo o Espiritismo".às crenças de cada um que as concebe segundo sua evolução espiritual. Fraternidade sim,mas unificar filosofias conflitantes é malhar em ferro frio.
ResponderExcluirCaríssimo amigo PauLo Vale,
ExcluirGrato pelas palavras de estímulo. Concordo com você. Por trás do propósito ecumênico, outros interesses pairam.
Caminhemos!
Excelente artigo,
ResponderExcluirAcho importante que estudemos o conteúdo doutrinário de outras religiões,para compreendermos suas semelhanças e dissonâncias com o Espiritismo. No entanto que isso seja feito com pessoas que já conhecem a Doutrina, que já passaram por estudos na casa espírita (EPE, ESDE, GED etc)que estão aptas a compreender sem distorcer. Para que está chegando na Casa Espírita, principalmente nas reuniões públicas, o correto mesmo é trabalhar com a explicação da doutrina, o evangelho segundo o Espiritismo, pois muito mais que por curiosidade, as pessoas procuram a casa espírita em busca de consolo e auxílio.
Alex Saraiva - Crateús (CE)