Por Gilberto Veras (*)
O Espiritismo é uma doutrina pouco
compreendida, tanto pela sociedade em geral, como pelo próprio movimento
espírita, e, no meu entender, a falha está localizada no modo como é
apresentado às pessoas, isto é, em sua divulgação, principalmente a oral, tudo
por conta da dificuldade de entender a definição de espírita. Explico.
O que é ser espírita.
O
espírita é aquele que desenvolve suas virtudes divinais no relacionamento com o
próximo, exercita o bem com perseverança e amor no coração, e, dessa maneira,
combate o mal externo e nele próprio (o mal é desmanchado na presença do bem),
essa definição corrobora com palavras do codificador da doutrina filosófica, de
aspecto moral e revelada com a luz da lógica e racionalidade: reconhece-se o
verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para
dominar suas más inclinações. Depreende-se, então, que o distintivo de espírita
é validado pela conduta moral, no comportamento íntegro, fraterno e respeitoso,
amparado pelo sentimento incondicional de amor, independente de culturas
religiosas. E vem a pergunta proposital: se assim é, poderemos encontrar o
verdadeiro espírita fora do movimento espírita e até mesmo em seitas outras,
religiosas ou não? Do espírita no
sentido básico, sim, do verdadeiro espírita, talvez, porque esta qualificação
presume o conhecimento e convencimento do conteúdo completo da doutrina. Não
são poucos os exemplos de almas que não atuam (ou não atuaram) no movimento
espírita e detém (ou detiveram) a qualidade moral indispensável no espírita. É
lícito e justo reconhecer que o Espírito avança ao desenvolver virtudes que são
comuns a toda criatura, e não são religiões que acionam esses talentos e sim
cada filho do Pai Amoroso, ao decidir pela força da vontade despertada por
auxílios superiores.
Porque o espiritismo marcha a passos muito
lentos.
Os
veículos que divulgam o Espiritismo são o movimento espírita, a literatura e o lidador
pela causa. Naturalmente os três meios de divulgação não podem prescindir do
verdadeiro espírita, e aí está a grande dificuldade, a lentidão na caminhada
que foi revelada ao homem para facilitá-lo no aprimoramento de suas faculdades
divinamente potencializadas, o Espiritismo é o cristianismo redivivo que no
tempo certo e em circunstâncias ideais foi disponibilizado ao homem, como
prometido pelo Cristo há dois milênios, não privilegia ninguém e está ao
alcance de todos, é uma conduta alinhada às leis divinas e, com sabedoria,
respeita o princípio do livre-arbítrio (que é direito sagrado), não faz
proselitismo, defende a igualdade de origem e destino da criatura humana, que,
em experiências milenares, no processo de aperfeiçoamento moral e intelectual, ao
final da jornada, encontra a Felicidade, no reino dos céus. Essa doutrina não
se elege detentora exclusiva do direito da verdade, pois sabe que a verdade é
estrela suprema que irradia luz por todo o universo, informando às criaturas a
trajetória infinda a percorrer, em etapas sabiamente articuladas e que
requerem, com motivação confortável, o exercício do bem. Esses princípios
essenciais podem ser empregados por quaisquer pessoas, sejam quais forem credo
e lugar em que estejam inseridas.
Essa
conscientização é necessária no respaldo da divulgação do Espiritismo. Não é
racional o confrade espírita, divulgador da doutrina, queimar a fase inicial
que caracteriza o verdadeiro espírita, porque se assim fizer perde
credibilidade, a ressonância da mensagem fica prejudicada e a distorção da
doutrina favorecida. Somos seres gregários, interagimos na sociedade, em todas
as áreas, não é possível esconder nossas atitudes, são elas facilmente
detectadas e avaliadas pelo outro. A fala bonita, oratória fluente, argumentos
convincentes, impressionantes mesmo, perde toda validade quando descoberta é a
hipocrisia do divulgador, que diz, mas não faz. Claro, não questiono a
necessidade de conhecimento espírita na função admirável do expositor, mas não
podemos desprezar a fundação basilar senão a obra desmorona, cedo ou tarde.
Qual a sustentação de ensinos que não são praticados pelo mestre?... (o exemplo
arrasta multidões, porém quando de má índole afasta pessoas de boas intenções).
A advertência se aplica a todas as formas de divulgação do Espiritismo, nenhuma
delas deve estar desprovida das qualidades do espírita verdadeiro, tanto as
coletivas (palestras e literatura) como as individuais (mostradas na vivência
digna e fraterna ao interagir com o próximo, estas detém forte poder de
atração).
Concluo com sugestão para legitimar a
informação à sociedade acerca do Espiritismo de modo que a doutrina exerça seu
desiderato de melhoramento da humanidade: o movimento espírita, em primeiro passo,
deve ser estruturado para sensibilizar seus adeptos à transformação em homens e
mulheres de bem, valendo-se do evangelho do Mestre Maior, depois, ou
paralelamente (se possível), instruí-los com demais conteúdos da codificação
kardeciana, assim preparados lançá-los como divulgadores confiáveis, isentos de
quaisquer suspeitas. Essa a ordem natural e racional que deveria ser adotada, na
minha percepção, por aqueles que se dizem preocupados com o destino do
Espiritismo e com seus detratores. A medida evitaria, também, desavenças e
disputas descabidas, muito comuns entre trabalhadores das casas espíritas, ainda
minimizaria efeitos nocivos de administrações insensíveis e arrogantes, não
menos raras na seara espírita.
Abraço
fraternal do irmão que luta a cada dia pela transformação moral (honra o
livre-arbítrio - dádiva divina, busca a prática do bem e protege-se do mal),
pois convencido está de que este é o caminho das pedras.
(*) poeta, escritor e voluntário do Instituto de Cultura Espírita do Ceará - ICE.
(*) poeta, escritor e voluntário do Instituto de Cultura Espírita do Ceará - ICE.
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