Por Francisco Cajazeiras (**)
A sociedade em que vivemos
fomenta, a cada instante e em todo lugar, a competitividade e a rivalidade
interpessoais e intergrupais com finalidades seletivas. Assim acontece na
escola, no trabalho, no esporte, no lazer... e, até mesmo, na Casa Espírita –
menos por orientação doutrinária e mais pela força dos hábitos e costumes
arraigados em nosso íntimo e ainda hoje vigentes.
O esforço para melhor
realizar e o anelo de mais produzir não são necessariamente um mal nem deveriam
originar as emulações e os antagonismos. Não obstante, assim o fazem a expensas
das sombras do egoísmo e do personalismo, como também da desenfreada busca pelo
prazer mundano. Competir, em verdade, deve constituir-se em mecanismo
favorecedor do aperfeiçoamento e do crescimento anímicos, nas fronteiras
individuais e comunitárias, pela viabilização dos potenciais de conjunto,
através da força do exemplo dos pioneiros e pelo encorajamento da precedência.
A Lei do Progresso age
inexoravelmente, acordada à vontade divina, tornando compulsória a trajetória
ascendente do Espírito.
Está no âmago de cada
indivíduo a força motriz que o anima, destacando-lhe a necessidade impreterível
do desenvolvimento espiritual. Cada criatura, no entanto, além da força
intrínseca que a impele sempre e perenemente
ao progresso, encontra nas necessidades da vida corpórea e nas realizações de
seus pares o de que carece para a promoção do impulso essencial ao encontro do
melhor, da perfeição, de Deus.
A incompreensão de que o
mundo é escola pública a todos oferecida como dispositivo de burilamento e
educação; dos princípios morais que devem nortear as relações humanas no
sentido de garantir paz e equilíbrio coletivos; e de que a suplantação da marca
atingida pelo vizinho deve ter gênese unicamente no estímulo às aspirações
ascensionais do Espírito; essa incompreensão é que transforma as relações
humanas em tumultos, as competições em guerrilhas e os companheiros de jornada
terrena em adversários.
Não deve ser simplesmente a
superação do feito alheio a meta de cada um, mas a própria melhoria pelo
esforço nobre como prova de continuado progresso e de que ninguém é detentor da
última palavra sobre o que for e em tempo algum. A tentativa de superação pode
deturpar a diretriz a seguir, pela tendência egoica de se rebaixar a
personalidade de outrem, desvalorizando-lhe a ação. A autopromoção deve
invariavelmente traduzir-se em agradecimento pelo limite imposto e que
proporciona probabilidade evolutiva.
A vitória, pois, de outrem,
antes de ser encarada como desconsolo, deve, ao contrário, ser vista com
júbilo, por fazer-nos entender nosso perfil
de vencedor, haja vista a nossa condição de Espíritos e irmãos.
Quando o espectro sombrio da
inveja obsidia nosso íntimo, isto faz de nós perdedores ou, no mínimo,
inconformados com os limites momentâneos do agora.
Competir, no molde espírita,
deve ser atitude destituída de ciúme e de despeito, consciente de que é sempre
factível obrar o melhor e, ainda, que é somando e associando as realizações no
Bem que contribuiremos com a nossa (mesmo ínfima) parcela para reformar o
mundo, a Humanidade e as relações entre os seus membros.
(*) Artigo publicado na revista Reformador, nº 1998, de setembro de 1995
(**) Médico, professor universitário, escritor espírita, Pres. do Inst. de Cultura Espírita do Ceará e da Associação Médico-Espírita do Ceará.
Recebido! Vou apreciar depois!!!
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