quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A PRECE ESPÍRITA



“Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós”
(Gilberto Gil)





            Divaldo Franco, médium e orador espírita baiano, festejado não só no Brasil como em outros países que visita, afirmou em certa ocasião que “os espíritas transformaram a prece em ritual.” A afirmativa soou como heresia. O Espiritismo não tem ritual. Como então a prece poderia ser um ritual?
            Vamos à definição de ritual, segundo o dicionário Larousse: “conjunto de práticas consagradas pelo uso, ou ditadas por normas, que se deve observar sem alteração em ocasiões determinadas;”
            É óbvio que a prece não é um ritual, pois a sua finalidade é elevar a alma a Deus, como afirma Allan Kardec. Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Kardec dedica o capítulo XXVII ao estudo da prece em todas as suas dimensões. No capítulo seguinte, como sugestão, ele oferece coletânea de preces ditadas pelos Espíritos em várias ocasiões.

               Digno de nota, no entanto, é que para reuniões doutrinárias ele é específico e apenas sugere para as reuniões fechadas não havendo sugestão às reuniões públicas.
        Allan Kardec, sobre o uso de práticas exteriores e cultos nos grupos, elabora comentários inseridos na obra “Viagem Espírita 1862”, cap. XI, a respeito das frequentes indagações da utilidade de iniciar as sessões com preces e atos exteriores de culto religioso. Ele responde asseverando que a resposta não é apenas dele, mas também dos Espíritos que trataram desse assunto. Nos seus comentários ele fala da utilidade sim, observando-se o sentimento de religiosidade, restrito ao sentido de respeito e recolhimento. Alerta, no entanto, que o Espiritismo se dirige a todos os cultos, e não recomenda a adoção de certas formalidades.
            Ele é enfático quando diz: “(...) aconselhamos a abstenção de qualquer prece litúrgica, sem exceção mesmo da Oração Dominical por mais bela que seja. Como, para fazer parte de um grupo espírita, não se exige que ninguém abjure sua religião, permita-se que cada um faça a seu bel prazer e mentalmente, a prece que julgar a propósito, O importante é que não haja nada de ostensivo e, sobretudo, nada de oficial.(...).” Recomendo a leitura de todo o capítulo, pelo menos.
            Interessante ressaltar que o tradutor, Wallace Leal. V. Rodrigues fez uma observação no rodapé do capítulo que, no Congresso Internacional de Espiritismo, realizado em Copenhague em 1921, os representantes do Oriente reclamaram as frequentes menções ao Cristo, relegando ao esquecimento figuras de seus lideres religiosos, tais como Buda, Maomé, etc.
            Em a Revista Espírita, de dezembro de 1868, ao responder se o “Espiritismo é uma Religião”, ele recomenda o seguinte: “As reuniões espíritas podem, pois, ser feitas religiosamente, isto é, com o recolhimento e respeito que comporta a natureza grave dos assuntos de que se ocupa; pode-se mesmo, na ocasião, aí fazer preces que, em vez de serem ditas em particular, são ditas em comum, sem que, por isto, sejam tomadas por assembleias religiosas.”
            É fácil de perceber qual o pensamento de Allan Kardec a respeito da prece. Ele é sobejamente didático. A não considerar as orientações de Kardec, como é cultural no movimento espírita brasileiro, erra-se pela ignorância.
            Por ainda sabermos pouco sobre a prece, massificamo-la; tudo que se massifica perde em substância. A sua repetição, formalidade e mecanicidade fundamentaram os comentários de Divaldo Franco.
              No preâmbulo do capítulo XXXVII de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Kardec assinala que: “Os Espíritos sempre disseram: A forma não é nada, o pensamento é tudo. Faça cada qual a sua prece de acordo com as suas convicções e da maneira que mais lhe agrade, pois um bom pensamento vale mais do que numerosas palavras que não tocam o coração.”
                 Pensemos nisso!
                       
           
                                   

3 comentários:

  1. Tema forte. \o/
    O papel da prece nos Centros espíritas brasileiros, da forma como é utilizado até que não chega a ser tão grave, levando-se em consideração que no Brasil os cristão são maioria 86,8%,segundo dados do IBGE.

    Ou seja, a probabilidade de se ofender alguém na "platéia" durante uma prece é baixa, o que poderia não acontecer no oriente. rs

    Como conheci o espiritismo com preces antes e depois dos trabalhos espíritas, nem consigo conceber um só serviço sem a mesma.

    Pegando o conceito de ritual “conjunto de práticas consagradas pelo uso, OU ditadas por normas, que se deve observar sem alteração em ocasiões determinadas;”, entendo que a prece se consagrou no movimento espírita pelo uso, pois não há norma que prevê o uso obrigatório dela. A ocasião determinada seria os inícios e terminos de trabalhos.

    Contando que a prece não seja usada para inibir ou criticar outrem, para mim tudo bem, sem grandes males.

    Abraços,
    Fernanda Leal

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    1. Ah, parabéns, Jorge, pelos novos efeitos no site.
      Fiz um boneco de neve enquanto opinava no blog!

      Continue incrementando esse canteiro! =)

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    2. Olá, Fernanda!
      Muito oportuno seus comentários. A gênese está exatamente na contextura cultural-religiosa em que se desenvolveu a Doutrina Espírita.

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