quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A RELIGIÃO ESPÍRITA






Por Francisco Castro(*)


Esclarecemos desde logo que, para nós, sobre essa questão, o pensamento de Allan Kardec é o ponto de partida e a meta a ser alcançada.
Na conclusão de “O Livro dos Espíritos”, item VII, Kardec afirma: “O espiritismo se apresenta sob três aspectos diferentes: o das manifestações, o dos princípios e da filosofia que delas decorrem e o da aplicação desses princípios. Daí três classes, ou três graus de adeptos: 1º os que crêem nas manifestações e se limitam a comprová-las, para esses, o espiritismo é uma ciência experimental; 2º os que lhe percebem as conseqüências morais; 3º os que praticam ou se esforçam por praticar essa moral”.
Essa afirmação do Codificador, por se encontrar na conclusão de “O Livro dos Espíritos”, poucos dela têm conhecimento. É possível que derive daí a expressão tríplice aspecto da Doutrina: Ciência-Filosofia-Religião, o fato é que essa tríade já conta mais de um século de uso.
Originada no fim do Séc. XIX essa expressão tem o grande mérito de ter criado a base sobre a qual se tornou possível erigir-se o edifício da Unificação do Movimento Espírita no Brasil.
Um fato importante, digno de registro, é que, ao longo do século XX, a inclusão do aspecto religioso em substituição ao termo Moral, utilizado por Kardec, foi recebendo o aval tanto dos espíritas quanto dos espíritos.

Podemos citar, entre os espíritas, a figura de Vianna de Carvalho, nos idos de 1919, quando afirma – “É o Espiritismo a religião de todas as ciências; é a ciência de todas as filosofias; é a filosofia de todas as religiões, porque só o espiritismo pode ajudar a ciência a sair do labirinto em que se encontra por causa do materialismo” (Klein Filho, Luciano – Vianna de Carvalho - O tribuno de Icó, - 1ª edição, pág. 119).
Citemos, também, o inolvidável Prof. Herculano Pires em sua obra O Centro Espírita, cuja 1ª edição veio a lume em 1979, no Cap. IX, quando diz –“(...) o Espiritismo é a Ciência do Espírito e de suas relações com os homens; dessa Ciência resulta uma Filosofia e dessa Filosofia as conseqüências religiosas do Espiritismo, que constituem a Religião Espírita”.
Mais adiante Herculano Pires, após citar as pesquisas de Henry Bergson, arremata: “A Religião Espírita apareceu então, no quadro das pesquisas, como o modelo ideal das RELIGIÕES DO FUTURO” (grifamos). Ressalta-se que Herculano Pires, nessa obra, repete várias vezes a expressão “Religião Espírita”.
Dentre os espíritos podemos tomar como exemplo Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, no livro O consolador, cuja 1ª edição data de 1940, respondendo à pergunta sobre qual dos três aspectos da doutrina é o maior: Ciência, Filosofia ou Religião? Respondendo, aquele benfeitor espiritual ilustra a sua opinião, tomando para simbolizar o tríplice aspecto da Doutrina Espírita, a figura de um “triângulo de forças espirituais”.
Mesmo sem o espírito Emmanuel ter explicitado, temos o entendimento de que a forma triangular mais adequada à idéia por ele exposta, é a de um triângulo eqüilátero, em que há a igualdade dos lados e a igualdade dos ângulos, posto que, na Doutrina, não há prevalência de nenhum aspecto sobre os demais.
Vianna de Carvalho, espírito, em mensagem sob o título “Religião Espírita”, psicografada no dia 11.09.1980 por Divaldo Franco em Milão, Itália, inserta no livro Roteiro de Libertação, tem opinião semelhante à que expressara, quando encarnado, ao afirmar: “O Espiritismo é religião, por força dos seus pontos bases terem a mesma estrutura filosófica que se encontram presente em todas as religiões, estando, porém, acima das formas e fórmulas ancestrais, por firmar-se nos fatos que comprovam a imortalidade do ser espiritual, a anterioridade da alma ao corpo, a legitimidade da divina justiça e os seus postulados morais, hauridos no evangelho, constituírem a sua ética de comportamento salutar, guiando o homem com segurança, aprimorando-o e apaziguando-o”.
Retornando ao pensamento do Codificador, vamos encontrar na Revista Espírita – Ano XI, vol. 12 – Dezembro de 1868, portanto, meses antes do seu desencarne, Allan Kardec explica: “Uma religião, em sua acepção nata e verdadeira, é um laço que religa os homens numa comunidade de sentimentos, de princípios, de crenças”. “(...) Se assim é, perguntarão, então o Espiritismo é uma Religião? Ora, sim, sem dúvida, senhores. No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos glorificamos por isso, porque é a doutrina que funda os elos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as mesmas leis da natureza”.
Como afirma Léon Denis no livro “Depois da Morte”: Kardec, como escritor, era de uma “clareza perfeita e de uma lógica rigorosa”, portanto, nada mais natural que procurasse deixar bem claro, que o termo religião, por ele empregado, diferia de outras acepções comumente aceitas, por isso o Codificador complementa: “(...) na acepção geral, a palavra religião é inseparável da de culto, desperta exclusivamente uma idéia de forma, que o Espiritismo não tem”.
Dessa forma podemos concluir, com absoluta fidelidade ao pensamento de Allan Kardec, que o Espiritismo é, sim, uma RELIGIÃO, no sentido verdadeiro do termo, e não no sentido vulgar, comumente empregado, que todos nós conhecemos.
Cabe aos espíritas conscientes, a permanente vigilância no sentido de não permitir qualquer enxertia na prática doutrinária, trazidas por pessoas que aportam nas casas espíritas oriundas de outras religiões, e evitar que o Espiritismo perca o seu caráter original, de VERDADEIRA RELIGIÃO, sem dogmas, sem símbolos, sem liturgia, sem sacerdócio organizado, fundada na fraternidade e na comunhão de pensamentos, firmemente assentada nas leis da natureza, como nos disse o Codificador da Doutrina, ALLAN KARDEC.

(*) integrante da equipe do programa Antena Espírita e voluntário do Grão de Mostarda.

4 comentários:

  1. Olha só que maravilha de texto! O Castro, como sempre, muito fiel ao pensamento do codificador! Parabéns por mais esta luz de esclarecimentos!

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  2. Ótimo, esse texto. Imagine que estava lendo exatamente sobre isso e faltou mais algumas coisas. Quando abrí o blog... olha só o que encontro. A resposta para as outras questões! Muito Obrigado!!!

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  3. Uma vez me perguntaram se o Esíritsmo era uma Igreja. Depois de pensar nas palavras de Léon Denis, respondi-lhe que, na verdade, era uma escola e um hospital da alma. Igreja denota o sentido vulgar do que as pessoas entendem por religião. Por isso, ao proclamarmos o Espíritismo como religião, precisamos estar preparados para esclarecer as pessoas de que o sentido que empregamos não é o formal e vulgar, mas o sentido filosófico do "re-ligare". Parabéns pela discussão.

    Alex Saraiva
    Crateús/CE

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    1. Olá, Alex!
      Sempre bem vinda a sua presença.
      Na realidade, poucas Casas procuram fazer a distinção; explicar o sentido da religião espírita.
      Abc

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