Por Francisco Castro(*)
Esclarecemos desde logo que, para nós,
sobre essa questão, o pensamento de Allan Kardec é o ponto de partida e a meta
a ser alcançada.
Na conclusão de “O Livro dos
Espíritos”, item VII, Kardec afirma: “O espiritismo se apresenta sob três
aspectos diferentes: o das manifestações, o dos princípios e da filosofia que
delas decorrem e o da aplicação desses princípios. Daí três classes, ou três
graus de adeptos: 1º os que crêem nas manifestações e se limitam a
comprová-las, para esses, o espiritismo é uma ciência experimental; 2º os que
lhe percebem as conseqüências morais; 3º os que praticam ou se esforçam por
praticar essa moral”.
Essa afirmação do Codificador, por se
encontrar na conclusão de “O Livro dos Espíritos”, poucos dela têm conhecimento.
É possível que derive daí a expressão tríplice aspecto da Doutrina:
Ciência-Filosofia-Religião, o fato é que essa tríade já conta mais de um século
de uso.
Originada no fim do Séc. XIX essa
expressão tem o grande mérito de ter criado a base sobre a qual se tornou
possível erigir-se o edifício da Unificação do Movimento Espírita no Brasil.
Um fato importante, digno de registro,
é que, ao longo do século XX, a inclusão do aspecto religioso em substituição
ao termo Moral, utilizado por Kardec, foi recebendo o aval tanto dos espíritas
quanto dos espíritos.
Podemos citar, entre os espíritas, a
figura de Vianna de Carvalho, nos idos de 1919, quando afirma – “É o
Espiritismo a religião de todas as ciências; é a ciência de todas as
filosofias; é a filosofia de todas as religiões, porque só o espiritismo pode
ajudar a ciência a sair do labirinto em que se encontra por causa do
materialismo” (Klein Filho, Luciano – Vianna de Carvalho - O tribuno de
Icó, - 1ª edição, pág. 119).
Citemos, também, o inolvidável Prof.
Herculano Pires em sua obra O Centro Espírita, cuja 1ª edição veio a lume em
1979, no Cap. IX, quando diz –“(...) o Espiritismo é a Ciência do Espírito e
de suas relações com os homens; dessa Ciência resulta uma Filosofia e dessa
Filosofia as conseqüências religiosas do Espiritismo, que constituem a Religião
Espírita”.
Mais adiante Herculano Pires, após
citar as pesquisas de Henry Bergson, arremata: “A Religião Espírita apareceu
então, no quadro das pesquisas, como o modelo ideal das RELIGIÕES DO FUTURO”
(grifamos). Ressalta-se que Herculano Pires, nessa obra, repete várias vezes a
expressão “Religião Espírita”.
Dentre os espíritos podemos tomar como
exemplo Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, no livro O consolador, cuja
1ª edição data de 1940, respondendo à pergunta sobre qual dos três aspectos da
doutrina é o maior: Ciência, Filosofia ou Religião? Respondendo, aquele
benfeitor espiritual ilustra a sua opinião, tomando para simbolizar o tríplice
aspecto da Doutrina Espírita, a figura de um “triângulo de forças
espirituais”.
Mesmo sem o espírito Emmanuel ter
explicitado, temos o entendimento de que a forma triangular mais adequada à
idéia por ele exposta, é a de um triângulo eqüilátero, em que há a igualdade
dos lados e a igualdade dos ângulos, posto que, na Doutrina, não há prevalência
de nenhum aspecto sobre os demais.
Vianna de Carvalho, espírito, em
mensagem sob o título “Religião Espírita”, psicografada no dia 11.09.1980 por
Divaldo Franco em Milão, Itália, inserta no livro Roteiro de Libertação, tem
opinião semelhante à que expressara, quando encarnado, ao afirmar: “O
Espiritismo é religião, por força dos seus pontos bases terem a mesma estrutura
filosófica que se encontram presente em todas as religiões, estando, porém,
acima das formas e fórmulas ancestrais, por firmar-se nos fatos que comprovam a
imortalidade do ser espiritual, a anterioridade da alma ao corpo, a
legitimidade da divina justiça e os seus postulados morais, hauridos no
evangelho, constituírem a sua ética de comportamento salutar, guiando o homem
com segurança, aprimorando-o e apaziguando-o”.
Retornando ao pensamento do
Codificador, vamos encontrar na Revista Espírita – Ano XI, vol. 12 – Dezembro
de 1868, portanto, meses antes do seu desencarne, Allan Kardec explica: “Uma
religião, em sua acepção nata e verdadeira, é um laço que religa os homens numa
comunidade de sentimentos, de princípios, de crenças”. “(...) Se assim é,
perguntarão, então o Espiritismo é uma Religião? Ora, sim, sem dúvida,
senhores. No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos
glorificamos por isso, porque é a doutrina que funda os elos da fraternidade e
da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases
mais sólidas: as mesmas leis da natureza”.
Como afirma Léon Denis no livro
“Depois da Morte”: Kardec, como escritor, era de uma “clareza perfeita e de
uma lógica rigorosa”, portanto, nada mais natural que procurasse deixar bem
claro, que o termo religião, por ele empregado, diferia de outras acepções
comumente aceitas, por isso o Codificador complementa: “(...) na acepção
geral, a palavra religião é inseparável da de culto, desperta exclusivamente
uma idéia de forma, que o Espiritismo não tem”.
Dessa forma podemos concluir, com
absoluta fidelidade ao pensamento de Allan Kardec, que o Espiritismo é, sim,
uma RELIGIÃO, no sentido verdadeiro do termo, e não no sentido vulgar,
comumente empregado, que todos nós conhecemos.
Cabe aos espíritas conscientes, a
permanente vigilância no sentido de não permitir qualquer enxertia na prática
doutrinária, trazidas por pessoas que aportam nas casas espíritas oriundas de
outras religiões, e evitar que o Espiritismo perca o seu caráter original, de
VERDADEIRA RELIGIÃO, sem dogmas, sem símbolos, sem liturgia, sem sacerdócio organizado,
fundada na fraternidade e na comunhão de pensamentos, firmemente assentada nas
leis da natureza, como nos disse o Codificador da Doutrina, ALLAN KARDEC.
(*) integrante da equipe do programa Antena Espírita e voluntário do Grão de Mostarda.
Olha só que maravilha de texto! O Castro, como sempre, muito fiel ao pensamento do codificador! Parabéns por mais esta luz de esclarecimentos!
ResponderExcluirÓtimo, esse texto. Imagine que estava lendo exatamente sobre isso e faltou mais algumas coisas. Quando abrí o blog... olha só o que encontro. A resposta para as outras questões! Muito Obrigado!!!
ResponderExcluirUma vez me perguntaram se o Esíritsmo era uma Igreja. Depois de pensar nas palavras de Léon Denis, respondi-lhe que, na verdade, era uma escola e um hospital da alma. Igreja denota o sentido vulgar do que as pessoas entendem por religião. Por isso, ao proclamarmos o Espíritismo como religião, precisamos estar preparados para esclarecer as pessoas de que o sentido que empregamos não é o formal e vulgar, mas o sentido filosófico do "re-ligare". Parabéns pela discussão.
ResponderExcluirAlex Saraiva
Crateús/CE
Olá, Alex!
ExcluirSempre bem vinda a sua presença.
Na realidade, poucas Casas procuram fazer a distinção; explicar o sentido da religião espírita.
Abc