Por Roberto Caldas (*)
Platão (Atenas – 428
a 347 AC) numa de suas mais lidas obras, A República, transcreve um diálogo
socrático que passou para a história como A alegoria da Caverna. Nesse diálogo
o filósofo Sócrates (469 a 399 AC) conversa com Glauco a respeito da forma como
se pode ver o mundo a partir das posições adotadas em determinadas
circunstâncias. Ele fantasia uma caverna onde homens presos pelos pés e pela
cabeça se encontram de costas para a abertura da mesma e só podem ver o mundo
através das sombras projetadas em uma parede à frente criadas por uma fogueira
que se encontra às suas costas. Daí eles nada vêem ou sabem além do que aquelas
sombras projetam e a compreensão do mundo não passa senão das percepções que
têm daquelas imagens. Então, uma daquelas pessoas é solta e levada para
conhecer além das sombras projetadas, conhece o fogo que tinha às costas, vê as
pessoas que passavam e tinham as suas imagens projetadas, alcança a abertura da
caverna e entra em contato com o Sol. Depois de acostumar os seus olhos à luz
solar percebe que estava todo o tempo vivendo uma ilusão, aquela mesma que as
pessoas que continuavam presas permaneciam alimentando. Decide voltar para
relatar aos seus amigos as experiências fora da caverna. Depara-se então com
uma furiosa reação daqueles que, julgando-o um mentiroso tentam matá-lo,
escolhendo continuar agrilhoados na observação das imagens, às quais estavam
acostumados.
A alegoria socrática bem que poderia
ser adaptada ao ensinamento espírita. Vivemos uma existência preso aos cinco
sentidos do corpo, adaptados aos processos biológicos e sob a anestesia da
memória espiritual ampla, esquecidos da totalidade das nossas experiências
multimilenárias. Em função dessa perda de memória julgamos que a vida inicia no
nascimento e se esgota com a morte, depois da qual penetramos numa eternidade
que não oferece qualquer chance de progresso espiritual porque as posições a
serem ocupadas foram decididas naqueles poucos anos de existência terrestre.
Por essa razão temos imenso pavor de transpor a entrada da caverna, simbolizada
nesse caso pela morte do corpo, agarrando-nos à ilusão arraigada de conquista a
todo custo dos bens materiais, mesmo que isso justifique a perda dos valores
morais. Visitados pela mensagem da imortalidade, através dos arautos do mundo
espiritual, muitas vezes resolvemos atribuir-lhes o título de demônios ou mesmo
de alucinações, fechando-lhes a porta da compreensão, para continuarmos
mergulhados na confusão dos sentidos e nas discussões teológicas que confundem
propósitos espirituais com acordos de barganha com a divindade.
A Doutrina Espírita nos convida a
soltar-nos dos grilhões emocionais que nos prendem às teias da dúvida e às
prisões intelectuais que nos reduzem a meros repetidores de conceitos e textos
que escassamente compreendemos e apenas são aceitos pelo medo imposto pela
cultura de um Deus vingativo gerado nas cavernas do fanatismo religioso. Jesus
em João (X:10) nos diz “...eu vim para que
tenham vida, e a tenham com abundância”, da mesma forma o Espiritismo nos
convida ao exercício da compreensão da existência que temos na atual encarnação,
para que não nos percamos mais uma vez na preguiça mental que limita a nossa
percepção espiritual e retarda a nossa marcha na estrada que conduz à conquista
da felicidade.
(*) editorial do programa Antena Espírita de 24.02.2013.
(**) integrante da equipe do programa Antena Espírita e volunario do C.E. Grão de Mostarda.
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