Por Roberto Caldas(*)
Ousar no campo das mudanças impõe a conquista de uma
contínua capacidade de lidar com as dores obrigatórias ao propósito contido na
essência de uma transformação. A própria Natureza nos apresenta modelos de
mutações que servem de reflexão contínua a quem se atreva às exigências
inerentes ao processo de renovação: o trigo se deixa triturar para oferecer-nos
o pão, a uva encara o esmagamento antes que o mundo aprecie os mais finos
vinhos e a lagarta se anestesia na crisálida até ganhar as formas de beleza que
caracterizam a borboleta. Sem renunciar ao que se é, jamais se alcança o
intento de transmudar-se nos modelos idealizados.
A aquisição de uma nova perspectiva, em
especial no campo das práticas dos relacionamentos interpessoais, implica na
adoção de uma série de comportamentos que exigem dar as costas às antigas
práticas, com as quais estamos habituados, para que novas atitudes acarpetem a
nossa caminhada em direção ao que pretendemos. Sócrates, uma das maiores
referências em Filosofia, afirmava que “o próprio sábio cora das suas palavras,
quando elas surpreendem as suas ações” numa clara conotação de que palavra e
ação devem declarar uma mesma realidade quando escolhemos atingir um estado de
coerência diante das decisões de mudança que ambicionamos.
O ponto
de partida de toda nova empreitada se encontra exatamente no quilômetro zero
daquele caminho. Isso significa que a necessidade de mudança nos alcança quando
estamos parados nas experiências velhas, apesar de insatisfeitos, mas ainda sem
as virtudes que almejamos alcançar um dia para nos tornarmos diferentes. Se o
tornar-nos diferentes exige a conquista de tais virtudes e no começo não as
temos, o que fazer?
Quando
Jesus, segundo relato de Lucas (XXIII: 43), se dirige ao homem que se
encontrava ao seu lado durante a crucificação e lhe afirma “em verdade te digo
que hoje estarás comigo no paraíso”, sabendo de suas muitas infrações com a
sociedade da época e apenas em lhe reconhecendo o desejo de mudança, chamou a
nossa atenção para o fato de que a compreensão em torno dos erros praticados
inicia a busca aos novos horizontes antes obscurecidos pela cegueira da má
ação.
Allan
Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo (Cap. XVII, item 4), sabendo da
premente necessidade de mudança que aflora em todo aquele que inicia os estudos
do Espiritismo, adverte: Reconhece-se o verdadeiro espírita
pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas
inclinações más. Dessa
forma o Codificador nos traz valiosa contribuição para compreendermos que, longe
de querermos nos sentir isentos de erros e imperfeições, precisamos aguçar os
nossos sentidos para percebermos o quanto precisamos mudar no dia a dia, desde
agora, embora ainda nos saibamos sem as virtudes adequadas para a jornada,
apenas por termos percebido que mudar é preciso, apesar de não ser fácil.
Se for
possível afirmar que mudar dói, igualmente podemos dizer que sem passarmos pela
dor da transformação que liberta seremos sempre reféns da dor que escraviza, aquela
que sofremos quando nos julgamos acima de tudo e de todos.
¹ editorial do programa Antena Espírita de 24.11.2013.
(*) integrante da equipe do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
Meu caro Roberto,
ResponderExcluirSe nós espíritas refletíssemos nos claros ensinos que os Espíritos nos dão, especialmente aqueles contidos na Codificação, o Espiritismo estaria em outro patamar de aceitação por parte daqueles que anseiam pelo REINO DOS CÉUS!
Só para citar um exemplo bem conhecido nosso, vejamos o caso dos médiuns que rotineiramente conhecem os dramas daqueles que já se encontram no plano espiritual, e ainda assim nada fazem para realizar a tão sonhada reforma interior enquanto aqui nos encontramos na veste carnal. Parabéns pelo belo Editorial de Antena Espírita!