Por Jorge Hessen (**)
A Federação Espírita Brasileira (FEB) elegeu
no dia 21 de março de 2015 o novo presidente, trata-se do companheiro Jorge
Godinho Barreto Nery (foto), membro efetivo do Conselho Superior da instituição.
Jorge Godinho presidiu o Centro Espírita Léon
Denis, no Rio de Janeiro, na década de 1970. Profissionalmente, serviu por 48
anos à Força Aérea Brasileira (FAB), em que atingiu o posto de Tenente
Brigadeiro, atualmente na reserva.
O presidente eleito discorre sobre vários
assuntos, alguns deles claramente polêmicos (*), conforme entrevista publicada
na íntegra.
Jorge Hessen (“A luz na mente”) – Os princípios institucionalizados
(burocratizados) da Unificação inibem o ideário da “UNIÃO” espontânea entre os
espíritas?
Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - O ideário da União, como afirmado, é
espontâneo, ou seja, é opção da livre determinação do ser humano,
especificamente, dos espíritas. Desta forma, cada um de nós expressamos este
sentimento por opção, mas Jesus, nosso Mestre e Guia, convida aos que desejam
ser seus discípulos à prática desse ideário da UNIÃO, quando nos recomenda:
“Meus discípulos serão reconhecidos por muito se amarem.” Se auguramos ser
discípulos do Cristo, então, o ideário de “UNIÃO” será mantido em qualquer
circunstância.
Jorge Hessen (“A luz na mente”) - O modelo federativo é importante, porém boa
parte dos dirigentes de casas espíritas nem sempre valorizam as ações dos
órgãos de Unificação, atribuindo-lhes caráter meramente administrativo, burocrático,
com pouco sentido prático. Considerando a sua experiência doutrinária, quais as
ações que pretende desenvolver para aproximar a FEB das casas Espíritas?
Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) – Antes, ressalto que a organização
federativa não é só importante, é o programa ideal da Doutrina Espírita no
Brasil. É para a grande obra de unificação que a FEB envida todos os seus
esforços, objetivando a vitória de Ismael nos corações. Entretanto, respeitando
a livre determinação individual, procuraremos sempre atenuar o vigor das
dissensões esterilizadoras, para nos unirmos na tarefa impessoal e comum de
educar o pensamento do homem no Evangelho.
Jorge Hessen (“A luz na mente”) - O “Pacto Áureo” ainda pode ser avaliado como
o grande marco da Unificação?
Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - É o Pacto Áureo a expressão mais lúcida de
entendimento e concórdia entre os espíritas, que podem divergir nas discussões
das ideias, mas que não devem fazer da divergência motivo de discórdia,
intolerância e incompreensão. O Pacto Áureo veio compatibilizar a vivência da
Doutrina dentro do princípio da liberdade, sem jamais deixar de considerar o
amor fraterno, a união e a Unificação. Ele foi e será sempre o grande marco da
Unificação que consolidou os esforços iniciais de Bezerra de Menezes.
Jorge Hessen (“A luz na mente”) – O livro inspirador do “Pacto” -“Brasil
coração do mundo…” conseguirá “UNIR” o Movimento Espírita Brasileiro ?
Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) – O Livro “Brasil coração do mundo, pátria do
evangelho” veio esclarecer as origens remotas da formação da Pátria do
Evangelho com informações colhidas nas tradições do mundo espiritual e se
destina a explicar a missão do Brasil no mundo moderno. Dessa forma, quando
folheamos suas belas páginas e verificamos que o Brasil está destinado a suprir
as necessidades materiais dos povos mais pobres do planeta e a facultar ao
mundo inteiro uma expressão consoladora de crença e fé raciocinada fica a
dedução lógica de que essa tarefa não pode ser uma obra individual ou de
personalismos incabíveis, mas daqueles que se propõem a estarem unidos e
unificados no Evangelho do Senhor. (*)
Jorge Hessen (“A luz na mente”) – Quais os grandes desafios vistos para o
Movimento Espírita Brasileiro?
Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) – Consolidar a manutenção da União e da
fraternidade.
Jorge Hessen (“A luz na mente”) - Diante da clara divisão que existe no
Movimento Espírita, muitas vezes manifestada em posturas emocionalizadas e
radicais, como a FEB deve conduzir objetiva e publicamente o tema Roustaing?
Que iniciativas faltam para apaziguar ânimos?
Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) – Não devemos esquecer que no Capítulo 22 do
Livro “Brasil Coração do mundo pátria do evangelho”, o espírito Humberto de
Campos narra que Jesus destacou um dos Seus grandes discípulos, Allan Kardec,
para vir à Terra com a tarefa de organizar e compilar ensinamentos que seriam
revelados, oferecendo um método de observação a todos os estudiosos do tempo e
que o grande missionário, no seu maravilhoso esforço de síntese, contaria com a
cooperação de uma plêiade de auxiliares da sua obra, designados particularmente
para coadjuvá-lo, nas individualidades de João Batista Roustaing, que
organizaria o trabalho da fé; de Léon Denis, que efetuaria o desdobramento
filosófico; de Gabriel Delanne, que apresentaria a estrada científica e de
Camille Flammarion, que abriria a cortina dos mundos, desenhando as maravilhas
das paisagens celestes, cooperando assim na codificação kardeciana no Velho
Mundo e dilatando-a com os necessários complementos. (*)
Jorge Hessen (“A luz na mente”) - As obras de Roustaing permanecerão sendo
republicadas?
Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) – Sim. Jamais a FEB deixou de publicá-las,
desde a sua primeira edição. Não podemos olvidar que Allan Kardec, dentro da
lucidez e do espírito de grandeza que o caracterizam afirmou: proibir a leitura
de um livro é dar mostras de que o tememos. A Doutrina Espírita é, por
natureza, a doutrina da liberdade, da livre-escolha, nada impõe, nada proíbe. O
apóstolo Paulo já recomendava em seu tempo: lede tudo e retende o que for bom.
(*)
Jorge Hessen (“A luz na mente”) – Como a Casa-Máter do Espiritismo deve
enfrentar e proceder ante a proliferação de livros “doutrinários” de conteúdos
confusos, especialmente pela Internet ?
Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) – De acordo com o Evangelho. Respeitando, a
liberdade de pensar e de agir, já que cada um é responsável pelos seus atos e
pela sua administração.
Jorge Hessen (“A luz na mente”) - Considerando que sobre a FEB repousam muitas
esperanças, mas também expectativas, como atuará para se aproximar dos
espíritas carentes e pouco instruídos na educação formal, dado que representam
expressivo estrato da sociedade brasileira?
Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - Pelo trabalho exercido com humildade e
amor, na ação pacífica de educação das criaturas na prática genuína do bem e no
exercício da caridade como entendia Jesus, conforme expresso na questão nº 886
de O Livro dos Espíritos: “Benevolência para com todos, indulgência para as
imperfeições dos outros, perdão das ofensas”.
Jorge Hessen (“A luz na mente”) - A inclusão digital apresenta-se como meio
propício para que os conteúdos das obras básicas e obras complementares,
veiculados pela internet, a fim de que cheguem aos espíritas carentes com
evidentes benefícios. Como a FEB poderia auxiliar os Centros Espíritas de
periferia nessa questão?
Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - Disponibilizando o acesso a essas obras
pelas mais variadas mídias e meios de comunicação existentes e apoiando o
Movimento espírita nas ações de auxílio e apoio aos Centros Espíritas.
Jorge Hessen (“A luz na mente”) - Será que livros gratuitos na internet
gerariam impacto financeiro, em se tratando de uma prática comum atualmente?
Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) – É um tema a ser apreciado. Esta iniciativa
a FEB já tomou quando disponibiliza obras para download em seu portal.
Jorge Hessen (“A luz na mente”) – Será que os livros virtuais não dariam maior
visibilidade ao portal da FEB, ou seja, não tornaria o site uma robusta
ferramenta de divulgação da Nova Luz para o mundo?
Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) – Este é um assunto em estudo na FEB e que
merece atenção, porque vem ao encontro da sua finalidade: estudar, vivenciar e
divulgar a Doutrina Espírita. Para maiores esclarecimentos, a FEB já mantém um
catálogo de e-books de mais de 120 títulos, que será ampliado a cada semana,
com a disponibilização de outros títulos, como forma alternativa de
acessibilidade ao conteúdo espírita.
Jorge Hessen (“A luz na mente”) - Allan Kardec comenta no item 334, cap. XXIX,
d´O Livro dos Médiuns, que a formação do núcleo da grande família espírita um
dia consorciaria todas as opiniões e uniria os homens por um único sentimento:
o da fraternidade. Estaria aqui o Codificador formulando alguma programação
doutrinária visando à unidade dos espíritas por intermédio de instituições
colegiadas?
Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) – Entendo que o Codificador, nesse ponto,
traz o cunho da caridade cristã, ao alertar os espíritas desejosos de se
instruírem e vivenciarem os ensinos dos Espíritos a se unirem pelo sentimento
de fraternidade, formando um núcleo da grande família espírita pelos laços da caridade.
Jorge Hessen (“A luz na mente”) – Na condição de recém-eleito presidente da
FEB, considerando o desígnio da “UNIÃO”, e compreendendo que vários membros do
CFN tinham a esperança da reeleição do Antônio Cesar Perri, quais as
estratégias a serem adotados visando asserenar e aglutinar tais membros do CFN?
Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - Paciência e serenidade; humildade e amor;
sacrifício e devotamento; paz e resignação.
Jorge Hessen (“A luz na mente”) – A saída do ex-presidente da FEB comprometerá
a coordenação do projeto do CEI? Os novos dirigentes estão em sintonia com o
trabalho que o CEI vem realizando?
Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - As instituições permanecem com seus
objetivos e finalidades, as pessoas são transitórias e, portanto, os novos
dirigentes conscientes desta realidade procurarão a sintonia com o trabalho que
vem sendo desenvolvido.
Jorge Hessen (“A luz na mente”) – O irmão pretende partilhar com a comunidade
espírita, na forma de consultas, audiências ou outros canais de comunicação,
com o intuito de colher subsídios para tratar de matérias e temas importantes
para o Movimento Espírita, além, obviamente, dos canais e mecanismos formais já
existentes?
Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - Estaremos sempre abertos às contribuições
que tratem de temas importantes emanadas de todos aqueles que desejam traze-las
pessoalmente ou por intermédio dos meios disponíveis de comunicação.
Jorge Hessen (“A luz na mente”) - Como a FEB deve administrar as questões
filosóficas e científicas dos fenômenos metafísicos junto às academias e a
outras fontes de conhecimento da atualidade?
Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) - Não interferindo, nem cerceando a liberdade
de pensar e agir de quem quer que seja.
Jorge Hessen (“A luz na mente”) - Com o crescente surgimento dessas entidades
especializadas (Associação espírita de médicos, juízes, jornalistas, psicólogos
etc.) como deve se posicionar a FEB, considerando o aspecto restritivo e até
elitista dessas entidades? Aceitar e incentivar, acreditando que se trata de um
evento imprescindível?
Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) – Quanto a este aspecto a FEB tem posição
clara e definida em seu Estatuto ao contemplar dispositivo que abriga as
entidades especializadas de âmbito nacional no Conselho Federativo Nacional –
CFN, e, como decorrência do crescente aumento, aprovou, em 2014, a criação do
Conselho Nacional das Entidades Espíritas Especializadas da Federação Espírita
Brasileira – CNE-FEB, como órgão de apoio técnico ao Movimento Espírita
Brasileiro.
Jorge Hessen (“A luz na mente”) – Numa sociedade mercadológica/mercantil em
que eventos espíritas “grandiosos” e pagos em geral se apresentam em números
cada vez maiores, qual deve ser a atitude da FEB?
Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) – A de
prudência e respeito, sem conivência, mas orientada pelo Evangelho.
Jorge Hessen (“A luz na mente”) - Suas palavras finais.
Jorge Godinho (“Presidente da FEB”) – Agradeço
a oportunidade, desejando que estejamos sempre irmanados numa doce aliança de
fraternidade e paz inabaláveis sob o amparo de Ismael e de Jesus.
(*) Nota do entrevistador: a
posição do atual presidente da FEB no tocante à obra de Roustaing, s.m.j., não
é aprovada pela ampla maioria dos espíritas brasileiros que a conhece e sequer
é adotada pelo Conselho Federativo Nacional da FEB e pelo Conselho Nacional de
Entidades Especializadas da FEB.
¹entrevista realizada para publicação na revista Luz na Mente. www.aluznamente.com.br
(**) escritor e articulista espírita. Livros publicados: Lua na Mente e Praeiro, um peregrino nas terras do pantanal. Articulista da revista "O Reformador"
Oportuna a publicação da entrevista ao Presidente recém eleito para dirigir a FEB. Na questão sensível sobre os 4 evangelhos, a posição do entrevistado não poderia ser outra, posto que, se pensasse diferente, não poderia ser eleito pelo Conselho Diretor da FEB! A nossa Constituição tem suas cláusulas pétreas, o estatuto da FEB também, e essa é uma delas! Percebe-se que o Confrade eleito Presidente da FEB é um homem preparado, tanto doutrinária como Febianamente! Parabéns ao Canteiro pela publicação da entrevista!
ResponderExcluirFebianamente! Gostei, amigo Castro! O confrade Godinho só se utilizou de Kardec para justificar a publicação das obras de Roustaing. Na primeira, apoiada na opinião solitária do Espírito Humberto de Campos. E na segunda, esqueceu que Kardec afirmou que não devemos temer a leitura. Temer a leitura, é espacialmente distante de publicá-la. E Paulo, "lede tudo, e retende o que é bom". E não, publicas tudo, e lede o que é bom. Contra-senso! Fico com o bom-senso de Kardec!
ExcluirSe a FEB parar de publicar as obras de Roustaing, em pouco tempo todos saberão que existe um livro misterioso escrito à época de Kardec que foi retirado das livrarias. Vai chover de curiosos, assim como aconteceu em Barcelona quando queimaram as obras de Kardec, acontecimento esse que deixou o codificador incomodado, para em seguida, receber um aprendizado do Espírito da Verdade que disse que o feito traria consequências boas para a doutrina.
ExcluirA melhor forma de incutir em alguém a vontade de ler um livro é proibir a sua leitura. Deixe estar, poucos conhecem, poucos se interessam. Como Kardec disse, uma obra sem consistência morre por si mesma, ninguém precisa provocar seu enterro.
Caro Marcelo Lait, concordo em parte com você, uma editora publicar uma obra é uma coisa, mas manter uma reunião específica há vários anos é outra coisa meu caro! Veja a programação de reuniões da FEB e procure ver o que se estuda às terças-feiras! Isso há mais de um século!
ResponderExcluirOlá Francisco, concordo inteiramente. Mencionei apenas a questão das publicações, que não vejo qualquer problema em continuar sujando as prateleiras das livrarias. Quanto a aceitação dessas obras pela FEB é de fato deplorável, um insulto ao codificador.
ExcluirOlá, Marcelo,
ResponderExcluirClarificou sua opinião.
Abraço!