Por Roberto Caldas (*)
Existimos num mundo de
interconexões. Cada ato nosso tem respectivas consequências e influências que
fogem do nosso conhecimento imediato. Qualquer ação, a partir do próprio ato de
pensar tem uma pulsação que movimenta uma infinidade de elementos plásticos
etéreos e transformam as paisagens em que respiramos. Antes que os resultados
possam ser mensurados pelas comprovações reconhecidamente materiais, a mudança
acontece em um nível nem sempre perceptível aos olhos.
É assim que aos poucos se
torna possível impregnar de êxito um desejo fervoroso, que deságua numa
conquista, mercê de bem engendrada estratégia de persistência otimista. O fato
é que as circunstâncias não se modificam jamais sem que um trabalho sério
justifique a edificação de novos pilares em troca daqueles que deixaram de ser
aceitos.
A espiritualização do mundo
é uma dessas mudanças que todos aspiramos. A resposta que vem das ruas parece
querer destruir tal aspiração. Parece que as notícias que nos chegam alimentam
a pretensão de levar-nos ao desencanto, como se fosse impossível alterar o
alvoroço gerado pela escalada da violência, a ambição desmedida, a intolerância
religiosa e a psicose das drogas.
Contrariamente ao que
apontam os noticiários, jamais houve na sociedade humana tantas iniciativas de
generosidade, criatividade ecológica e construção do bem comum. Acontece que
construir um patrimônio de elevação espiritual é mais difícil e demorado do que
desfilar o nosso repertório de imperfeições. A destruição requer apenas uma
marreta numa mão dirigida pela cegueira, construir exige a capacidade de gravar
inscrições em cristais.
Allan Kardec reconhecia o
papel da Doutrina Espírita na alteração dos destinos belicosos do planeta,
sabedor que era da hierarquia dos mundos, e ciente de que estagiamos em uma
condição de profunda inferioridade moral, considerados os valores que
estabelecem a escala espiritual dos orbes. Questiona aos Espíritos (LE, q. 800)
se o apego às coisas materiais e a indiferença dos homens não poderiam deter os
passos do Espiritismo. A resposta não poderia ser outra e merece ser transcrita
na íntegra: “Seria conhecer pouco os homens, se pensássemos
que uma causa qualquer pudesse transformá-los como por encantamento. As ideias
se modificam pouco a pouco, de acordo com os indivíduos, e são necessárias
gerações para apagar completamente os traços dos velhos hábitos. A transformação
só pode, portanto, se operar em longo prazo, gradualmente, passo a passo. A
cada geração uma parte do véu se dissipa. O Espiritismo veio rasgá-lo de uma
vez e, conseguindo corrigir no homem um único defeito que seja, já o terá
habilitado a dar um grande passo que representa, para ele, um grande bem,
porque facilitará os outros que terá que dar.”
Pensamentos, palavras e atos
são os elementos que se encontram dispostos no mundo para que iniciemos a
grande transformação que o mundo necessita. Gandhi nos lembrava que a Paz que
desejamos no mundo começa dentro de cada um. A grande arma de Jesus foi a
declaração universal do amor que cobre uma multidão de pecados. Desarmemo-nos,
pois.
¹ editorial do programa Antena Espírita de 21.06.2015.
(*) escritor espírita,. editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda
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