Por Roberto Caldas (*)
Crescemos muito mais quando trafegamos no
desconforto. Por essa razão que a nossa vida busca uma posição de conforto em
cada um dos seus movimentos. Pode até parecer contraditório, mas o conforto não
gera onda de mudança. Ao contrário, é o conforto que determina a existência do
status quo, ou seja, o processo de acomodação diante de uma realidade
conquistada. Se desconfortáveis, acendemos a luz de alerta de nossa atitude,
diversamente do que acontece ao nos sentirmos em completa segurança e
tranquilidade. O que impulsiona, no mundo das partículas atômicas, a formação
dos corpos conhecidos na Natureza é exatamente a composição das qualidades
iônicas e covalentes dos átomos, sem a qual eles se mantêm instáveis.
Allan
Kardec, em comentário do item Escolha das Provas (O Livro dos Espíritos, q.258
– 273), ensina: “Aquele que deseja ver seu nome ligado à descoberta de um
país desconhecido não escolhe um caminho florido; sabe dos perigos que corre,
mas também sabe da glória que o espera se for bem-sucedido”.
Manter uma condição de conforto, considerados
os determinados segmentos em que a pessoa se posiciona, sugere um estado de
satisfação plena que retira do raciocínio a necessidade de mudança. A
complexidade da existência de um ser encarnado estabelece graus diferentes de
satisfação e insatisfação e cria critérios que o faz se tornar motivado a
iniciar um processo de conquistas ou completamente desmotivado para tal. A
falha acontece quando o desconforto alcança a mente produzindo incapacidade
operativa, funcionando como se fosse um estado de conforto, perpetuando o
infortúnio e consagrando o sofrimento.
Sofrer não
tem relação direta com o desconforto, sim com a nossa habilidade de organização
diante dele, o que confere ao sofrimento uma disposição de estacionamento
evolutivo, ao contrário do que muitos trombeteiam em sua direção. É a nossa
imaturidade de administrar de forma adulta a dor que a torna sofrimento, quando
o objetivo da mesma é suprir o nosso caminho de experiência produtiva, saldo
esse que traz o crescimento espiritual.
O ciclo
existencial nos impele a mergulharmos incessantemente no desconforto que busca
o conforto para, de novo, nos sentirmos vazios e submergirmos em busca de
outras lutas. Tal acontece tanto na perspectiva material quanto na espiritual.
Para a primeira temos um dia após o outro para a conferência de nossas
atitudes. Para a segunda temos as diversas existências no corpo que haveremos
de buscar como a opção única capaz de nos posicionar cada vez mais alto na
escala evolutiva (LE, q.166).
Jesus nos
convidou a usufruirmos do seu jugo (Mateus XI; 28 a 30). Apresentou como suave
e prometeu descanso a quem aceitasse o convite e estivesse se sentindo cansado
e sobrecarregado. Acrescentou que o Seu fardo era leve. Justificou, porém tais
atributos. Disse-nos que constataríamos que era manso e humilde de coração.
Aceitar a esse convite enquanto não colecionamos tais virtudes pode ser o
caminho para quem busca o conforto e ainda experimenta tantos desconfortos na
vida.
¹ editorial do programa Antena Espírita de 07.06.2015.
(*) escritor, editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
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