“A teologia
ortodoxa diz que todos os seres humanos são feitos à imagem de Deus, que Deus
não tem um gênero. Portanto, quando falamos de Deus só na forma masculina, no
final das contas, estamos fazendo uma compreensão deficiente do que é Deus”
(Jody líder do
grupo que quer o reconhecimento de Deus como mulher)
Por Jorge Luiz (*)
Com
o propósito de combater o sexismo, um grupo de religiosas ligadas à igreja da
Inglaterra, querem que Deus seja reconhecido como mulher, alegando que na
Bíblia o tratamento é sempre expresso com o sentido do sexo masculino.
A
visão antropomórfica de Deus, ainda é o grande entrave para uma convivência
pacífica entre os indivíduos e as religiões. Fazendo Deus à imagem e semelhança
do homem, dão ênfase em Deus a todos os atributos do homem. Não poderia ser
diferente quanto à questão da sexualidade. Os atributos de Deus não se
confundem com a miséria humana.
Os
Espíritos Reveladores no capítulo I de “O
Livro dos Espíritos”, advertem que falta um sentido (grifamos), para se compreender a natureza de Deus. Eles
continuam: na medida que nos elevamos
sobre a matéria, através do pensamento iremos percebendo melhor a sua natureza.
Em outras palavras: os
sentidos do sistema sensorial (visão, olfato, audição, tato e gosto) não
oferecem recursos para a compreensão acerca do Criador. Pode-se dizer,
portanto, que falta o sentido da religiosidade. Ou, quem sabe, que ele está em
desenvolvimento.
Ora, isso é facilmente
observável se for estudar a evolução da natureza de Deus através dos tempos.
Em “O Livro dos Espíritos”, capítulo II, na Lei de Adoração, Os
Espíritos Reveladores ensinam que esse sentimento é inato e faz parte da lei
natural. É através dele que a alma eleva o pensamento e se aproxima de Deus.
Deus
já foi mulher. Quem afirma isso é a eminente socióloga, advogada e ativista
social, Riane Eisler, em sua obra “O
Calice e a Espada”, quando afirma:
“Negar completamente que o feminino – e,
portanto, a mulher – participa da divindade é algo espantoso, principalmente
porque boa parte da mitologia hebraica derivou dos mitos mesopotâmicos e
cananeus anteriores. Mais espantoso ainda, porque as evidências arqueológicas
mostram que, muito depois das invasões hebraicas, o povo de Canaã, incluindo os
próprios hebreus, continuou a venerar a Deusa.”
Ela
continua:
“...a Deusa parece ter sido adorada
originalmente em todas as sociedades agrícolas antigas. Há evidências de
divinização da fêmea – que, por sua natureza biológica, dá a luz e sustenta
seus filhos, exatamente como a Terra – nos três centros principais que
originaram a agricultura: Ásia Menor e Sudeste Europeu, Tailândia e Sudeste
Asiático, e mais tarde também na América.”
Eisler
tem razão. Veja o que está escrito em Jeremias 44:17:
“É certo que faremos tudo o que dissemos
que faríamos - queimaremos incenso à Rainha
dos Céus (grifamos) e derramaremos ofertas de bebidas para ela, tal como fazíamos, nós e
nossos antepassados, nossos reis e nossos líderes, nas cidades de Judá e nas
ruas de Jerusalém. Naquela época, tínhamos fartura de comida, éramos prósperos
e nada sofríamos.”
Émile Durkheim, ao estudar o
fenômeno religioso em sua festejada obra, “As
Formas Elementares da Vida Religiosa”, afirma: “Deus
é a expressão figurada da sociedade”.
Na marcha do seu
desenvolvimento anímico o homem começa o processo de racionalização a partir de
experiências concretas; não há ainda abstrações, que só irão aparecer no
período do pensamento mágico. O ponto
de partida, segundo as pesquisas, inicia-se no totemismo, passando pela
litolatria, fitolatria e zoolatria. No politeísmo (do grego: polis, Théos, deus: muitos deuses) se encontrará várias divindades dos dois gêneros: masculino e feminino, com
habilidades individuais, necessidades, desejos e histórias.
Mircea
Eliade em sua obra O Sagrado e o Profano,
acentua que “...os Seres supremos de
estrutura celeste têm tendência a desaparecer do culto; “afastam-se” dos
homens, retiram-se para o Céu e tornam-se dei otiosi. (deus ocioso).” “Aos poucos, continua ele, o lugar deles é tomado por outras figuras
divinas: os Antepassados míticos, as Deusas-Mães, os Deuses fecundadores, etc.”
O homem avança nesse
processo alcançado a compreensão de um Deus uno, embora antropomorfizado à
imagem e semelhança de si; com virtudes e defeitos, a exemplo de Javé, o deus
da tribo de Abraão, muito embora o culto a outras divindades tenha permanecido.
Em um contexto eminentemente
patriarcal, Jesus com o seu cântico de amor, designa-O de Pai, para que a
Humanidade se sentisse irmanada, louvando-O na oração dominical, “Pai Nosso que estás no céu...”
“Deus está morto! Deus continua morto! E nós
o matamos”. O escrito de Nietzsche é o ápice da antropomorfização de Deus.
O que caracteriza esse período é uma valorização grandiosa do conhecimento,
quando inteligências notáveis apresentam sistemas de ideias que pretendem dar
uma solução a todos os problemas humanos e apresentar conceitos finalistas para
a história.
Eis, entretanto, que as Vozes dos Imortais, respondendo a Allan
Kardec, conceituam Deus como inteligência
suprema, causa primária de todas as coisas, desantropomorfizando-O e elencando
seus atributos: eterno, infinito,
imutável, imaterial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom.
Deus
é espírito (Jo,4:24). Os Espíritos, criados à imagem e semelhança de Deus (Gn,
1:26-27), como seres inteligentes da criação (Q.76, de O L.E), podem animar
corpo de qualquer gênero (Q. 201 de O L.E.), pois não têm sexo. (Q. 200 de O
L.E.)
A saga evolucionista
da compreensão de Deus pelo homem no tempo, prossegue. Guarda sempre correlação
com o seu desenvolvimento anímico e foi bem interpretada pelo professor e
filósofo José Herculano Pires, em sua obra Concepção
Existencial de Deus:
“O homem finito não pode conceber o
infinito como uno e absoluto, senão através das experiências do real.”
O Homem foi criado por Deus por amor e para amar; Deus, portanto, é AMOR. (1 Jo, 4:8).
REFERÊNCIAS:
EISLER. Riane. O cálice e a espada. São Paulo. Palas Athena. 2007;
ELIADE. Mircea. O sagrado e o profano. São Paulo. Martins Fortes. 2001;
DURKHEIM. Émile. Formas elementares da vida religiosa. São Paulo. Martins Fortes.
2000;
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. São Paulo. LAKE. 2000;
PIRES, Herculano. Concepção existencial de Deus. São Paulo: Paideia, 1981.
THOMPSON, Frank Charles. A Bíblia Thompson. São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana do
Brasil, 2007.
(*)
blogueiro e expositor espírita.
Gostei.Tá bem colocado e é por demais oportuno.
ResponderExcluirAntes de tornar o homem espírita, devemos fazê-lo espiritualista.
E a base deve ser bem feita.
Uma justa compreensão de Deus é a base de um crença sólida e sem jaça.
Deus, para o filósofo inglês Richard Dawkins, é um Delírio e para a Doutrina Espírita Deus é a Causa Primária de tudo que existe, e a Lei de Deus não está escrita, ela se encontra impressa nas nossas consciências, veja-se a Q.621 de O Livro dos Espíritos. Parabéns Jorge, o tema é bastante atual e nos leva à reflexão!
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