Por
Jorge Luiz (*)
A partir de 1860, a SPEE e a Revista Espírita tinham como nova sede o endereço acima, 1º andar, porta da esquerda. |
Quase
um ano depois do lançamento de “O Livro
dos Espíritos”, em 01 de abril de 1858, Allan Kardec funda a Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas, que se pode considerar, o primeiro centro espírita
da Terra.
Allan
Kardec ao anunciar a sua fundação, na Revista
Espírita, maio de 1858, ressalta que o quadro de constituição dos sócios
fundadores é exclusivamente de pessoas
sérias, isentas de prevenções e animadas do desejo sincero de serem esclarecidas.
Essa sociedade é chamada, continua ele, a presta incontestáveis serviços à
comprovação da verdade.
Apesar do objetivo
principal da Sociedade Parisiense ser a pesquisa, em sua essência ela converge
para o modelo de Centro Espírita atual, quando o próprio Kardec assinala a
necessidade do estudo das consequências morais, em que reside a sua utilidade.
Observe-se o artigo 1º do Regulamento da Sociedade Parisiense de Estudos
Espíritas (SPEE), inserto em “O Livro dos
Médiuns”, cap. XXX:
“...a Sociedade tem por fim o estudo
de todos os fenômenos relativos às manifestações espíritas e sua aplicação às
ciências morais, físicas, históricas e psicológicas.”
Vê-se que nos
desdobramentos deste artigo, chega-se à função e significação da instituição
espírita nos dias atuais, pela necessidade do estudo, prática e divulgação dos
postulados espíritas, além da orientação aos interessados e assistência
espiritual aos encarnados e desencarnados.
Missão do Centro Espírita
Allan Kardec sonha com um
modelo de Instituição espírita que trabalhasse com vigor o aspecto teórico da
Doutrina, associando-o à popularização da obra para que ela – a instituição –
exercesse ação eficiente, eficaz; moralizadora sobre o meio. Assim ele conclui
a missão do centro espírita, no Projeto 1868, em Obras Póstumas:
“a Sociedade tem necessariamente
que exercer grande influência, conforme disseram os próprios Espíritos; sua
ação porém, não será, em realidade eficiente, senão quando ela servir de centro
e de ponto de ligação donde parta um ensinamento preponderante sobre a opinião
pública.”
Admissão de voluntários
Allan Kardec deixa evidente
a recomendação de rigorosos critérios para a admissibilidade de novos seareiros
na Casa Espírita. No artigo 3º do Regulamento da SPEE, ele destaca:
“Para ser admitido como sócio
livre, é necessário solicitar por escrito ao Presidente, (...). O pedido será
submetido à comissão que proporá, se for o caso, a admissão o adiamento ou a
sua rejeição. O adiamento é de rigor
para todo candidato que ainda não possua nenhum conhecimento da Ciência
Espírita (...)” (grifamos)
Sustentabilidade Financeira
Um tema considerado
tabu no movimento espírita, mas que Kardec administrou com tranquilidade. Ele
considera a questão financeira como grande motor de todas as coisas, embora
exija o discernimento na hora de aplicá-lo. Na Constituição do Espiritismo, publicada após a sua desencarnação – Obras Póstumas – capítulo IX, Vias e Meios, ele é claro: “É de lastimar, sem dúvida, que tenhamos de
entrar em considerações de ordem material, para alcançarmos um objetivo todo
espiritual.” No artigo 15º, do Regulamento da SPEE, ele recomenda:
“Para prover às despesas da
Sociedade será cobrada uma cota anual de 24 francos dos titulares e de 20
francos dos sócios livres. Os membros titulares pagarão também uma joia de 10
francos de quando de sua admissão. A cota é paga integralmente para o ano em
curso.”
O
sócio que não quitava a renovação no primeiro mês do ano social, já era
considerado demissionário.
Crítica literária
Se tem uma coisa que bom
número de espíritas não sabe lidar é com a crítica. Quando a crítica é dirigida
a uma publicação literária, traz-se à baila de imediato o Index Librorum Prohibitorum (Índice dos Livros Proibidos), lista
dos livros proibidos pela Igreja Católica. Quanto ao cuidado que se deve ter em
vender ou expor as obras espíritas, Kardec é ainda mais criterioso. Artigo 24º
do Regulamento da SPEE:
“A
Sociedade fará a crítica das diversas obras publicadas sobre o Espiritismo,
quando julgar conveniente. (grifamos). Para isso encarregará um dos seus
membros, sócio livre ou titular, de emitir um parecer que será impresso, quando
houver espaço na Revista Espírita.”
A
acriticicidade no que diz respeito aos desvios e atalhos praticados nas casas
espíritas, que para muitos é ato de caridade, para Kardec a atitude é de puro
bom-senso – Revista Espírita, janeiro
de 1865:
“Quando cessamos de aprovar, não
censuramos; guardamos silêncio, a menos que o interesse da causa nos force a
rompê-lo.”
Biblioteca
Para se criar uma biblioteca
na casa espírita, ele elaborou o “Catálogo
Racional das Obras para se Fundar uma Biblioteca Espírita.(veja)” No artigo 25º
do Regulamento da SPEE ele orienta:
“A Sociedade instalará uma
biblioteca especial, constituída por obras que lhe forem oferecidas e das que
elas adquirir. Os membros titulares poderão consultar na sede da Sociedade essa
biblioteca e os arquivos nos dias e horas fixados para esse fim.”
A unidade de princípios
Enxerga-se na prática
diária das casas espíritas diversos cursos que são oportunizados, das mais
diversas fontes, o que dificulta sobremaneira o trabalho da unidade de
princípios. Se as casas seguissem Kardec, observar-se-ia o que ele determina na
Revista Espírita, dezembro de 1861:
“(...) Quer a sociedade seja una ou
fracionada, a uniformidade será a consequência natural da unidade de base que
os grupos adotarem. Será completa em todos os que seguirem a linha traçada em “O Livro dos Espíritos” e em “O Livro dos Médiuns”. (...) Estas obras estão escritas com
bastante clareza, de modo a não ensejarem interpretações divergentes, condição
essencial de toda doutrina nova.” (grifamos)
Exclusão de trabalhadores
A união entre os
espíritas e a unidade de princípios, consonantes com o “Amai-vos e Instruí-vos” do Espírito da Verdade, são fundamentos
principais de um centro espírita. Allan Kardec adota postura viril quando esses
fundamentos são ameaçados. Observe-se o que diz o artigo 27º do Regulamento da
SPEE:
“A Sociedade, querendo manter no
seu seio a unidade dos princípios e o espírito de benevolência recíproca,
poderá eliminar todo membro que se transforme em causa de perturbação ou que se
manifestar em hostilidade aberta contra ela, por meios de escritos
comprometedores para a Doutrina.”
Estilo de gestão
Embora tenha optado
por estilo diretivo para a administração da Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas, perfeitamente compreensível para os seus
objetivos, Kardec na Constituição do Espiritismo, inserido em Obras Póstumas, recomenda de forma
visionária, estilo de gestão situacional que ele denominou de Comissão Central. Mesmo na Sociedade Parisiense,- artigo 12º do seu
regulamento, as decisões eram tomadas em colegiado.
Allan Kardec, sempre
pontuou a necessidade da homogeneidade não só na criação, como também na
funcionalidade da casa espírita, pois não a possuindo, já traz em si o germe da
dissolução. Ele foi além quando assegurou que a instituição só alcançará a
assistência dos bons espíritos pela comunhão de pensamentos, fundamento
primordial para a consecução da homogeneidade.
REFERÊNCIAS
Kardec,
Allan. Catálogo racional: obras para se fundar uma biblioteca espírita.
São Paulo. Madras. 2004.
_____________.
O livro dos médiuns. São Paulo. EME.
1997;
_____________.
Obras póstumas. Rio de Janeiro. FEB.
1987;
_____________.
Revista espírita. 1858. Brasília.
FEB. 2004;
_____________.
Revista espírita. 1861. Brasília.
FEB. 2004;
_____________.
Revista espírita. 1865. Brasília.
FEB. 2004;
Jorge Luiz, esse seu texto vem somar aos que estamos publicando com o título: COMO FUNDAR UM CENTRO ESPÍRITA! Excelente a sua contribuição porque traz diretamente da origem o pensamento e a palavra abalizada de Kardec! Parabéns!
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