Por Roberto Caldas (*)
Deixar para amanhã é uma atitude que define
um perfil de encanto pelo descanso antecipado. Toda vez que algo é adiado é
porque provavelmente ficou difícil a sua realização e o momento que assim
define parece mais agradável do que seria cumprir com o compromisso. Deixar de
fazer algo que exija esforço, em troca de alguns momentos de relativo sossego,
faz o tempo escoar sem mudança significativa. O que deixamos de produzir mantém
a paisagem exatamente como a percebíamos antes da decisão de agir com
procrastinação.
Observando
o quadro que está a nossa frente não é necessário muito esforço de compreensão
para vermos que o que está posto nessa realidade é apenas uma consequência das
atitudes que adotamos no passado. Fosse a vida finita e a linha do tempo
tropeçaria numa instância de inoperância desastrosa e arrependimentos cruéis.
Sendo a vida infinita, e múltiplas as oportunidades, fronteamos com repetições
desagradáveis que consolidam a visão de que a preguiça é inimiga visceral do
espírito de conquista. Individual e coletivamente colhemos o fruto de uma
semeadura que nos responsabiliza pelos resultados atuais.
Limpa
e secamente, Allan Kardec questiona (LE, q. 167) “qual o objetivo da reencarnação?”, ao que respondem os Mentores, “Expiação, melhoramento progressivo da
humanidade. Sem isso onde estaria a justiça?”. Significa que de toda forma
haveremos de galgar platôs de evolução, notícia deveras agradável para uma
civilização que agoniza com os horrores impostos pelo desfile de incompetência,
desonestidade e violência. Apesar de tudo que vemos acontecer em todos os
recantos do planeta, ainda é possível antever que outros dias de glória estão
facultados ao planeta.
Ressalte-se
que a evolução dos mundos é mais lenta que aquela empreendida individualmente,
pois há uma diferença de postura entre as pessoas que atrai para baixo a média
do crescimento espiritual dos globos. A razão das convulsões morais que nos
torna perplexos, como se estivéssemos em nau sem comando, está proposta na
questão 932 (LE) que trata da clara influência dos maus sobre os bons: “É pela fraqueza
dos bons; os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos; quando
estes últimos quiserem, dominarão”.
Buscar
a vocação que grita alto em nossa consciência espiritual é a forma mais
adequada de fazermos valer a encarnação que propicia esse nosso encontro com o
mundo. Ter a coragem de parar os lamentos que nos fazem vitimados pela vida.
Levantar a cabeça depois de resultados inesperados. Questionar a criatividade
diante dos impedimentos de crescimento material, na busca de soluções. Assumir
as próprias fraquezas resistindo à facilidade de inculpar a terceiros pelo
infortúnio que nos rodeia.
Os
homens que fizeram a diferença em suas vidas e esculpiram as delícias que fruem
na atualidade são aqueles que não tergiversaram a necessidade das lutas que
enfrentavam e conquistaram a vitória, enquanto contribuíram com a humanidade em
seu crescimento. Aqueles que anteviram o futuro, mas não
esperaram por tempo melhor, lançando-se ao desafio. Saber fazer a hora é
desejar o futuro sem descansar hoje. A construção exige noção de esperança e
visão de amanhã, mas impõe a resistência em suportar as dores de agora.
¹ editorial do programa Antena Espírita de 05.07.2015.
(*) escritor, palestrante, editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
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