Por Roberto Caldas (*)
É muito interessante quando resolvemos
aprofundar a nossa visão a respeito do receio que a morte provoca na mente da
imensa maioria da população de encarnados, quase uma unanimidade, não fossem as
exceções que geralmente desafiam as regras. O receio da morte se encontra
democraticamente espalhado tanto entre aqueles que dizem possuir uma
espiritualidade quanto os que professam alto e bom som a sua descrença em
qualquer motivo que fuja do palpável. Uma fatia grande de pessoas que garantem
ter o céu como moradia depois da morte, ainda assim preferem a vida na Terra a
fruir desse paraíso que as espera.
Há
quem defenda que os muitos medos que exibimos vida afora guardam uma relação
direta com o receio inconfessado de morrer, assim como a necessidade de
amealhar bens e riquezas exageradas, muitas vezes de forma desonesta, seria uma
forma de se imortalizar por deter poderes que excedem em muito à média das
pessoas que habitam o planeta.
A
Doutrina Espírita adentra à discussão desse tema trazendo uma visão tão
objetiva que simplesmente põe por terra todos esses milênios de dúvidas e medos
que criaram o clima de expectativas. A singeleza de suas lições não poderia ser
mais didática ao evocar a morte parcial que sofremos todos os dias quando
deixamos o corpo físico em descanso relativo, enquanto viajamos ao mundo
espiritual durante algumas horas. Basta uma simples sonolência e de imediato
adentramos à cidadela da pátria invisível, de forma que contatamos os seres que
já desencarnaram e outros que, como nós encarnados, também se encontram numa
experiência de sono orgânico. As imagens que trazemos desse passeio ficam
registrados na memória sob a forma de sonhos, os quais são muito influenciados
em seu conteúdo por elementos psíquicos e corporais que dificultam o
entendimento de tais vivências extracorpóreas. O capítulo VIII da 2ª parte de O Livro dos Espíritos – Emancipação da
Alma – dá uma verdadeira aula a respeito das experiências em condição de desligamento
parcial do perispírito em relação ao corpo, nesse estado especial.
Enquanto
dormimos estamos simplesmente vivenciando uma condição que a morte propicia de
forma definitiva, diferente apenas pelo fato de que ainda recebemos
interferências da fisiologia corporal que se encontra em repouso. Nesses
momentos é possível avaliarmos os elementos da existência a fim de
empreendermos mudanças em nossas situações na vida física. Podemos refazer
compromissos e suavizar – ou incrementar – dificuldades, assim como resolver
problemas que ao amanhecer vão parecer que obtivemos uma solução por um passe
de mágica. Lógico que, se for a nossa vontade, é possível agravar situações que
dependam da nossa livre atitude, pois visitar o mundo espiritual não nos
investe de condições maiores que aquelas que experimentamos quando despertos.
Morremos
todos os dias na experiência do sono, também porque precisamos respirar o ar do
ambiente que deixamos para trás durante a encarnação, assim como os mergulhadores
e os astronautas que não podem ficar submersos nem gravitando sem retornarem ao
oxigênio da superfície para refazimento. Dessa forma precisamos dormir todos os
dias, antes que o sono definitivo nos chame para o regresso ao nosso verdadeiro
lar. Enquanto dormimos estamos fazendo o exercício do morrer.
¹ editorial do programa Antena Espírita de 20.09.2015.
(*) escritor espírita, editorialista do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
Caro Roberto!
ResponderExcluirBelíssimo editorial! Gosto desse tipo de editorial que provoca o estudo e a pesquisa. Os leitores e ouvintes agradecem!
Parabéns!