O vislumbre das transformações que ocorreram
com a humanidade nesse longo período de viagem civilizatória, incluindo o
pontapé inicial presente nos primeiros grupamentos humanos, nos dão conta do
quanto se transformou a paisagem do planeta no tocante aos avanços sociais.
Partindo de uma ideia improvisada de grupo iniciamos a prática do conviver a
partir da obrigatoriedade do contato com o outro e depois com o plural, um
mundo de outros. Dessa forma a situação individual daquele início, disposto
apenas para a sobrevivência, paulatinamente passa a exigir atos regulatórios
para definir quais as relações deviam ou não ser permitidas para resguardar a
vida dos entes envolvidos.
O
que iniciou como uma forma de partilha e contribuição numa época sem escrita,
quando provavelmente o cooperativismo parecia ser uma forma de legislação
distributiva e a relação da justiça era mais simples de alcançar porque os
líderes e liderados tinham uma relação direta. Depois da escrita passou-se a
estabelecer códigos, com os quais os processos de justiça entre as pessoas
passa a ser exercido a partir de conjecturas que estabeleciam regras. Tais
regras intentando uma prevenção de problemas e punindo as transgressões,
conquanto dependentes infelizmente da interpretação daquele que tinha a
condição de decidir.
Esse
caminho, na direção da Justiça, que foi desenhado com a finalidade de tornar a
vida em comunidade mais igualitária, perseguia e ainda persegue a importante
conquista de tornar as pessoas iguais em seus direitos e deveres, conceito que
quando alcançado fará triunfar o bem que todos aspiramos na existência. Apesar
de todas as imperfeições que o sistema, ainda parasitado pela ambição e pelo
egoísmo, pode-se dizer que o hasteamento paulatino da bandeira da Justiça é
exatamente o caminho para a evolução planetária, antes de qualquer outra circunstância.
A
3ª parte de O Livro dos Espíritos (Das Leis Morais) trata nas questões
compreendidas entre 873 e 879, a respeito de Justiça e Direito Natural, cuja
última propõe o seguinte texto: “Qual seria o caráter do homem que praticasse a
justiça em toda a sua pureza? – O do verdadeiro justo, a exemplo de Jesus;
porque praticaria também o amor ao próximo e a caridade, sem os quais não há a
verdadeira justiça”. No mesmo espaço poético em que recita o Sermão do Monte e
nos ensina o Pai Nosso (Mateus VI: 1 a 34), Jesus conclui os seus ensinamentos
com a sentença (vers. 33): “mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua
justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”.
Foi
e continua sendo necessária a escalada da civilização humana da barbárie para a
plena justiça, sem a qual a humanidade ainda persistirá assediada pelos
fantasmas dos poderes fictícios que culminam com a morte do corpo e frustração
espiritual do fracasso de mais uma nova existência no corpo físico.
Impraticável
por ora, aos seres do planeta, alcançarem aquela plenitude que os espíritos da
Codificação comparam a Jesus, mas é possível iniciar a caminhada respeitando o
planeta, os espaços públicos, as leis vigentes que, apesar de humanas e falíveis,
contêm em sua essência o direito à vida, à saúde, à educação, à moradia, ao
vestuário, ao respeito coletivo, à liberdade de ir e vir, ao pensamento
crítico, ao julgamento justo, a uma vida digna.
A
divindade não nos quer perfeito, Jesus não nos exige perfeitos. Podemos começar
o caminho, ainda imperfeitos, buscando a Justiça para todos. O resto é
consequência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário