Nós podemos entrar em estágios interessantes ao longo da vida, quando abraçamos as necessidades de crescimento para além da formação acadêmica e/ou profissional (não se trata de desqualificar estas áreas, fique bem entendido!) e focamos nas questões espirituais.
O deslumbramento inicial é sempre uma porta que se abre na alma, encontro com o sol nas manhãs de primavera, ou banho refrescante no calor das lutas existenciais materialistas. É sensação quase física de prazer, embora transcendente!
Estímulo por certo para que continuemos.
Aos poucos as névoas abrandam e as casas espíritas revelam suas imperfeições através dos próprios membros, que assim como nós são humanos em evolução, mas geralmente estão revestidos pelas expectativas de iluminação que o senso de beatitude alardeia, e deveria mesmo ficar na alçada de quem alimenta a espera.
Mas assim como o deslumbramento, esta suportável decepção é necessária para que o senso de realidade seja readmitido ao posto.
Se nunca lidarmos com os humanos reais (entre os quais estamos) as projeções ocuparão largo espaço e nos farão sofrer indefinidamente, haja vista não podermos solucionar o que enxergamos como problema no outro.
No entanto, a parte linda da jornada é a percepção das modificações que ocorrem no silêncio das experiências adquiridas. O distanciamento dos apelos emocionais nos apresenta a proximidade da razão, e esta tem o poder de desamarrar rebeldias contidas.
Deste modo, não é razão para susto quando emergem em nós as raivas e indignações, purificando o interior das hipocrisias que colonizam discursos e oprimem práticas; nosso eu não ficará “iluminado” com mentiras, e precisamos dos encontros com as verdades, ainda que desarrumem os salões.
É assim que crescemos. Quando paramos para reorganizar as relações com a imanência e percebemos que sobram coisas. Que não nos apegamos aos penduricalhos e descartamos sem dor as convicções amontoadas por não precisar mais delas. Crescer neste caso, é guardar menos.
Filosofia e ciência são mais do que termos elegantes, são fundamentos que desalojam capas e abalam construções antigas. Percebemo-nos buscando o novo. Mas nos admitimos limitados pelo tempo, pelas circunstâncias e o melhor de tudo é afirmar que será caminhando da forma que sabemos, a maneira mais segura de renovar.
É a cartada mor da vida. Vida infinita em estradas.
Já não exigiremos tanto dos que se encontram em pontos distintos da mesma jornada.
Chegamos enfim a compreender que o espiritismo não se prende às casas e muitas vezes precisamos sair delas para encontrar a plenitude, para sentir o perdão tocar a pele e deslizar lágrimas sem tolher ninguém, sem enquadrar o bem nem dominar o além.Isso não acaba. É descoberta após outra revelação, é desabar diante de nova constatação, é renascer quando tudo parecia perdido.
Parece uma dança, um encanto, um poema, mas é o espiritismo trabalhando nossa infinitude escancaradamente e amiúde.
Não desiste sem encontrar o que procura. Não desiste sem sentir os sustos dos afagos inesperados. Não, não desiste de subir esta montanha escura porque a visão adiada precisa preparar os olhos neste encontro paulatino com a luz!
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