quinta-feira, 6 de agosto de 2020

TEMPO, MEMÓRIA, AMOR, SAUDADES E OUTRAS POESIAS

                                                  
                                                                      
   O Tempo é o fio em que a existência humana enlaça à natureza divina. Seus degraus representam a saga evolutiva “do aprender a aprender” a respeito do que se tem oculto desde o princípio e urge decodificar porque é pertencimento existencial. Como diria em O Profeta, Khalil Gibran: “E que aquilo que canta e medita em vós continua a morar dentro daquele primeiro momento em que as estrelas foram semeadas no espaço”. Se é que houve um Tempo de início, vivemos a esperança de que não haja um tempo de fim.

O resultado dessa viagem se chama Memória, o compartimento que se traduz na qualificação e na quantificação das lutas e se reproduz no Espírito por guardar as marcas como moeda de troca das vivências, conforme Fernando Pessoa que acentua categoricamente que “podemos vender nosso tempo, mas não podemos comprá-lo de volta”. E o que fica dessa negociação obrigatoriamente se sedimenta nas lembranças que a mente carrega vida afora.

A Memória é sempre justa, nas saudades que destampa, e que mesmo sendo causadoras de dor pelo que foi embora, feliz de quem tem saudades, pois elas são forjadas pelos momentos felizes, aqueles em que se deu a busca de compartilhamentos e entregas, mútuas lições de caminhada, construções de legítima dedicação, vibração intensa que despertou em Clarice Lispector essa reflexão: “Todos os dias, quando acordo, vou correndo tirar a poeira da palavra amor...”.   

Talvez seja essa a viagem do Espírito Imortal. Saído de onde vêm as estrelas, eis que trazemos o brilho do Universo a iluminar as estradas que percorremos.

- O desafio do Tempo. Que só existe quando adotadas referências, contabilizado pelos segundos ou anos-luz, é um túnel, cuja metade não será jamais alcançada, pois a eternidade é infindável estrada.

- A densidade da Memória. O filtro de todos os aprendizados que remetem à depuração das escolhas, como arcabouço das ponderações depois de tantos erros e acertos, incorporando ao instinto a capacidade de desviar dos caminhos escorregadios, tantas vezes percorridos, que deixaram as cicatrizes registradas na mente espiritual.

- A busca de “tirar a poeira do Amor”. Para que a vida se transforme numa jornada de boas lembranças que alimentem as saudades de tempos parciais que ficaram acesos ou até mesmo retidos no inconsciente e permanecem servindo de alimento para uma reflexão capaz de trazer alegria e leveza ao pensamento.

            O fio que nos enlaça a Deus faz o bordado (ou a Teia), que do minúsculo átomo conduzirá ao pujante Arcanjo (LE – q. 540), é entretecido pelas relações do Tempo Universal, a captura do Amor e a formação da Memória espiritual. Os longos ciclos não preterem. Todos estão ligados, apesar de nem todos despertos. As opções do caminho produzem estradas diferentes e assim teria que ser e assim que é. Aos que estão despertos, vale o conselho do poeta do Líbano (Gibran): “E que vosso presente abrace o passado com nostalgia e o futuro com ânsia e carinho”. Esse texto é uma homenagem aos AVÓS.

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