Transição planetária
Uma celeuma existente no movimento espírita acerca da fatídica “data limite”, desviou aquilo que é um processo de transição, para a transição, como um evento. Isto tem levado a falsa interpretação de que a pandemia da COVID-19 é o marco decisivo do mundo de regeneração. A evolução não se opera em linear-constante, mas sim em uma espiral-constante de eventos. A evolução dos mundos está atrelada à evolução dos Espíritos, vinculados a eles.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo III, de forma didática Allan Kardec descreve a classificação dos Mundos. Ele coloca o mundo de regeneração como a transição entre os mundos de expiação e felizes. É nele que a alma se arrepende, encontra a paz e o descanso e acaba por se purificar.
É imperativo que se observe que a chegada do Espiritismo à Terra é exatamente para secundar a regeneração moral da humanidade. Entender as ideias que marcaram os séculos XVIII e XIX é fundamental para a compreensão maior sobre as ideias espíritas. Kardec realça essas ideias no capítulo XVIII, de A Gênese, onde afirma:
“A época é de transição; os elementos das duas gerações se confundem. Colocados no ponto intermediário, assistimos à partida de uma e a chegada da outra, (...).”
Para que se possa entender esse momento que a humanidade atravessa, e a reboque o movimento espírita brasileiro, Kardec nesse mesmo capítulo aponta:
“Porém uma mudança tão radical como a que se elabora não pode realizar-se sem comoção; há a luta inevitável entre as ideias. (...) É pois da luta das ideias que surgirão os graves acontecimentos anunciados e não de cataclismos ou catástrofes puramente materiais.” (grifos nossos)
Compreende-se que são as ideias que alavancam o progresso contra as ideias que teimam em conservar os erros e preconceitos do passado, sob o argumento da tradição. Já se reportou aqui em artigo recente, acerca da tradição e da instabilidade que ela causa no indivíduo acerca de não se ajustar ao progresso e enfrentar vazio existencial.
Requisita-se, novamente, Viktor Frankl, na festejadíssima obra Em Busca do Sentido, onde considera algo de fundamental importância para se compreender os dias atuais. Ele atribui a causa maior do vazio existencial à perda das tradições. Ora, fragilizado pela perda de alguns dos instintos animais, na atualidade, o indivíduo vê-se as tradições desaparecendo pelo progresso inexorável, inseguro, pois não há instinto que lhe diz o que deve fazer e não há tradição que lhe diga o que ele deveria fazer; às vezes, ele não sabe sequer o que deseja fazer. Aqui reside o “xis” do problema. Sem uma substituição plausível só lhe restam dois caminhos: a) fazer o que os outros fazem (conformismo), ou ele faz o que outras pessoas querem que ele faça (totalitarismo). De fácil compreensão o avanço de modelos de governanças considerados como de ultradireita no Brasil e no Mundo.
O pensamento de Frankl dialoga com o pensamento de Kardec, na obra já citada. Destaca-se:
“A geração que desaparece levará com ela seus preconceitos e seus erros; a geração que se eleva, embebida numa fonte mais purificada, imbuída de ideias mais sadias, imprimirá ao mundo o movimento ascensional no sentido do progresso moral, que deve assinalar a nova fase da humanidade.”
Têm-se aqui o combate ideológico da humanidade nos dias atuais: as ideias progressistas versus as ideias conservadoras.
Emigração dos espíritos
Didaticamente, a “emigração dos Espíritos”, a priori, seria o degredo da Terra dos Espíritos retardatários, que seriam relegados a mundos inferiores, dentro do escopo da solidariedade entre os mundos. Contudo, Kardec ensina que muitos aqui voltarão. Devido terem cedido à influência das circunstâncias e do exemplo; a superfície era neles pior que o fundo. Serão submetidos a um tipo de reciclagem sob a orientação de Espíritos benfazejos, que os fariam ver a necessidade de se libertarem da influência da matéria e dos preconceitos do mundo corporal. A maioria verá as coisas diferentes de quando encarnados.
As expiações coletivas da atualidade não só têm como finalidade ativar as saídas, mas transformar mais rapidamente o espírito da massa, desembaraçando-o das más influências, e dar maior ascendência às ideias novas. Muitos, apesar de suas imperfeições, estão maduros para tal transformação.
O parâmetro para essas providências é o pensamento. Os Venerandos Celestes afirmam que a forma não é nada, o pensamento é tudo. O pensamento reflete a consciência, que é o espelho da vida.
Na condição de seres espirituais, gravitamos em Deus, e para ele caminhamos por sintonia e afinidade, pela Lei do Amor. Essa é a régua da emigração. Leia-se o que diz o Espírito André Luiz, pela psicografia de Francisco C. Xavier:
“Nos fundamentos da Criação vibra o pensamento imensurável do Criador e sobre esse plasma divino vibra o pensamento mensurável da criatura, a constituir-se no vasto oceano de força mental em que os poderes do Espírito se manifestam.” (grifos nossos)
Na sequência, André Luiz demonstra como se realizam os estudos da mensuração do pensamento ou fluxo energético do campo espiritual de cada criatura.
O propósito não é apontar o dedo para ninguém. Mas, se o leitor chegou até aqui e tem sentimentos de repulsa e discordância, saiba que não discordas do articulista e sim, da Doutrina Espírita e de Allan Kardec. É de fundamental importância que revisite a afinidade e a sintonia dos pensamentos que, certamente, estão em desalinho com os propósitos espíritas.
Há uma ruptura nos fundamentos espiritistas no Brasil, é fato. Contra fatos não há argumentos. Veja em que posição estás. Chegando-se na dimensão espiritual não há como dissimular.
Afinal de contas, há uma “aferição consciencial” em andamento na Terra. Tudo que insufla ao egoísmo e ao orgulho será destruído. A nova geração, diz Kardec:
“(...) não será composta de Espíritos eminentemente superiores, mas aqueles que, tendo já progredido, são predispostos a assimilar todas as ideias progressistas e aptos a secundar o movimento regenerador.” (grifos nossos)
Bibliografia:
FRANKL, Viktor. Em busca do sentido. Rio de Janeiro: VOZES, 2008.
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. São Paulo: EME, 1996.
_____________. O livro dos espíritos. São Paulo: LAKE, 2000.
_____________. A gênese. São Paulo: LAKE, 2010.
XAVIER. Francisco C. Mecanismos da mediunidade. Rio de Janeiro: FEB, 1998.
Abordagem rica em reflexão bem cuidada pelo embasamento no pensamento progressista de Allan Kardec, o qual foi alimentado pelos ensinamentos dos Espíritos Superiores, porque progressista ele já o era antes de chegar à Doutrina Espírita. Não é possível que o espírita confunda Transição com Processo de Transição, nem Tradição com manutenção teimosa de maus hábitos. Afinal não foi para vencer os maus hábitos tradicionais que surgiu o Espiritismo? Que todo espírita analise as suas atitudes com base no conhecimento da ciência social descrita na Codificação. É o meu desejo. Roberto Caldas
ResponderExcluirMuito bom!acredito na doutrina espírita.
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