Impossível de aceitar o derramamento de sangue que mancha de cumplicidade toda a humanidade. Contraditoriamente, confessamos asco pelas marchas das guerras homicidas relatadas em livros de história e nos emocionamos pelas cenas reproduzidas da sanha racista e preconceituosa que impôs a crucificação de Jesus, enquanto testemunhamos na atualidade a chacina de mulheres, negros e pobres, impedidos de respirar, falar e se expressarem.
Parece que se abriu um alçapão e das mais intrigantes trevas se levantaram espectros que se pretendem juízes do outro, absolutamente cegos e doentes de ódio, desferindo o que de pior há em seus infortúnios, alheios aos apelos da civilidade e da convivência fraterna.
Atenção humanidade! Estamos sendo convidados de forma contínua e perigosa a transitar em terreno pantanoso e insano da reatividade e da brutalidade. Não é possível a quem quer que seja fugir da polêmica sobre a violência que assola o planeta e que emergiu do subsolo do anonimato e resolveu ser escancarada nos meios de comunicação, mas é urgente decidir quanto à forma de indignação que se quer adotar. Barbárie não se combate com barbárie e violência jamais vencerá a violência. Imperioso que fujamos da armadilha de vibrar na mesma intensidade e frequência dos desatinados de plantão, pois esse é justamente o cadafalso que deve ser evitado. Entrar no combate a esse estado de coisas é obrigatório, mas se o intuito é encontrar uma solução é inteligente e maduro que utilizemos métodos e princípios diferentes daqueles usados pelos agressores da paz do mundo.
Momentos tão difíceis exigem movimentos igualmente difíceis para que se dê a restauração. Sócrates foi aprisionado e respondeu com ideias iluminadoras; Joana d’Arc foi perseguida e buscou libertar o seu povo; Martin Luther King Júnior foi alcançado pelo ódio, mas falou de paz; Gandhi foi alcançado pela insânia, mas ofereceu a lucidez; Jesus foi sentenciado pela turba inquieta e ofereceu o perdão. Se for possível concordar que esses personagens agiram de forma adequada diante da truculência, é sensato envidar esforços para evitar que os nossos pensamento e ações alimentem a atmosfera pestilenta dos agressores.
Cabe-nos refletir em O Livro dos Espíritos (q. 756): “A sociedade dos homens de bem será um dia expurgada dos malfeitores? - A Humanidade progride. Esses homens dominados pelo instinto do mal, que se encontram deslocados entre os homens de bem, desaparecerão pouco a pouco como o mau grão é separado do bom quando joeirado, mas renascerão em outro invólucro. Então, com a experiência, compreenderão melhor o bem e o mal. Tens um exemplo nas plantas e nos animais que o homem aprendeu como aperfeiçoar, desenvolvendo-lhes qualidades novas. Pois bem, é só depois de muitas gerações que o aperfeiçoamento se torna completo. Essa e a imagem das diversas existências do homem”.
Indignação e atitude diante dos ataques à vida e à liberdade? Sim! Porém, tomando os devidos cuidados, fugindo de fomentar o ódio e a vingança. Afinal, a Paz é uma cultura, como se fosse uma árvore que deve florescer no passo a passo de nossas vidas. Precisa ser semeada, e com carinho, jardinada e que os frutos de nossa Paz alimente a humanidade.
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