quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

O MUNDO DA FÉ CRISTÃ

    

             (continuação)


 

             O mundo da fé cristã é o mundo do homem dominado pela natureza do homem que se subordinava ao desconhecido, do homem que não entendia o raio e o trovão e que vivia a noite sem luz. Este homem via em Deus o pai que castigava, via todos seus sofrimentos como decorrências dos pecados originas da existência. Eram homens sem conhecimentos, sem ciências, sem técnicas, sem liberdade, sem as possibilidades da vida nas próprias mãos.

             Mais que isto, eram homens servis. Tão servis que o próprio Agostinho nada mais poderia fazer do que oferecer a Deus aquilo que os homens mais ofereciam de si e o que lhes era, naqueles tempos, mais valioso: a própria servidão. É este o mundo feudal, é o mundo no qual não há liberdade ativa, não há vida política suficiente, não há sociedade.

             O homem servo de Deus de Agostinho é fruto direto deste mundo que se transaciona de um antigo Império em ruínas – o Império Romano e seus domínios -, para um mundo de desesperança total para com a vida social. É o mundo da derrocada, é o mundo dos homens servis, é o mundo que faz com que Deus seja o objetivo fundamental da existência já que o mundo dos homens é somente sofrimento e não pertence à maioria destes homens. A transcendência de um medieval é a falta de possibilidade de esperança de justiça na terra.

             A fé destes cristãos medievais é uma fé de um sistema produtivo feudal; não há de se esperar do mundo nada mais além da perseverança na vida no além. O homem medieval é um homem para a morte. Que repercussão neste mundo medieval, da interpretação da frase do Cristo “meu reino não é deste mundo”!

             Um homem medieval era um homem tendente à fé, pela impossibilidade da vida histórica. A Cidade dos Homens de Agostinho é a terra arrasada da injustiça e da violência produtiva, econômica, social, política, jurídica e racional medieval. O sonho da Cidade de Deus não era uma construção de homens melhores que os nossos, apenas a construção de homens de seu tempo. Tristes homens daquele tempo, que enxergavam a vida somente na morte e tentavam ouvir Deus no silêncio da noite e dos sepulcros.

                                                                                                                                   (continua)

 

 

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