sábado, 12 de março de 2022

REDES SOCIAIS: VOZES E PALAVRAS

 


Como é bonito insistir na linguagem vilipendiada em momentos de dispersão da razão e da razoabilidade até na fala! Há beleza em manter conceitos altruístas quando ao redor prevalece a imagem destrutiva da ironia ácida que corrói relações. Assim no mundo, no país, no território local, nas vivências virtuais, onde a distância da virtude se tornou razão de força e canto comum de aprovação em curtidas.

Que ousadia abordar essa linha de análise sem cair no risco puritano do moralismo endiabrado que a tantos empodera, mas a todos ilude quanto ao sentido do ser!

Tenho considerado sobre as aparições virtuais nas grandes bolhas online, que reproduzem com perfeição os sistemas de domínio das alcateias, onde grupos se sobrepõem a grupos, no respeito do mais forte, sendo que neste lado a força de argumentos é malvada, arranhada por convicções intolerantes com a permissão do uso abusivo de pejorativos e cerceamento da voz do outro.

A morte virtual é o cancelamento, e o antídoto é não perder de vista que isso também é outra ilusão, mas para conseguir usar tal recurso se torna urgente conseguir viver para além das redes.  A vida real não pode perder para a virtual.

Já não importa, então, a tarja exposta na entrada, para definir o caráter das relações estabelecidas nos palcos da internet, porque o uso comum do caminho virtual direciona grande parte dos usuários no intuito de vencer o argumento do outro a qualquer custo, mesmo quando a proposta se traveste de boas intenções.

É a fatalidade deste século, aprender a equilibrar o real e o virtual, porque a fusão ganhou comportamentos e corporificou sentimentos e sentidos. Estamos todos expostos às tempestades infernais, porque as comportas dos infernos individuais arrebentaram o fino fio da ética civilizatória, misturando ignorância e ímpetos primários no fenomênico palco das palavras.

O silêncio da observação tem sido útil instrumento de coleta, porque para honrar a voz é preciso selecionar calmamente aquilo que dizemos.

Mas dizer é necessário, tem valor em si, e falar sobre o amor em tempos de ódio traduz algo maior que a mera participação no mundo online, porque significa insistir em ser o que é possível na cadência de uma realidade usurpada pela aparência.

Recolho então as esperanças trazidas pelos insistentes, a poesia lida nas postagens dos resistentes e o sabor da vida de quem não esqueceu sobre a beleza de ser gente.

Falar bonito nas redes não nos impede de fazer política, nem suspende o uso indignado do verbo ou das corruptelas sarcásticas.

Apaixonada pela fala, considero a voz um grande trunfo humanitário e ouvi-la livre e respeitada é por certo um tipo linguístico de gozo cultural com reflexos de espiritualidade profunda.

Em tempos de barulhos e esgares, que haja muita força de renovação nas palavras que militam a idealização de feitos amorosos neste vasto mundo.

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