Por Roberto Caldas
Nem inédito nem original que reveladores espirituais, entre eles Jesus, tenham as suas palavras utilizadas para finalidades que se comprovam distantes de suas reais pregações. Inegável que a maioria dos missionários que tiveram doutrinas erguidas ao seu entorno representaram uma ética que supera o séquito daqueles que dizem segui-los.
Os fatos traduzidos pela História comprovam uma tendência de enxertias e desvios, quando massas de pessoas pretendem fazer ecoar determinadas realidades morais que compõem filosofias e religiões.
Jesus, ao propor o futuro de suas ideias, profetizou o advento do que ele denominou de “outro Consolador” e chamou de “Espírito da verdade” e acentuou que “vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (João 14: 16-28).
Nessas orientações de Jesus parece explícito que o Mestre sabia que muitos usos indevidos seriam comuns ao apossamento de suas prédicas por parte dos grupos que se organizariam em seu nome para a prática de uma religião que, pretendendo representá-lo, passaria muito longe do objetivo espiritual.
Há entre os espíritas a aceitação de que as revelações divinas têm o caráter de progressividade no tempo. Apesar da exata empregabilidade na época em que foram ditas, assim atendendo à necessidade das pessoas que escutavam nos dias em que Jesus falava, havia uma perenidade em sua essência que também as tornaria importantes nos dias vindouros. Daí, os Espíritos responsáveis pela Codificação apresentaram a Allan Kardec o modelo Jesus como o mais adequado ao espelhamento da humanidade (LE q. 625).
Ciente das interpretações e dos desvios que passagem do tempo poderia impor as suas palavras, fadadas que estavam a superar as mudanças do céu e da terra (Mateus 24: 35), o Mestre ensinou que o conhecimento da verdade liberta. Sua pedagogia foi enfática ao proferir esse ensinamento – “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8:32).
Jesus apresentava a verdade que andava de mãos dadas com a liberdade. Havia libertado a mulher que quase fora apedrejada desafiando que lançassem pedras aqueles sem mácula. Detentor de uma condição conquistada de perfeição moral demonstra que a maior prisão é aquela que permite a uma pessoa exigir ao outro a virtude que lhe falte.
Como todas as lições de Jesus, a aquisição da “verdade que liberta” é usada em vão, num esforço encoberto de parecer o que não se é. Afinal, a verdade é uma disciplina do profundo conhecimento do “si mesmo”. Uma conquista da viagem para dentro da própria consciência e nada tem a ver com o arbitrar e perseguir o comportamento do mundo, como se houvesse a dotação de uma condição superior aos demais.
A verdade, dita por Jesus, é aquisição progressiva, mas os seus germens jamais podem ser confundidos. Se for verdade, mesmo que imperfeita, a sua manifestação sempre será de empatia, de acolhimento, de busca da paz e de congraçamento. Livre de ódios.
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