Diante dos ininterruptos processos de progresso à que estão submetidos os seres humanos, seria uma visão dicotômica não compreender está ação de forma concomitante! Ou seja, o progresso humano não dar-se-á apenas no campo espiritual, sem a ação do componente social na formação do sujeito espiritual que atua na Terra.
Sendo assim, convém indicar que o mundo de regeneração não estabelecer-se-á como uma mágica, ou a partir de ações místicas, ou algo produzido por marchas igrejeiras e/ou dogmáticas.
O que nos faz inquerir: Por quê para uma ´parte significativa dos espíritas brasileiros, falar das questões sociais é considerado uma ação aviltante contra a natureza do espiritismo? Por quê falar sobre igualdade e justiça social é acintoso? Por quê, alguns espíritas defendem a teoria que “direitos humanos é para humanos direitos”? Por quê, temas como: racismo, racismo religioso, LGBTQIAP+fóbia, sexismo, machismo, feminicídio, xenofobia, capacitismo, e etarismo, são abominados, marginalizados ou relegados ao plano da discussão político partidária.
Para a edificação de uma sociedade justa e igualitária, temas como família, sexo, sexualidades, gênero, relações étnico- -raciais, religião e política não devem ficar relegadas a segundo plano ou serem consideradas assuntos “anti-doutrinários”, assumindo caráter proibitivo e pecaminoso. A abordagem dessas temáticas sob a luz da doutrina espírita faz com que se construa uma base de entendimento crítica e participativa, bem como promove a desconstrução e a invalidação da vivência de preconceitos de vários matizes. (JÚNIOR, Alexandre, 2022)
Por quê falar sobre gênero e sexualidades, direitos humanos, racismos, igualdade de direitos entre as mulheres e os homens, ainda desperta ira, violência e descontentamento em muitas pessoas?
Por quê, o Movimento Espírita Brasileiro Hegemônico Federativo Institucionalizado, trancado dentro de sua própria casca, carrega o tônus do conservadorismo exacerbado em sua forma de atuar no mundo e para o mundo?
E por último, mas não menos importantes, por que estes espíritas defendem um espiritismo apolítico, e por isso mesmo estático em seu devir, e que desta forma não dialogue com as questões de seu tempo?
Poderíamos escrever mais um livro tentando explicar todos estes fenômenos sociais narrados aqui, por fim, alguns dos referidos irmãos das hostes espíritas, fogem da discussão no campo teórico das ideias, para a disseminação de conteúdos agressivos, desrespeitosos, caluniosos e deturpados, que em nenhum momento dialogam com a doutrina espírita sob nenhum aspecto.
Em sua acepção mais vasta, o livre-pensamento significa: livre-exame, liberdade de consciência, fé raciocinada; simboliza a emancipação intelectual, a independência moral, complemento da independência física; não quer mais escravos do pensamento, pois o que caracteriza o livre-pensador é que este pensa por si mesmo, e não pelos outros; em outros termos, sua opinião lhe é própria. Assim, pode haver livres-pensadores em todas as opiniões e em todas as crenças. Neste sentido, o livre-pensamento eleva a dignidade do homem, dele fazendo um ser ativo, inteligente, em vez de uma máquina de crer. (KARDEC, Allan, 2018)
Não custa lembrar que para sermos, como diz Kardec na Revista Espírita de 1867, livres pensadoras e livres pensadores, e propormos uma discussão democrática, não precisamos de chancela de nenhuma personalidade ou ente federativo. Porém, não defendemos a infalibilidade de nossos pensamentos, mas, o direito de expressa-los, assim como defendemos que todas, todos e todes os espíritas possuam este mesmo direito, independente da sua percepção de mundo, ou seja, o que vai definir o poder de voz, não é, e não será a ideologia defendida pela pensadora e/ou pelo pensador, ou se ela ou ele é ou não vinculado a qualquer tipo de institucionalização, o que valida a referida manifestação intelectual é, o simples fato de entender as palavras de Kardec: (KARDEC, Allan, 2018)
“Neste sentido, o livre-pensamento eleva a dignidade do homem, dele fazendo um ser ativo, inteligente, em vez de uma máquina de crer”. Grifos meus!
Pois bem, Kardec nos conclama a uma ação crítica, na construção de toda à discussão filosófica e intelectual que venhamos a produzir, seguindo os princípios do Espiritismo, somos convidados a prática da criticidade e a não nos transformarmos em simples máquina de reprodução de crenças e de conteúdo
Daí surge toda a autoridade de quem venha propor de maneira séria e comprometida com estudos e pesquisas igualmente sérios e comprometidos o seu espaço, direito e lugar de fala.
As discussões sobre as temáticas sócias dentro dos universos espíritas, tem como objetivo aproximar o espiritismo das questões da sociedade atual, bem como propor aos seus adeptos uma visão e uma vivência do mundo à partir da realidade que marca a sociedade do século XXI e de forma pedagógica munir os atores sociais de recursos para darem conta de forma autônoma, de suas próprias existências.
Em que pese, não haverá mundo de regeneração sem igualdade e justiça social, pois o mundo dos Espíritos não é de nossa propriedade, desta forma, não faremos como costumamos fazer no mundo dos encarnados, criando processos sociais seletivos, esperando que o plano espiritual receba apenas, os que no universo dos vivos, são os privilegiados pela sua cor, orientação sexual e/ou poder aquisitivo.
É realmente nosso dever problematizar, tentarmos dentro do possível, construir discussões que nos levem a produção de ações que visem nos tirar da zona de conforto, que invariavelmente nos mantém adormecidos no universo social tão desigual e injusto como o que forma a sociedade brasileira.
Para os que se sentem contemplados em doarem o pão sem o envolvimento social, sem a problematização para a busca de alternativa que gerem igualdade e justiça social, que durmam o sono dos inocentes, ou durmam apesar dos inocentes.
Boas reflexões - livre pensar, avaliar, criticar à luz da razão, do bom senso e da lógica q nos seja possível, visando sobretudo a promoção e a inclusão social pra todos/as/es.
ResponderExcluirExcelente texto. Vou recomendar para espíritas conhecidos meus que ainda dormem apesar dos inocentes.
ResponderExcluirPerfeitas colocações meu caro amigo Alexandre. Realmente grande parte dos espíritas, engessados em moldes federativos, permanecem adormecidos. E tentam trazer a Doutrina Espírita para o círculo estreito do dogmatismo religioso.
ResponderExcluirAs reflexões de Alexandre abrem o espaço para discutir o comportamento espírita diante das demandas sociais estruturadoras para uma verdadeira regeneração. Não dá para creditar numa transformação apenas esperando a ação dos espíritos. Precisamos participar criando ferramentas de engajamento e inclusão além do assitencialismo. Parabéns
ResponderExcluirExatamente assim. Urge vivenciarmos a doutrina por responsabilidade própria e com o sentimento verdadeiro de irmandade. Chega de igrejismo hipócrita ou cego. Gratidão Alexandre.
ExcluirRealmente o texto nos leva às mais profunda reflexões, mas também mostra que, enquanto aceitarmos o Espiritismo sacro, ou seja religioso como um fim e não como um meio de transformação, e abdicar- nos de usufruir da filosofia e ciências espírita Kardequiana, que é uma lupa por excelência na visualização da Doutrina de Jesus, continuaremos nesse disvirtuamento. Afinal, ainda somos muito carentes de religião.
ResponderExcluirAntônio Ferreira 14/05/22
Alexandre trás para mesa debate uma inquietação extremamente necessária, que incomoda uma parte bem significante da população, até porque, uma outra parcela da sociedade vive realidades bem antagônica a que vive muitas pessoas que se dizem Espírita e que infelizmente se esquivam dessa discussão que é gritante e nos chama constantemente a nos indignar.
ResponderExcluirAlexandre trás para mesa debate uma inquietação extremamente necessária, que incomoda uma parte bem significante da população, até porque, uma outra parcela da sociedade vive realidades bem antagônica a que vive muitas pessoas que se dizem Espírita e que infelizmente se esquivam dessa discussão que é gritante e nos chama constantemente a nos indignar.
ResponderExcluirGilmário Agra.
Excelente texto meu irmão Alexandre, serve-nos de alerta para sairmos desta letargia que a maioria de nós vivemos. Muita teoria, pouco envolvimento com as causas urgentes que nos cercam... "é cada um por si e Deus por todos
ResponderExcluirComentário do nosso amigo André Luiz Honorato
Excelente texto meu irmão Alexandre, serve-nos de alerta para sairmos desta letargia que a maioria de nós vivemos. Muita teoria, pouco envolvimento com as causas urgentes que nos cercam... "é cada um por si e Deus por todos nós!"
ResponderExcluirExcelente reflexão querido amigo. Consciência social é caminho seguro da vivência do amor. Parabéns!
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