Morro da Favela, obra de Tarsila do Amaral |
"A vida social é a pedra de toque das boas e más qualidades." Allan Kardec.
Na antiguidade, e por muito tempo ainda, quando se queria verificar se uma pedra era preciosa, se se tratava de um diamante verdadeiro, a peça era submetida a um atrito à essa "pedra de toque". Conforme o resultado, podia-se constatar a sua qualidade, boa ou não, verdadeira ou falsa.
Portanto, podemos compreender o que queria dizer Allan Kardec ao fazer tal comparação com relação à vida social.
Desde os tempos mais remotos, o ser humano, ainda que muito primitivo então, já demonstrava seu caráter gregário, já revelava tratar-se de um ser social - naturalmente que, naquelas épocas, sua vida social se limitava praticamente à busca de companhia para reprodução e proteção, o que, resumindo, era quase que uma questão de sobrevivência.
Porém os séculos foram se sucedendo e, mediante imensas dificuldades, o homem foi progredindo intelectual, técnica, tecnológica e cientificamente, até mesmo devido a essas dificuldades, à necessidade de superá-las e ao anseio de felicidade que a todos impulsiona.
Todavia, a par todo esse progresso, elaborado milênio após milênio, a questão moral, ética, fraterna, continua vergonhosamente em desvantagem. O instinto de sobrevivência continua feroz, fazendo-nos priorizar o interesse pessoal, que a nossa doutrina espírita aponta como origem do egoísmo e do orgulho (OLE q.914).
Mais preocupado com seu bem-estar material, com aquisição de poder e fortuna, o homem-lobo (muitas vezes sob pele de cordeiro) que (ainda) somos, (ainda) está disposto a (quase) tudo para conquistar e manter o que, na verdade, pode perder a qualquer momento, pouco se preocupando com o que deverá reter verdadeiramente: suas aquisições morais, seus bens espirituais.
Por isso a importância do convívio, essa "pedra de toque" que faz ressaltar as eventuais qualidades já elaboradas e pode fazer surgir as outras ainda imersas sob a crosta das nossas imperfeições.
Na dificuldade do contato diário, em família, no trabalho, compreendemos, mesmo que a contragosto, o quanto nos falta para exercitar essa abnegação a que se refere Kardec ao afirmar que "a comunidade é a abnegação mais completa da personalidade".
Somos apaixonados pela nossa personalidade; achamos estar sempre certos; sermos sempre os donos da verdade; o eu e o meu sempre vale mais do que o outro - amar a si mesmo ainda está à frente do amar ao próximo...
E isso faz toda a diferença na vida em comunidade, essa mesma comunidade que buscamos desde os tempos remotos. Hoje ainda queremos a comunidade para nos servir, para nos servirmos dela de acordo com as nossas necessidades supérfluas e nossos caprichos egoísticos.
Conviver, compartilhar, conceder são para nós verbos cuja prática é-nos ainda bastante difícil. Ao tempo em que conseguirmos compreender que viver, partilhar e ceder estão profundamente interligados e que conjugados dão-nos a chave para um inter-relacionamento mais harmonioso e solidário, certamente construiremos um mundo menos injusto, menos violento e, consequentemente, mais fraterno.
Terminamos essa reflexão com uma mensagem de um Espírito amigo na Revista Espírita de Allan Kardec, de março de 1867: "O homem não é um ser isolado; é um ser coletivo. O homem é solidário do homem. É em vão que procura o complemento de seu ser, isto é, a felicidade em si mesmo ou no que o rodeia isoladamente: não pode encontrá-la senão no "homem" ou na "humanidade", tanto que a infelicidade de um membro da humanidade pode afligi-lo."
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