Por Roberto Caldas
Viver a espiritualidade em sua essência não é tarefa fácil. Grupos humanos, apressados em viver da forma mais satisfatória e imediatista, arvoraram-se aos domínios do pensamento espiritual lançando os seus tentáculos ao mercado da fé. A sociedade humana resolveu, no seu afã de viver plenamente o momento, criar um mundo paralelo e descartável. A desconexão entre a rotina e o sagrado acaba por produzir comportamentos que se contradizem como se a espiritualidade e a materialidade fossem espaços estanques e desvinculados.
Foram inventados deuses de plástico. Ele condena e perdoa como se fosse um pai humano. Castiga quando zangado, mas passada a zanga se arrepende vendo a feição triste do filho oferecendo recompensas em pedido de desculpas por ter ralhado. Esse deus de plástico é oco e pode facilmente transformar-se em fantoche. Como tal passa a falar a linguagem de quem o manipula. Promete prêmios, pede valores pecuniários e vincula as promessas ao pagamento antecipado. Torna-se um vigilante zeloso dos interesses do manipulador e um perseguidor implacável de quem se anteponha aos objetivos descartáveis daqueles, os quais não se cansam de proclamar uma nova Galiléia que só se confirma para dentro das portas de suas próprias casas. Seus criadores riem da inocência aflita dos seguidores enceguecidos, ao largarem o deus de plástico em cima da mesa do escritório, concluído mais um espetáculo em que entendem ter alcançado êxito em enganar.
A realidade espiritual, no entanto, é bem diferente do que fazem supor aqueles que negociam Deus na bolsa de valores da eternidade. A vida espiritual é tecida em fios de responsabilidade, dispostos de forma tal que é possível fazer e refazer muitas vezes. A arte de transcender em direção ao sagrado partindo dos processos da rotina comum é capítulo que exige muitos aprendizados que só as múltiplas existências são capazes de carimbar nas consciências individuais, cada uma em seu tempo.
Respirar acima do senso de reatividade ao imediato. Desistir de construir pequenos deuses bonecos que correspondam aos desejos e aspirações pessoais é lição que demora a ser implantada na grade de experiências do Espírito imortal e exige discernimento para admitir a divindade num plano superior ao que comporta a inteligência humana.
A Doutrina Espírita dispõe de uma lógica que indica a incapacidade humana em compreender Deus em Sua Perfeição, mas disponibiliza conceitos numa linguagem que torna possível a compreensão ao sugeri-Lo na condição de inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, eterno, imutável, imaterial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom. Completamente inabordável aos mecanismos humanos de manipulação.
Ensina a Doutrina Espírita o cultivo da paciência com aqueles que negociam com os dons superiores da vida, sem que se perca a oportunidade de educar quando possível, em especial aquele que escapem da hipnose dos que intentam contra a saúde espiritual alheia fabricando deuses que não passam de uma hérnia dos seus egos. O convite é para que se busque a obra divina para servir ao invés de querer-se que Deus seja serviçal de obras humanas.
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