sábado, 27 de julho de 2024

ESPIRITISMO, EDUCAÇÃO E PRÁTICA SOCIAL

 

Por Alexandre Júnior

        Os atavismos, bem como, o fruto dos nossos aprendizados, as nossas experiências e vivências, as culturas, formam os conjuntos de costumes e hábitos que nos definem.

            Estes aprendizados, podem se dar, de forma traumática, prazerosa, educativa, pedagógica, e até casual. Daí existirem os processos educativos formais e informais.

            A relação destes seres humanos uns com os outros, as trocas, as partilhas, e as tensões na obtenção, conquistas, apreensão, aprendizados e expertises, formam as sociedades.

            Erigir, instituir, ou exigir a ação e a produção de sujeitos unos, diante de toda à diversidade que forma estes seres espirituais, não parece ser um pensamento espírita, dizemos sobre a formação da integralidade do Ser, que contempla os aspectos: afetivos, intelectuais, emocionais, espirituais e físicos, que dão vida ao mundo social. Não levar estas peculiaridades em consideração, é alijar as subjetividades destes sujeitos, e inobservar o que de fato os tornam humanos.

O espiritismo defende uma educação, que enquanto processo pedagógico, tem em suas bases a formação de novos hábitos e caracteres.² Quando de forma sistemática, nos opomos as mudanças impostas pelo tempo, perdemos o conceito que norteia o princípio, e sendo assim, nos tornamos incapazes de tornar a ação eficaz e de facultar a este agente social envolvido, a possibilidade de mudar de acordo com a exigência da temporalidade. Outro sim, como mudarmos se somos avessos a mudanças? Esta negação as transformações sociais, pode ser, em algum momento, responsável pelo engessamento dos conceitos espíritas, ou a dogmatização dos seus princípios, tal qual uma religião ortodoxa.

            Este diálogo é extremamente importante, para que possamos entender o processo educativo, do ensino/aprendizagem, a partir de uma perspectiva espírita, espiritualista, imortalista, reencarnacionista, autônoma, libertadora e libertária.

            A negação deste processo inviabiliza os diálogos, bem como, estabelece práticas ortodoxas nas práxis espiritistas, que são antagônicas ao próprio devir espírita!

            Para que o espiritismo pudesse exercer uma ação transformadora na sociedade, entendendo a educação a partir de Kardec, ele, o espiritismo, precisaria propor junto a sociedade, diálogos que viabilizassem a construção de políticas de ações afirmativas, que levassem em consideração a integralidade do Ser e observassem as demandas e realidades que compõem a sociedade contemporânea.

            Enquanto este processo formador, tiver o caráter de negar aquilo que é o humano em todas as dimensões já explicitadas anteriormente, e insistir em não dialogar com a diversidade que forma o referido agrupamento de seres, este espiritismo será incapaz de agir em sua mais pura condição, e por conseguinte, não cumprirá com o seu papel, segundo, Deolindo Amorim³, de interferir no mundo, produzindo justiça e igualdade social.

            Quanto ao verdadeiro “cavalo de Tróia”, ou as “cruzadas modernas” ou a “caça às bruxas”; é rechaçar o diálogo por pré-conceito, e/ou por ignorância, é estabelecer verdades montadas nos castelos das areias do dogmatismo, e na indisposição a dialogicidade, que é a antítese do processo educativo, é cravar, perseguir e cancelar pessoas, às tornando inimigos pessoais, é ser inábil e incapaz de discutir e discordar no campo das ideias, e não das pessoas!

            Convido-nos a uma reflexão, um repensar às práticas educacionais espíritas, a partir da leitura de um Kardec, que em nenhum momento, e sob nenhuma circunstância, abandonou o diálogo.

            A ação da educação espiritista, apresenta sim uma proposta Freiriana de busca pela autonomia, que visa estabelecer condições e munir de recursos os Seres para a produção de uma sociedade mais justa e mais igual, desta maneira, estabelece a liberdade em suas práticas e oportuniza a todas, todos, e todes a possibilidade de ascensão, sem desmerecer nenhuma realidade ou romancear sofrimentos e dores, ou ainda, o enaltecimento de uns sobre outros!

            Vale salientar que nenhuma ação aviltante dos Direitos Humanos encontra razão de existir no conjunto de saberes do espiritismo, ficando a cargo das pessoas espíritas, esta confusão epistemológica, o que nos arremete novamente a Kardec, pergunta 806, do O Livro dos Espíritos, quando a referida resposta nos leva a entender que as desigualdades sociais, não são ações divinas, portanto, devem ser tratadas e resolvidas a partir de ações humanas no campo das políticas públicas e sociais!

            Pensamos então, sendo dos seres humanos a responsabilidade com as injustiças; fome, miséria, desemprego, machismo, LGBTQIAP+Fóbia, sexismo, xenofobia, racismo, racismo religioso, feminicídio, devem ser resolvidos à partir das já referidas políticas públicas, por conseguinte, refletimos, Deus não criou PIB – Produto Interno Bruto, não indexou o preço do combustível ao dólar, não tirou título de eleitor e votou em políticos e consequentemente em suas políticas, capitalistas, neoliberais, armamentistas, preconceituosas e que flertam com fascismo, por exemplo.

            A educação, visa dar condições, munir as pessoas de recursos que as faça compreender o seu lugar no mundo e as responsabilidades que lhe recaem com suas ações e escolhas, conduzir estes espíritos a uma prática autônoma que lhes conceda a competência de serem senhores e senhoras de si mesmos, protagonistas de suas próprias histórias e com plena capacidade de tornar a Terra um lugar melhor para todas, todos e todes.

            Até que está autonomia seja alcançada e a educação, que é um que fazer político, seja apreendida, enquanto este despertar pedagógico não se transforme em consciência de classe, com ênfase em gênero e raça, a opressão será uma marca que caracterizará as ações que visam manutenção de status quo, e não possuem no amor a sua gênese,

            “É quando existir é uma questão de resistência. ” (JÚNIOR, Alexandre 2022)

 

Referências Bibliográficas

JÚNIOR, Alexandre. Espiritismo, Educação, Gênero e Sexualidades. Um diálogo com as Questões Sociais. Recife: CBA Editora, 2022. p.45.

AMORIM, Deolindo ,O Espiritismo e os Problemas Humanos. (Amorim, 1991) p. 8 AMORIM, Deolindo. O Espiritismo e os problemas humanos. União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, USE Editora. 1991.

KARDEC, Allan. O livro dos espíritos: princípios da doutrina espírita. Livraria Allan Kardec Editora, 2007.

2 comentários:

  1. Leonardo Ferreira Pinto28 de julho de 2024 às 07:35

    Que texto importante. Muito bom.

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  2. Ótima reflexão. É comum se indicar, no outro, o seu passado ou de seu grupo social os agravamentos de suas necessidades. É um ato indicativo da zona de conforto de quem menospreza, desmerece o outro. Nisso se incluem razões sociais das mais diversas naturezas, como religião, trabalho, lazer, educação... Onde existir uma diferença, uma disputa por poder, por privilégios, existe uma dosagem de preconceito. Alexandre fala da resistência de grupos sociais em admitir Políticas Públicas que incluam aqueles que são diferentes e sofrem discriminações, e aponta as bases da Doutrina Espírita que propõe o diálogo e a inclusão de todos, independente de sua condição social. Todos estamos aqui para evoluir. E não existem juízes nem carrascos para conformar os encarnados. Isto é foro de cada um e responsabilidade social de todos.

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