Por Jorge Luiz
O termo “estupidez” tem origem no latim “stupidus”, que significa “estupefato”, “entorpecido” ou mesmo “insensato”.
A estupidez, segundo a teoria de Cipolla (2020), baseia-se em quatro leis fundamentais:
a) Todo mundo subestima, sempre e inevitavelmente, o número de indivíduos estúpidos em circulação;
b) A probabilidade de uma pessoa ser estúpida independe de qualquer outra característica da mesma pessoa;
c) Uma pessoa estúpida é aquela que provoca perdas para outras pessoas ou um grupo de pessoas enquanto não obtém nenhum ganho para si, e possivelmente incorre em perdas;
d) As pessoas não estúpidas sempre subestimam o poder de causar danos dos indivíduos estúpidos. Em particular, pessoas não estúpidas se esquecem constantemente de que em todo momento e lugar, e sob qualquer circunstância, lidar e/ou se associar com pessoas estúpidas resulta infalivelmente em um erro altamente custoso. (Cipolla, 2020).
O fato é que, em alguns momentos de nossas vidas, pensamos ou agimos com laivos de estupidez. Somos estúpidos em certas ocasiões, o que faz a diferença é que percepções de sensatez fazem com que se conscientize e se arrependa da ação. No que se refere aos estúpidos, segundo Cipolla (2020), não são esperadas atitudes que sinalizem sensatez. Eles estão nos nossos entornos, principalmente nesses tempos; em nossos trabalhos; em nossas famílias; no trânsito; nos shoppings. Nada têm eles de divertidos, e muito pelo contrário, têm defeitos e causam ruptura em laços familiares e amizades. E o que é mais paradoxal é que as pessoas sensatas têm dificuldade de entender comportamentos irracionais, que caracterizam o estúpido, por isso as pessoas estúpidas são perigosas demais, considerando que elas podem molestar qualquer um sem razão alguma.
O estúpido considera suas crenças como regra universal, sempre considerando a sua liberdade acima dos direitos dos outros.
Cipolla (2020) considera, primeiro, que a estupidez está no componente genético, uma vez que indivíduos herdam doses excepcionais do gene da estupidez e, em virtude dessa herança, desde o nascimento pertencem à elite de seu grupo. O segundo fator determinante é a posição de poder e importância que ocupada na sociedade. Não é muito difícil encontrar entre burocratas, generais, políticos e chefes de Estado exemplos claros de indivíduos basicamente estúpidos cuja capacidade de causar danos era (ou é) aumentada de forma alarmante pela posição de poder que ocupavam (ou ocupam). Representantes religiosos não podem deixar de serem considerados. (idem). O Brasil, atualmente, é repleto deles, reforça Cipolla no campo político e religioso.
As redes sociais deram voz ao estúpido título de influencer (influenciador), e acredite se quiser, existem milhares de seguidores, que como manadas, replicam suas estupidezes, gerando milionários estúpidos.
Causas da estupidez
Os Espíritos dos pais têm como missão desenvolver o dos filhos pela educação; isso é para eles uma tarefa. Se nela falhar, será culpado. (Kardec, 2000 – questão 208). É no contexto familiar que se inicia o processo dirigido à construção do sujeito – subjetivação – passando a compreender como a “verdade”, a “beleza” e o “bem”.
De inspiração divina, a família é a oportunidade superior do entendimento e da verdadeira fraternidade, de onde surgirá o grupo maior, equilibrado e rico de valores. (...) No lar, fomentam-se e desenvolvem-se os recursos da compreensão humana ou da agressividade e ressentimentos contra as demais criaturas, diz o Espírito Joanna de Ângelis.” (Franco, 2008). A educação das crianças hoje é terceirizada, – babás, creches, parentes – voltada para a competitividade e o consumo. Infelizmente, sem dispor de modelo e nem uma sociedade funcional, naquilo que responda às necessidades do Espírito, enquanto encarnado, no tocante a sua origem, natureza e destinação, a família, por consequência, também é disfuncional.
A família, assim, tornou-se um aparelho de replicação ideológica do próprio sistema de reprodução na forma de mercadoria, estabelecendo em seu seio a unidade primordial para a sustentação das mínimas condições existenciais do trabalhador e, ainda, a reprodução geracional da própria força de trabalho. (Mascaro, 2013).
Diferente de Cipolla (2020), que considera que a estupidez é genética, Dietrich Bonhoeffer considera que a estupidez não é propriamente um defeito congênito, mas um processo em que as pessoas se tornam estúpidas sob certas circunstâncias, ou deixam-se fazer estúpidas de forma recíproca (Bonhoeffer, 1943).
Saído do seio da família sem os valores enobrecedores do indivíduo, no processo de sociabilização, ele é inundado pelos demais aparelhos ideológicos do sistema dominante, tendo como resultante a estupidez, compreende-se Bonhoeffer.
Para Bohnoeffer, a estupidez é mais perigosa que a maldade. Tornando-se assim um instrumento sem vontade própria, o estúpido será capaz de todo o mal e, ao mesmo tempo, incapaz de reconhecer-se mau ou de reconhecer maldade em seus atos. Aqui está o perigo de um abuso diabólico. Como resultado, as pessoas serão destruídas para sempre. (...) Não se trata essencialmente de um defeito intelectual, mas algo que atinge a humanidade do sujeito. Tanto é assim que existem pessoas de inteligência extraordinariamente ágil que são estúpidas e pessoas intelectualmente pesadas que podem ser tudo, menos estúpidas. (Bonhoeffer, 1943).
A transformação da inteligência em estupidez é um aspecto tendencial da evolução histórica. (Horkheimer & Adorno).
A estupidez na política e na religião
É preciso ter em mente, segundo a Terceira Lei Fundamental, que boa parcela de população votante corresponde a pessoas estúpidas, e eleições oferecem a todas elas uma oportunidade magnífica de fazer o mal a todas as outras pessoas sem ganhar nada por sua ação. Ao fazer isso, elas contribuem para manter o nível entre aqueles que estão no poder. (idem). Essa mesma lei classifica quatro categorias básicas: o inteligente, o vulnerável, o bandido e o estúpido.
As repercussões dessa lei, nos últimos tempos, ao redor do mundo, têm gerado uma quantidade significante de pesquisas e obras editadas sobre esse nível de estupidez, que ressumam no recrudescimento das ideias do extremismo de direita, de exponenciais fascistas.
Especificamente no Brasil, nos últimos pleitos, a polarização entre os ideais progressistas e conservadores fez explodir, como um vulcão expelindo lavas, um universo de estúpidos, segundo o que atesta a lei de Cipolla.
G. K. Chesterton, provavelmente o maior e mais genial apologeta do catolicismo no século XX, afirma que “uma palavra estúpida de um membro da Igreja faz mais estrago do que cem palavras estúpidas de pessoas de fora da Igreja”. Embora sendo católico, a frase de Chesterton serve invariavelmente para todos os segmentos religiosos, inclusive espírita, que também estão se destacando nesse cenário. Allan Kardec, na mesma direção que Chesterton, afirma que “mais vale um inimigo confesso do que um amigo inconveniente”, leia-se estúpido.
A estupidez entre os religiosos e políticos elevou a estupidez à excelência com lugares de destaques nos tapetes dos palácios e parlamentos. O escritor e bioquímico russo, Isaac Asimov profetizou que “quando a estupidez é considerada patriotismo, é perigoso ser inteligente.” Retrato do Brasil, um dia desses.
A estupidez e o Espiritismo
A Doutrina Espírita, na condição de filosofia espiritualista, desconsidera a visão materialista de Cipolla, ao considerar a estupidez inata. Entretanto, ela dialoga com as definições de Bonhoeffer, Adorno e Horkheimer.
A classificação dos Espíritos, segundo a Doutrina Espírita, funda-se no seu grau de desenvolvimento, nas qualidades por eles adquiridas e nas imperfeições de que ainda não se livraram. (Kardec, 2000, questão nº 100). Como um corolário, as variações da evolução dos Espíritos são tênues. Kardec, no entanto, elabora uma escala onde ele considera predominância da matéria sobre o Espírito. Ele admite três categorias principais: Espíritos Imperfeitos, Espíritos Bons e Espíritos Puros, que atingiram a suprema perfeição. Ele as divide em subclasses, dentre as quais, as dos Espíritos Impuros – da ordem dos Espíritos Imperfeitos –, classe que se podem incluir os estúpidos. (idem).
A Doutrina Espírita não os considera condenados pelo resto da vida nesse estágio de estupidez, através das reencarnações o Espírito vai se desfazendo, gradativamente, dessas imperfeições. O próprio Kardec afirma que não é a carne que é fraca, e sim o Espírito. Para o Espiritismo não há seres incorrigíveis.
O Apóstolo Paulo ensina gravitar para a unidade divina, eis o fim da Humanidade. Para atingi-la, três coisas são necessárias: a Justiça, o Amor e a Ciência. Três coisas lhe são opostas e contrárias: a ignorância, o ódio e a injustiça (Kardec, 2000, questão nº 1009).
A estupidez é transitória, pois faz parte da evolução do Espírito.
Referências:
BONHOEFFER, Dietrich. Da estupidez. Unisinos, 1943.
FRANCO, Divaldo. Constelação familiar. Bahia: Leal, 2008.
HORKHEIMER, Max e ADORNO, Theodor W. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1944.
KARDEC, Allan. Revista espírita – março de 1863. Brasília: FEB, 2004.
_____________. O livro dos espíritos. São Paulo: LAKE, 2000.
SITE:
https://olharintegral.com/o-pecado-da-estupidez-uma-licao-de-g-k-chesterton/.
Magnífico artigo. De minha parte não tenho mais paciência com estúpidos
ResponderExcluirOlá, Léo! Gratidão pela participação. Busquemos tê-la! Jorge Luiz
ResponderExcluir