Por Doris Gandres
Deolindo Amorim, renomado espírita, em seu livro O Espiritismo e os Problemas Humanos, capítulo Definição e Opção, afirma que: “O Espiritismo é, para nós, uma filosofia de vida, não é simplesmente uma crença”. E continua afirmando, no capítulo Entre Deus e César, que: “o pensamento social da doutrina espírita ainda não foi descoberto em sua plenitude”; e ainda que: “a doutrina espírita nunca esteve e não está à margem dos problemas humanos.” (1)
Essa visão clara do pensamento e do aspecto social do Espiritismo deve ser, ou deveria ser, de suma importância para o espírita. E, certamente, quando se lê inteiramente esses capítulos, percebe-se nitidamente que Deolindo não está se referindo ao assistencialismo, lamentavelmente ainda necessário e largamente praticado por vários segmentos religiosos e laicos. Ele se refere à questão social propriamente dita, que abrange a situação e a condição de vida das criaturas; aquela que se debruça sobre os problemas humanos, buscando entendê-los, e com eles interage na tentativa do efetivo e apropriado auxílio.
E essa visão, o bom entendimento desse aspecto doutrinário, fincado na realidade da vida terrena, nunca foi tão importante, tão imprescindível eu diria mesmo, atualmente, quando a humanidade terrena passa por momentos conturbados, difíceis, com graves e dolorosos fatos, diante de ações e atitudes as mais paradoxais, violentas, desrespeitosas, arbitrárias e de autoritarismos desmedidos e desumanos.
A questão social hoje é das mais complexas, alcançando níveis de desigualdades os mais assustadores, gerando insatisfações agudas e mesmo profunda revolta, o que é extremamente nocivo e perigoso para o bom desenvolvimento da humanidade em geral.
Os desmandos e abusos são de tal ordem que já não podemos, nem devemos, fechar olhos e ouvidos aos acontecimentos e pretender que ignorar o que se passa no mundo de César não afeta nosso avanço na escala do progresso evolutivo. Jesus foi muito claro quando nos advertiu “a Deus o que é de Deus, a César o que é de César” porque, se somos espíritos vivendo uma experiência física, terrena, com suas implicações e suas responsabilidades no mundo de César, temos que agir em conformidade com tal situação, naturalmente respeitando, tanto quanto possível a cada um, as leis divinas que tudo e todos abrangem e afetam, individual e coletivamente.
Na questão 573 de O Livro dos Espíritos (2), a resposta dos Espíritos Superiores à pergunta de Kardec sobre qual seria a missão dos espíritos encarnados foi absolutamente transparente e clara: “Instruir os homens, ajudá-los a avançar, melhorar as suas instituições, por meios diretos e materiais.” Será que não está óbvio qual o nosso papel, sobretudo para nós, espíritas conhecedores (bem ou mal, pouco ou muito) dos princípios doutrinários?
De que mais precisaremos? Jesus foi óbvio – “fazer ao próximo o que desejo ele me faça”. O Espiritismo nos desvendou as leis naturais – lei de sociedade, de igualdade, de liberdade, de progresso, de justiça, amor e caridade. Assegurou-nos que “os homens se entenderão quando praticarem a lei de justiça” (O Livro dos Espíritos, q.812a). (3)
Portanto, penso que talvez seja a hora de refletirmos com mais cuidado sobre esse aspecto destacado por Jesus, Allan Kardec e Deolindo Amorim; talvez tenha chegado o momento de repensarmos a nossa posição, a nossa postura, como espíritas, dentro do presente quadro da conjuntura terrena em que estamos inseridos, a fim de não sofrermos as consequências inerentes à nossa omissão.
Fontes bibliográficas:
Deolindo Amorim, livro O Espiritismo e os Problemas Humanos
Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, q.573
Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, q.812a
Faz-se necessário uma reflexão profunda hoje e sempre
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