domingo, 24 de junho de 2012

A SUSTENTABILIDADE DA GESTÃO ESPÍRITA


   Por Jorge Luiz

   Sustentabilidade deriva de sustentável. Uma gestão sustentável é dirigir uma organização valorizando todos os fatores que a englobam. No contexto organizacional espírita esses fatores têm que ser equacionados com o pensamento Kardeciano. Chamo esse processo de Sustentabilidade da Gestão Espírita.
  A empresa sendo desenvolvida por pessoas acabou assimilando características pessoais. Uma instituição de qualquer natureza tem crenças, valores, filosofia de trabalho e alma, o que levou a psicologia organizacional a considerá-la um ser vivo.
  É óbvio que se tratando de instituições espíritas, que visam à melhoria moral do indivíduo, seus parâmetros e diferenciais são outros. Os valores, crenças, filosofia de trabalho são bem diferentes das consideradas no mundo dos negócios, e devem, necessariamente, ser conduzidas por princípios ético-espíritas.  Hoje já é certo ligar o sucesso e fracasso de uma organização a seu comportamento ético.

  Os artigos dos confrades Francisco Castro (CE) e Marcos Milani (SP) publicados recentemente nesse blog abordam questões que são “gargalos” hoje na gestão espírita: viabilidade financeira, carência de trabalhadores, inabilidade administrativa de naturezas diversas e ignorância doutrinária. Eu adiciono mais uma: baixa frequência nas reuniões públicas que se verifica na maioria das Instituições Espíritas.
  As abordagens ofertadas por eles são ricas em caminhos e alternativas para a superação dessas dificuldades.
  Refletindo sobre os comentários, principalmente pelo fato de haver uma relação intrínseca entre si, resolvi trazer à baila nesse espaço a metodologia de Peter Drucker,(1) (1909-2005) desenvolvida para o Terceiro Setor, no qual se inserem as organizações espíritas.
  Cabe, inicialmente, refletir sobre as perguntas sugeridas por Drucker e respondê-las segundo o modelo de gestão espírita:
  •   Qual a nossa missão?
  •   Quem é o nosso público-alvo?
  •   O que o nosso público-alvo valoriza?
  •   Quais são os nossos resultados?
  •   Qual é o nosso plano?
  Claro que é muito mais do que responder perguntas. Demanda processo de autoavaliação que integrará todas as dimensões vivas da Instituição, e se desenvolve em três etapas. a) preparando-se para a autoavaliação; b) conduzindo o processo de autoavaliação; c) concluindo o plano. Para Drucker, o processo visa “Tornar eficazes os pontos fortes das pessoas e irrelevantes suas fraquezas.” Coerente com o pensamento espírita. Aprofundarei essas etapas do processo no próximo “canteiro”.
  A acepção druckeriana visa converter o conhecimento em ação efetiva. Significa estimular um engajamento da diretoria, dos colaboradores e frequentadores em um processo desafiador de autodescoberta organizacional.
  A Instituição Espírita precisa adequar-se aos grandes desafios contemporâneos. Nesse espaço de tempo, muitas teorias administrativas foram sendo desenvolvidas e o modelo de gestão espírita pouco se ajustou a essas transformações. Existe uma administração espírita que ainda busca a sua própria identidade.
  Os processos do mundo corporativo, no entanto, são perfeitamente adaptáveis às necessidades das instituições espíritas. O Espiritismo rompe com os mitos entre o sagrado e o profano. No entanto, isso ainda é atávico em um bom número de espíritas.
  O ensaio em questão alinha-se com o pensamento de Allan Kardec expresso em Obras Póstumas, no capítulo Constituição do Espiritismo, item IX, Vias e Meios. Observem:

“Para alguém fazer qualquer coisa de sério, tem que se submeter às necessidades impostas pelos costumes da época em que vive e essas necessidades são muito diversas das dos tempos da vida patriarcal. O próprio interesse do Espiritismo exige, pois, que se apreciem os meios de ação, para não ser forçoso parar no meio do caminho. Apreciemo-los, portanto, uma vez que estamos num século em que é preciso calcular tudo.”

  Ditas no século XIX as palavras ainda são atualíssimas em nossos dias.
 Há um “passivo” doutrinário e organizacional no mundo institucional espírita que só se corrigirá com a gestão sustentável da instituição espírita. Não estou aqui criando um espaço com diálogos infrutíferos, com complexas teorias e vazios de objetividade. Estou me referindo a um método científico de resultados. Peter Drucker demonstrou que a administração moderna é uma ciência que trata sobre pessoas nas organizações.
  Contudo, há a necessidade de um desnudar institucional em todas as suas dimensões para que se alcance resultados mais efetivos. É o mais desafiador!
“É de lastimar, sem dúvida, que tenhamos de entrar em considerações de ordem material, para alcançarmos um objetivo todo espiritual”, adverte o Codificador.
  Avancemos nessa idéia!
 
(1)  DRUCKER, Peter. Terceiro Setor. Ed. Futura. São Paulo. 2001.

Peter Ferdinand Drucker, (nasceu em 19.11.1909 em Viena, Áustria e faleceu em 11.11.2005, em Claremont, Califórnia, EUA) foi um escritor, professor e consultor administrativo de origem austríaca, considerado como o pai da administração moderna, sendo o mais reconhecido dos pensadores do fenómeno dos efeitos da Globalização na economia em geral e em particular nas organizações. 

Um comentário:

  1. O que está neste texto é de uma importância muito grande para nós dirigentes espíritas. Parabéns amigo!

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