Por Jorge Luiz
Garimpando na
internet localizei um material muito rico elaborado pelo confrade Alkíndar de
Oliveira (1) sobre como criar “Grupos
de Diálogos” nas organizações espíritas.
Resolvo,
portanto, escrever um “canteiro” sobre o Diálogo nas Instituições Espíritas,
partindo do quanto é imperativo o uso desse atributo para a sustentabilidade
das relações interpessoais em nossas Casas.
O
Mestre Galileu asseverou que “onde estiverem dois ou três reunidos em meu
nome, ali estou eu no meio deles
(Mt, 18:20). Fica assim instituído não o poder hierarquizante, mas sim o poder do diálogo, além do amor, como
requisito fundamental que norteará as experiências dos trabalhadores da Boa
Nova. Muito embora a expressão seja sempre requisitada para vivências
religiosas, o que é compreensível, o pensamento de Jesus extrapola essa
realidade.
Allan Kardec insere na Introdução de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” o filósofo ateniense Sócrates (469 a.C a 399 a.C), bem como seu dileto discípulo Platão (428 a.C a 348 a.C) como precursores da Doutrina Cristã e do Espiritismo. Mestre e discípulo ficaram célebres pelos seus diálogos.
Allan Kardec insere na Introdução de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” o filósofo ateniense Sócrates (469 a.C a 399 a.C), bem como seu dileto discípulo Platão (428 a.C a 348 a.C) como precursores da Doutrina Cristã e do Espiritismo. Mestre e discípulo ficaram célebres pelos seus diálogos.
Para
Sócrates a alma se purifica no diálogo (=
dialética) que era alcançado pela ironia-refutação
e a maiêutica, o partejar das ideias. Significava uma procura de consenso
entre pessoas com diferentes experiências de vida. Nesses diálogos cultivam-se
virtudes como o respeito, o saber ouvir, aceitar críticas às nossas posições, a
aceitar o erro como natural a qualquer empreendimento humano, a aprendizagem
com os outros e com as experiências do outros. Num genuíno diálogo Socrático cultiva-se a humanidade e constrói-se a autoconsciência. No contexto espírita figuraria como a humanização nas nossas
relações interpessoais, dentro da tríade desenhada pelo Espírito Joanna de
Ângelis: Espiritizar, Qualificar e
Humanizar a Casa Espírita, em analogia à tríade Kardeciana “Trabalho, Solidariedade e Tolerância.”
A
dialética contempla a tese, antítese e síntese. A síntese é o resultado do embate
entre a tese e a antítese. Através do diálogo o choque das opiniões é
solucionado pelo surgimento de uma terceira figura, o que leva a um acordo.
O
cenário espírita absorveu as influências contemporâneas e passou a cultuar a
retórica, em detrimento do diálogo, como ferramenta destinada a obter
concordância, arrebatamento e a admiração por qualquer coisa que se tenha dito.
Como afirma Theodore Zeldin, (2) “vencer a discussão tornou-se mais importante que descobrir a verdade. Obrigar os outros a concordar transformou-se
em fonte de autoestima. A retórica virou uma arma de guerra, capaz de subjugar
multidões.” Essas posturas pouco contribuem, ou contribuem quase nada, para
se promover tomadas de decisões seguras, viris e se alterar os rumos do
movimento e das organizações espíritas.
Allan
Kardec, em “O Livro dos Médiuns”, visando
a favorecer o diálogo sugere os pequenos grupos do que grandes associações. Propõe
a correspondência e a visitação entre os grupos para que, através do diálogo, possam formar o grande núcleo da família
espírita que um dia reunirá todas as opiniões, unindo os homens no mesmo
sentimento de fraternidade caracterizado pela caridade cristã.”
Quando
da elaboração da Constituição do Espiritismo, inserido em Obras Póstumas, o Apóstolo da Fé propõe uma comissão central,
composta de doze integrantes que ele considerava suficientemente numeroso para
se esclarecer por meio do diálogo de maneira a não dar azo ao arbítrio.
Em
um bom número de instituições espíritas o poder
do diálogo foi substituído pelos poderes
organizacional e pessoal. O primeiro, solidário, fraterno, autoiluminativo
e construtor de autoconsciência pelo exercício das virtudes. O organizacional é hierarquizante,
exercido pela autoridade que lhe é formalmente atribuída e pelas possibilidades
de utilizar a coerção e atribuir recompensas (não financeira). O pessoal, pelo exercício a partir de
características pessoais, carismáticas, de referência, de conhecimento, de
apoio/afeto e de competência interpessoal. Esses poderes, embora legítimos, se
não exercidos por meio do diálogo, descambam para o autoritarismo,
personalismo, profissionalismo religioso e o institucionalismo.
Em
algumas organizações espíritas falar ainda é perigoso, o que é deplorável.
Esses tipos de governanças são puramente excludentes, o que leva à
autoexclusão. O diálogo, ao contrário, é genuinamente includente. O diálogo contempla o pensamento complexo,
ou seja, a soma das partes é maior que o todo.
Chico
Xavier ao ser indagado sobre como identificar se um centro espírita vai bem, respondeu:
- Quando a reunião termina e ninguém vai
embora!
Só
se consegue isso pelo poder do
diálogo.
Cabe,
portanto, ao dirigente espírita desenvolver habilidades e competências para
construir “Grupos de Diálogos” no seio da sua Instituição, proporcionando a
sustentabilidade das relações interpessoais e o crescimento individual e
grupal.
1. Alkindar de Oliveira,
palestrante, escritor e Consultor de Empresas radicado em São Paulo-SP, profere
palestras e ministra treinamentos comportamentais em todo o Brasil. O material elaborado está no link: http://www.retirohumanizar.kit.net/noticias.htm
2. Nascido
em 1933, o historiador inglês Theodore Zeldin foi considerado pela revista
francesa Magazine Littéraire um dos cem mais importantes pensadores vivos da
atualidade.
Que preciosidade hein!! Refletir e por em prática tudo isso, para quem não tem costume, dói. Muito bom!
ResponderExcluirJorge, Precisamos divulgar mais esse blog o conteúdo dele é muito bom...parabens!!!
ResponderExcluirGrupo Espírita onde existe o diálogo, mantém-se forte e embasado nas leis de AMOR, pois foi justamente isso que o Divino Mestre veio nos ensinar. Nada lhe derrubará.
ResponderExcluirSerá que é tão difícil vivenciar o AMOR?
Mas o grande mal são as vivências egoístas, onde o que mais interessa é o 'EU' que corrói os corações, e o 'NÓS' fica somente na retórica.
Abraços Fraternos querido Jorge.
Embora institucionalmente organizada e liderada , o núcleo espírita , a casa espírita, somos todos nós . Grupos de diálogo (não confundir com reuniões participativas) seriam um momento onde , despidos da instituicionalidade , poderíamos debater questões inquietantes e importantes tendo a filosofia espírita como base e parâmetro. Penso que , dessa forma , os vínculos e a identidade do participante espírita com a sua casa seriam solidificados , uma vez que a casa tornaria-se referência para suas reflexões e discussões. Como espírita , sinto falta de um espaço onde eventos e pensadores contemporânos poderiam ser ricamente aproveitados.
ResponderExcluirAline Loiola
Parabéns pelo trabalho de divulgação, orientação e de contribuição que estão realizando, através desse blog.
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