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O que teria isso a ver com o
cotidiano dos grupos espíritas na atualidade?... Muita coisa!...
Em Casas equivocadamente
agigantadas, equipes trabalham por turno e mal se conhecem, pessoas viram
números e o velho e essencial acolhimento que começaria “dentro de casa” acaba
se perdendo em meio à distribuição de senhas para o passe e outras novidades em
nome da organização. A preocupação é atender e impressionar bem aos que chegam,
aos que vem de fora. Enquanto isso, no interior dos grupos, quanta gente
sofrendo de solidão acompanhada... Minguando afetivamente!
Importante avaliar como tem sido a
nossa relação com os companheiros de dentro, no cotidiano institucional
espírita. Conseguimos perceber seu olhar mais triste nesse ou naquele dia?
Quando desaparecem por algum tempo, o nosso primeiro pensamento é de censura ou
preocupação? Passa pela nossa cabeça que possam estar atravessando uma fase
difícil e, em caso afirmativo, nos mobilizamos para ampará-los? Aos que
retornam após um período de ausência, a manifestação tem sido de acolhimento e
alegria ou de cobrança?
Ah, as tais cobranças... Das
piadinhas sarcásticas e olhares enviesados ao dedo em riste, vale tudo para
manter o “bom andamento das atividades, em nome de Jesus”... Porém, vale a pena
pensar se tem sido oferecido afeto, compreensão e solidariedade na mesma medida
em que se cobra.
Favorecidos por regras monásticas
que inibem a espontaneidade e a afetividade entre os trabalhadores, os grupos
acabam resvalando para o extremismo. “O
silencio é uma prece”... Antes, durante e depois das reuniões. Ignora-se que
onde não há espaço para diálogo e autenticidade não pode haver uma relação
saudável e verdadeira. Assim, vestindo a armadura do formalismo que afasta - em
lugar da naturalidade que aproxima - temos nos tornado meros tarefeiros, cada
vez mais robotizados e indiferentes. Sem perceber, em vez de estar uns com os
outros temos apenas passado uns pelos outros, como se as pessoas fizessem parte
dos móveis e utensílios da Casa Espírita.
Muito comum entrar no grupo, assinar
a lista de frequência (uma espécie sutil de folha de ponto para espíritas) e
ligar no automático. A preocupação em ser impecável sobrepõe-se então ao
importar-se com. É que andamos muito ocupados em ser perfeitos. Mesmo que ser
perfeito signifique apegar-se a detalhes ínfimos e apontar a imperfeição alheia
para colocar em destaque a pretensa superioridade que ainda estamos longe de
possuir... Quanta ilusão!
Se o companheiro procura ajuda, lá
vem o julgamento implacável implícito na “receitinha de bolo”: Prece, água
fluidificada, redobrar a vigilância... Com direito, é claro, a sorrisinho
paternalista e tapinha nas costas. Dali cada qual pro seu lado e a cômoda
sensação de dever cumprido, sem que tenhamos, entretanto, caminhado um
milímetro sequer em direção às reais necessidades do outro. Sem contar que,
convenhamos, numa quase ditadura da pseudo-santidade como critério de
“promoção” a trabalhador espírita, raros são os que têm coragem de expor suas
dificuldades, por mais que estejam passando o pão que o diabo amassou. Afinal,
reza a lenda que espírita não pode estar sujeito aos problemas existenciais
inerentes aos “reles mortais”, como estresse,
depressão, frustração amorosa ou coisa que o valha. Daí o receio de se abrir,
pois mostrar alguma fragilidade pode significar perda de credibilidade e exclusão
dos trabalhos, pode render o estigma indigesto de obsediado.
Some-se a tudo isso o fato que,
embora espíritas, a maioria de nós tem vivido na prática como bons
materialistas. Interagindo numa sociedade altamente competitiva, temos sido
sutilmente seduzidos pelo supérfluo, em detrimento do essencial. O objetivo
primordial da vida passou a ser o sucesso profissional, social e financeiro,
que inclui produzir, consumir e ostentar (desde títulos acadêmicos e
profissionais a bens materiais). Mas ser “bem sucedido” dá muito trabalho. Os
inúmeros cursos, viagens e horas extras à noite, fins de semana e feriados,
somados à necessidade exacerbada de ter, tomam-nos muito tempo.
Então os
compromissos espirituais deixam de ser prioridade. Vão sendo adiados ou assumidos
pela metade, encaixados nas sobras de tempo que restam de tudo o que é material
e “urgente.” Passa-se então a ir à Casa Espírita quando dá... Só pra bater o
ponto... E de preferência “correndinho,” como quem dá um pulinho no
supermercado mais próximo só pra suprir uma ou outra coisa que está em falta na
despensa. Nem bem acabou o “assim seja” e as pessoas já saem feito foguete para
“levar ou buscar Fulaninho e Beltraninha não sei onde”... Ou para compromissos
que poderiam tranquilamente ser agendados em outra data.
Ora, quanto mais superficial a
convivência, mais frieza nas relações. Passamos então a nos esbarrar na
Instituição, não como irmãos, mas como meros colegas de trabalho; a viver uma
vida paralela fora do Grupo Espírita, com um circulo de relações à parte, onde
dificilmente há lugar para os companheiros de ideal.
Em que vão escuro do preciosismo
doutrinário e do igrejismo teremos perdido a sensibilidade, o prazer de estar
juntos, os laços de amizade que extrapolavam os muros da Casa Espírita? Em que
lugar do tempo foi parar as gostosas confraternizações extra-reuniões... Os
agradáveis bate-papos após as atividades... A amizade parceira que se estendia
para os programas de lazer em comum... O olhar atento que detectava quando esse
ou aquele amigo não estava bem... O interesse verdadeiro pelo bem-estar uns dos
outros?... Talvez seja mais fácil culpar a correria e o medo da violência
dos dias atuais - alegando que é perigoso chegar tarde em casa ou pretextando
falta de tempo ou pretextando “a a ante os "?- do que
responder honestamente a essas perguntas, mas uma coisa é inegável: Coragem é
questão de fé, e tempo é questão de prioridade.
E são tantos os irmãos que reclamam
atenção especial... Companheiros solitários para os quais os fins de semana são
intermináveis e que, se acolhidos, com certeza se sentiriam muito melhor!...
Companheiros em processos reencarnatórios difíceis ou em períodos de crise
existencial, para os quais faria toda a diferença uma conversa amorosa, a
presença amiga naquele momento crucial ou a festinha surpresa de aniversário.
Celebrar gente é trabalhar a autoestima individual e coletiva. Quando as
pessoas se sentem valorizadas, quando são envolvidas em ambiente de carinho,
alegria e leveza, todo o grupo se torna mais harmônico, feliz e produtivo.
“Espíritas, amai-vos e instruí-vos!” - Recomendou o Espírito de Verdade. A construção
da frase sinaliza, clara e pedagogicamente, para a ação prioritária. Teoria já
temos de sobra. Agora é aplicá-la no cotidiano das relações. É avaliar com
honestidade até que ponto ser impecável, indispensável e PHD em Espiritismo,
tem sido mais importante do que ser irmão.
“Reconhecereis os meus discípulos
por muito se amarem” –
afirmou Jesus. Neste momento é imperioso resgatar a nossa identidade de
seguidores sinceros do Mestre, buscando interagir com sinceridade e
companheirismo. Como distribuir aos que chegam o afeto, o aconchego e a
tolerância que sequer conseguimos construir entre nós, companheiros de
caminhada e de ideal?
Repensemos. Continuar a brincar de
ser fraternos, alimentando a distância entre o discurso e a pratica da legítima
fraternidade, é um enorme desserviço a nossa própria evolução e felicidade. O
mundo espiritual tem nos alertado que das boas intenções de teóricos e
indiferentes espíritos-espíritas o umbral já está cheio... E os hospitais das
colônias espirituais também!.. Muito embora - pra sorte nossa - em casos de
extrema pobreza e vulnerabilidade espiritual a Misericórdia Divina nunca negue
licença pra mais um puxadinho.
Bom dia irmãos de ideal espírita! Tenho a certeza que se a Joana conhecer o ICE ficará maravilhada, não porque somos perfeitos, mas, pelo carinho e alegria que nos envolve o grupo. Toda casa espírita terá os seus problemas e dificuldades de relacionamento entre um ou outro membro, mas tudo superável quando a cordialidade e alegria de um propósito comum nos faz compreender o outro. Que levemos a alegria e a fraternidade aos centros espíritas e joguemos para longe a solidão em meio a multidão.
ResponderExcluirAbraço fraterno.
Fernando Bezerra
Olá, Joana Abranches
ResponderExcluirSeu texto está muito bom. O evangelho nos tras em suas linhas grandes conhecimentos dos quais pouco absorvemos, ou até mesmo, pouco compreendemos.
Para citar, como exemplo temos a "Indulgência" - palavra profunda. Passei a ler o evangelho sempre desde que me tornei espírita, mas, ao passar do tempo as "obrigações" de faculdade, trabalho e "n" passaram a ser prioridade.
O que você fala, de fato, são problemas recorrentes.
O interessante é ver que cada linha do evangelho quando bem lida e bem internalizado é o constante convite a mudança. Não há como ser espírita sem o desejo da constante mudança interior.
Eu posso dizer que tenho lutado contra o materialismo - algumas vezes tenho sucesso, de outras nem tanto. Mas, o desejo da reforma íntima permanece. Que essa chama do ideal espírita se manhenha nos nossos corações.
Muita paz a todos.
Abraços da Casa Espírita a Caminho da Luz - Beberibe - CE.