
Mais que nunca é preciso divulgar o
Espiritismo e isto implica, entre outros, no uso da palavra escrita e falada.
Mas divulgar não é empurrar material doutrinário goela abaixo. Divulgar
é antes de tudo comunicar-se, estabelecer empatia imediata com o receptor,
despertar interesse inicial, contínuo e gradativo pelo material apresentado, é
fazer-se entender e sentir. Assim, há que se ter uma abordagem minimamente
adequada para que se consiga tocar a alma e chegar à razão.
Nesse ponto, faz-se urgente uma
reflexão. Conseguiremos nós, espíritas, em pleno século XXI, alcançar corações
e mentes sem atualizar nossas formas de comunicação?
A pretexto de fidelidade doutrinária
campeia entre nós um linguajar monótono e obsoleto. Incrivelmente, ainda há
quem acredite que ser fiel à codificação se resume à manutenção da linguagem
utilizada pelo codificador no século retrasado. Reflitamos, é no mínimo
incoerente imaginar que Kardec, o reformador por excelência, o modernizador da
gramática francesa de então, o homem à frente de seu tempo, espere dos
espíritas uma atuação alheia à realidade de cada época.
Quanto às formas de expressão, às
vezes a impressão que se tem é que se parou no tempo, mais precisamente nas
décadas de 40 a 60, apogeu da produção mediúnica de Chico Xavier. Outro dia,
lendo o editorial de um jornal federativo, dei de cara com a palavra
“efemérides” - entre outras expressões arcaicas que recheavam o texto - e
fiquei a pensar... Se a mim, que já passei dos cinqüenta, soa estranho, imagine
ao pessoal da nova geração! Os mais jovens devem ter que dar tratos à bola para
decifrar o que significa tal “palavrão”, já praticamente extinto nos dias de
hoje. Essas situações comprometem de pronto a continuidade da leitura, pois a
chamada leva a pressupor – e com razão – um texto maçante. Quem vai se
interessar por matérias cujos termos remetem ao tempo dos nossos bisavos, o que
- com todo o respeito que devemos aos nossos ascendentes - nada tem a ver com
os anseios do momento presente?
Como podemos querer o aval da
comunidade científico-tecnológica, se em plena era virtual ainda insistimos em
chamar planeta de “orbe”, só porque Emmanuel, na década de 50 – quando esse
termo ainda estava em uso - assim o fez? Se, rebuscadamente, nos referimos à
sociedade “hodierna”- citada por Joanna de Angellis - quando poderíamos
simplesmente utilizar o termo “moderna”, de muito mais fácil compreensão? Passa da hora de aposentarmos os ósculos,
amplexos, destras e outras expressões “jurássicas”. Ou a gente
acompanha os novos tempos ou vai ficando para trás, sob a pecha da alienação.
Não pretendemos aqui fazer a
apologia das gírias, do modernismo inconseqüente. Mesmo porque a palavra
escrita ou falada na norma culta, dentro de uma relativa formalidade, é
passaporte certo para a credibilidade. Mas precisamos repensar o nosso
linguajar enquanto palestrantes e redatores espíritas, para que não nos
escondamos numa espécie de dialeto esquisito que só leva à estagnação e
ao isolamento. Se não devemos vulgarizar a palavra a pretexto de atingir a
massa, tampouco devemos permanecer como se o tempo não tivesse passado para
nós. Se tudo o que mais almejamos é universalizar o conhecimento espírita, por
que não utilizar uma linguagem mais coloquial e interessante? Desde que se
tenha o zelo necessário para que não haja distorções no conteúdo doutrinário,
por que não adaptar textos antigos para uma linguagem moderna, facilitando
assim o seu entendimento?
Alguns companheiros, por entenderem
que a manutenção de termos difíceis provoca um enriquecimento da linguagem, são
resistentes a adaptações literárias. Porém, imaginemo-nos como alguém ainda
engatinhando no conhecimento espírita, que buscando consolo num momento de dor
se depara com uma linda e consoladora mensagem, mas cheia de termos rebuscados,
que exijam o uso do dicionário. Essa interrupção certamente esvaziará o impacto
emocional do conteúdo, esfriando o coração do leitor ante a necessidade de
parar e buscar tantos sinônimos. Emoção cortada, alma frustrada, objetivo
perdido.
O nosso compromisso é com a formação
espiritual e não acadêmica. Embora tenhamos o dever de nos expressar
elegantemente e estimular doutrinariamente o aprimoramento do saber,
contribuindo assim - e muito – também para a intelectualização do ser, o que
precisamos entender é que, definitivamente, trabalhar aquisição de vocabulário
e erudição não é a nossa prioridade. Nossa prioridade é esclarecer e consolar,
com vistas ao progresso moral dos seres, e ninguém esclarece ou consola
sem usar de clareza e simplicidade.
Portanto, didaticamente, simplifiquemos a nossa fala, a nossa escrita, façamos o nosso papel de facilitadores das verdades espirituais e deixemos às escolas do mundo o papel que lhes cabe.
Portanto, didaticamente, simplifiquemos a nossa fala, a nossa escrita, façamos o nosso papel de facilitadores das verdades espirituais e deixemos às escolas do mundo o papel que lhes cabe.
Sob pena de perdermos o trem da
história, há uma contradição que precisa ser vencida pelo movimento espírita.
Uma doutrina evolucionista por princípio, não pode e não deve ficar parada no
tempo. Termos novos são criados a todo momento para coisas novas. Termos
antigos são substituídos a todo instante por outras nomenclaturas.
Caminhamos, hoje, para uma democratização do conhecimento. O que antes era
privilégio de uma casta intelectual agora é acessível a todos. Isso significa
distribuição mais justa da informação e oportunidades igualitárias,
correspondendo aos ideais de justiça e igualdade defendidos pelo Espiritismo.
Então, não faz sentido uma elitização que só retarda a colheita dos frutos
semeados.
O mundo gira, o progresso está aí, e
a lei é de evolução em todos os sentidos. Descomplicar é a
palavra de ordem para quem quer “colocar a candeia sobre o alqueire.” Não há
mais espaço para termos antiquados, que soam até mesmo de forma ridícula
a quem os lê. É inadiável escolher. Ou continuamos a bater na tecla de uma
erudição exibicionista a fim de, aqui mesmo, receber o galardão ou optamos pela
pedagogia simples de Jesus, cujas parábolas demonstram estratégia impar
para alcançar o interesse e o entendimento daquela população ainda tão
rudimentar quanto às verdades espirituais que veio trazer.
Nesse momento difícil de transição,
em que milhares de irmãos nossos precisam, desesperadamente, estabelecer um
link emocional e cognitivo imediato com as verdades consoladoras do Espiritismo
Cristão, não há mais lugar para comportamentos arraigados a tradições pueris.
Deixemos fluir a simplicidade culta que nos fará fiéis articuladores da verdadeira
divulgação, aquela que de fato acontece, que dá resultados palpáveis, pois fala
simultaneamente ao cérebro e à sensibilidade. Só assim estaremos cumprindo efetivamente
o papel de colaboradores do mundo invisível junto ao aprimoramento moral
contínuo da sociedade na qual estamos inseridos, aqui e agora.
Coloquemos em prática, na íntegra,
as recomendações contidas no cap. XII, item 10 do ESE, à página “O Homem no
Mundo”, que nos chama à realidade temporal em que vivemos, ao conclamar:
“Vivei com os homens do vosso tempo, como devem viver os homens.”
E - há que se admitir - numa vida de
inter-relação, respeito e comunicação fazem toda a diferença.
*Joana Abranches é
Assistente Social, escritora e Presidente da Sociedade Espírita Amor Fraterno Vitória/ES
joanaabranches@gmail.com – amorefraterno@gmail.com
joanaabranches@gmail.com – amorefraterno@gmail.com
Porisso é que a recomendação prime do Evangelho no Lar é colocado para que se faça a leitura e comentário através do Evangelho Segundo o Espiritismo pois ali se consolida a base do ensinamento. Muita Paz!!!
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