“...
eu estou esperando alguém!
Imediatamente?
Não,
mas a qualquer minuto.
Qualquer
minuto? Muita gente vive uma vida num minuto.
O
que está fazendo agora?
(Diálogo do filme “Perfume de Mulher”
Por Jorge Luiz (*)
Quem assistiu ao filme “Perfume de Mulher” (1992), não deve ter-se esquecido da cena marcada
pelo diálogo acima entre Frank (Al Pacino), e Donna (Gabrielle Anwar). A
interpretação fantástica de Al Pacino, que lhe rendeu o Oscar de melhor ator,
consegue dar veracidade encantadora a essas palavras, em tom, gestos intensos.
A
arte é recurso pedagógico fabuloso. O Espírito Lamennais, na Revista
Espírita, junho de 1862, avisa que a arte sem originalidade é hipócrita. Os
Espíritos, segundo ele, aplaudem toda a arte cuja idealidade é haurida na
natureza simples e verdadeira e, por conseguinte, bela em toda a acepção do
termo. Perfume de Mulher é assim. Nos
leva a refletir sobre os conflitos do tenente-coronel cego, e da forma que
consegue resignificar sua vida na convivência com um jovem, Charlie Simms,
que o acompanha naquela que seria sua última viagem, - intencionava suicidar-se
- ao se interessar pelos problemas pessoais de Charlie. É um chamado à Vida!
Em
Introdução ao Estudo da Pedagogia Espírita, Walter Oliveira Alves, considera
que “O artista se transforma num dínamo gerador de energia que a tudo envolve.
O Espírito equilibrado pode transmitir essa energia, na voz, nas palavras, num
gesto, num simples olhar.”
No
passado, a arte foi considerada psicologia, quando esta estava ligada à
religião e à filosofia.
A
arte nos levar a ver, a ouvir, a sentir, a
pensar, a dizer. Nela e por ela, se revela como se jamais tivéssemos visto,
ouvido, sentido ou pensado. Costumo a dizer que tenho inveja dos poetas, pois
eles traduzem a simplicidade do cotidiano, com originalidade. Todo artista é
assim. A arte é a unidade do eterno e do novo, como nos versos de Alberto
Caieiro, pseudônimo de Fernando Pessoa: “Sinto-me
nascido a cada momento/Para a eterna novidade do Mundo.” A arte é um devir;
é a temporalidade no eterno.
Carlos
Drummond expressou a intensidade do viver ao afirmar: “Eterno, é tudo aquilo
que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica,
e nenhuma força jamais o resgata....”
Allan
Kardec em “A Gênese” afirma: “que a eternidade não é susceptível de medida
alguma, do ponto de vista da duração; para ela não há começo, nem fim: tudo lhe
é presente.”
Portanto,
a mensagem entranhada na cena evidenciada, é dialógica, pois o comportamento do
ator elabora uma atitude um-para-com-o-outro, cujo elemento mais importante é a
reciprocidade interior.
A consciência tem graus visíveis e
observáveis. G.I.Gurdjieff (1866-1949), místico e mestre espiritual armênio, que
ensinou a filosofia do autoconhecimento, estabeleceu que, de uma maneira geral,
o homem pode conhecer quatro estados de consciência que são: o sono, o estado de vigília, a
consciência de si e a consciência objetiva. Para ele, mesmo que
tenhamos as quatro possibilidades de estagiarmos a consciência, o homem só
vive, de fato, em dois desses estados: uma parte da vida transcorre no sono
e a outra, no que ele chama de “estado de
vigília”, embora na realidade, esse último estado difira muito pouco do
sono. Portanto, podemos ter apenas alguns minutos; momentos fortuitos no estado de consciência de si quando
assinala até com certa surpresa: O que é
isto? Quem sou eu? O que estou fazendo aqui? caindo logo em seguida em
estado de adormecimento. Portanto é previsível o contexto da cena do filme em
questão. É provável que se tenha uma existência de cem anos com a consciência no estágio
do sono e viva uma vida em um
minuto no estágio de consciência de si.
É fácil de deduzir, na visão de Gurdjieff que vivemos semissonolentos,
portanto, nossas trajetórias são dirigidas por acidentes ou mesmo a “sorte”.
Gurdjieff
conheceu as obras de Allan Kardec.
Busquemos,
portanto, a felicidade a cada minuto de nossas vidas. Vivamos um minuto com os
olhos de Jesus ao afirmar: “O teu olho é
a luz do teu corpo. Se o teu olho for um só, todo o teu corpo será luminoso.”
Procuremos ver o mundo, por um minuto, com olhos de quando éramos crianças.
Experienciemos, por um minuto, exercitar a via
de salvação de Buda: crer, querer,
falar, operar, viver, esforçar, pensar e meditar retamente.
Por apenas um minuto,
tente ver o mundo a sua volta pelo campo de visão da mosca, que possibilita
alcance de 360 graus, quando a nossa é de apenas 180 graus. Por um minuto,
vivamos perdoando as mágoas e ressentimentos. Na alegria, procuremos vivê-la,
por um minuto, a sua intensidade. Permitamo-nos, por um minuto, viver a
intuição e inspiração dos Bons Espíritos. Desfrutemos, por um minuto, as blandícias
da oração. Vivamos por um minuto, as emoções da serenidade e da sensatez de
Allan Kardec.
O
Espiritismo ao revelar a nossa
natureza, origem e destino, possibilita as condições efetivas de nos mantermos
permanentemente despertos e operacionalizarmos o estado de consciência de si, e avançarmos para a consciência objetiva, como está bem
delineado na questão 919 de “O Livro dos
Espíritos”, quando o Espírito Santo Agostinho recomenda o conhecimento de si mesmo, como meio
prático e eficaz que o homem tem de se melhorar nesta vida.
Por
um minuto, vivamos a intensidade do verdadeiro sentido da vida: amemos!
Vivê-la
a cada minuto, eis a arte da vida!
O que
estás fazendo agora?
(*) livre pensador e voluntário do Instituto de Cultura Espírita.
Amigo Jorge, que belo texto!
ResponderExcluirA vida pode sim, ser bela e intensa, desde que procuremos o lado positivo das coisas.
Parabéns, por esse trabalho tão belo!
Muita luz para seus conhecimentos, sempre!
O filme citado contém uma das cenas mais belas do cinema : o tango dançado por Al Pacino : pura arte , pura beleza ! A vida eh bela, porém a tarefa eh buscá-la e reconhecê-la mesmo nos momentos mais singelos, difíceis ou tristes. Como a arte. O olho do espírita eh mais apurado nesse intento. Aline Loiola.
ResponderExcluirDigitei ontem e acabou não ficando registrado: Voc~e sabe o que estou fazendo agora, cara? Estou babando com essa beleza de texto. Parabéns Jorge!
ResponderExcluirFaltou me identificar: Roberto Caldas
ExcluirGratos somos, a Ligiane, Aline, Roberto e todos que valorizam o Canteiro de Ideias. Continuemos juntos!
ExcluirUm belo texto e uma bela idéia! Assim como a vida,cada instante dela,uma oportunidade nos bate à porta todos os dias.Que tenhamos olhos para ver e sentidos para sentir.
ResponderExcluirMárcia