O
amor é a sutilização dos sentimentos, a transformação dos instintos, o
desabrochar do divino na criatura.
Todo
o cosmo, toda a natureza, toda a harmonia e toda a perfeição existentes
expressam-se e conjugam-se pelo amor.
O
Espírito é, mesmo quando não sabe, dirigido e regido por este sentimento,
atraído de forma irrecusável por ele e impelido para desenvolver-lhe no íntimo
o gérmen que dormita e bruxuleia em ações.
Na
deambulação evolutiva pelas estradas palingenésicas, o princípio inteligente
vai aprendendo a utilizar seus pendores instintivos da autoconservação e da
perpetuação da espécie, sem nem mesmo desconfiar serem os mesmos os primeiros
indícios daquele sentimento maior. Instintos que se aperfeiçoam e se
automatizam ganham foros de sensações que, de sua parte, se transformam em
sentimentos a se sublimarem de tal maneira a resplender o vero amor, o mesmo
que Jesus de Nazaré exercitou e exemplificou entre nós em sua encarnação
terrena.
O
amor, portanto, vai assumindo, com o progresso anímico, gradações diversas
desde a sua forma mais elementar à mais complexa, desde a mais grosseira à mais
transcendental na tendência infinita do Amor de Deus.
O
Amor de Deus! Em sua grandiosidade inconcebível, somente pode se traduzido,
para seres bestiais como nós, através da Sua Misericórdia, da Sua Justiça, da
Sua Providência. É bastante, para concebê-lo dentro das nossas possibilidades,
mirar a natureza, serva paciente do homem. Quanta beleza a nos encher as
retinas da alma em poesia não se lhe excede! Quanta paz não nos infunde a visão
do céu estrelado e a brisa da manhã! Quanta lição de sabedoria na Engenharia
Divina em que o homem apenas se inicia no terreno de imitar-lhe alguns poucos
espécimes! Quanto sentimento de busca e aconchego não nos proporciona a chuva
que cai de mansinho em ritmada coreografia, sob o influxo de sua doce balada!
Ah! Quão imenso é o amor do Criador por Suas criaturas! E como somos ainda tão
ignorantes disso!
Mas,
dizia eu, o ser evolutivo vai galgando posições. Primeiro vai desenvolvendo o
amor por ele mesmo, estranho que se acha de si próprio, ignorante da sua
individualidade. Aos poucos ele sente todo o universo como se fora seu e feito
para si. Tudo gira em torno de si – o egocentrismo. Mais alguns passos e, por
necessidade, é guindado à valorização do clã – ensaios do antropocentrismo. A
natureza, porém, é-lhe vital ao que ele considera como o seu maior bem – a vida
orgânica –e, por isso mesmo, o seu sentimento se direciona para ela. Todos
esses passos devem conduzir-lhe ao ponto máximo do exercício amoroso, capaz de
infundir-lhe tamanho grau de felicidade que viver passas a ser, sob quaisquer
condições, um eterno gozo, resultado
de sua sintonia com a Divindade.
No
entanto, os caminhos não se fazem em linha reta – embora sem perda do que
aprendeu em pretéritas experiências -, mas em espiral, como visto, faz-se sob
multip0licadas formas. Amor próprio, amor carnal, amor sentimental, amor
tribal, amor fraternal, amor filial, amor paternal, amor maternal...
O
amor de um homem por uma mulher e vice-versa tem, a princípio, o forte apelo
animal que tenderá, com o domínio e administração dos instintos, a uma relação
cada vez mais pautada na necessidade de ampara e auxiliar o outro, fruto da
verticalização do amor.
O
amor filial, embora às vezes se vincule a uniões esponsalícias ou maritais
pretéritas, põe o ser sob a tutela do outro, permitindo-lhe desenvolver a
estima desinteressada e o respeito incondicional; enquanto os amores paternal e
maternal favorecem o desenvolvimento da abnegação e do sacrifício em favor do
rebento.
Essas
etapas podem ser trabalhadas individualmente, mas comumente os ensaios se
processam em diversas direções e a família, instituição relativamente recente,
fruto do progresso espiritual da criatura humana, é o cadinho permissor e
depurador dessas variedades múltiplas, pois em uma só encarnação possibilita ao
ser o exercício continuado e sob múltiplas condições daquelas etapas
assinaladas.
Amar
é conhecer-se tão profundamente, ao ponto de se identificar sem receios com
todo o gênero humano e mesmo com todas as criaturas e com toda a criação. É
dispor-se à doação tão completamente que quem ama com tamanha magnitude é
transportado à condição maior de co-criador
com o Pai Celestial. É comprometer-se com a infinitude dessa criação e da vida
palpitante em todo o Universo.
A
Doutrina espírita, por conter as respostas aos questionamentos da existência e
definir os rumos da alma em sua romagem terrena e do Espírito em sua
peregrinação evolucional, fomenta o desenvolvimento mais firme do amor, porque
faz-nos entendê-lo no seu como e no seu porquê. Com ela bem compreendida e
incorporada aos valores próprios, não se ama por imposição, mas por
compreensão, mas por consideração; não se ama com presunção, mas com humildade;
não se ama sob condições, mas incondicionalmente; não se ama unicamente o
particular, mas o geral.
A\Caridade,
consequência natural da consciência amorosa, não dispensa o conhecimento, ao
contrário busca-o e necessita-o para a sua sustentação. Pois quanto mais se
conhece o porquê, mas se ama e quanto mais se ama, mais se deseja ir ao
encontro do objeto desse amor, para somar possibilidades, multiplicar emoções,
dividir as necessidades e contrabalançar as asperezas que lhe curem os
caminhos.
O
“amai-vos
e instruí-vos”, prescrito pelo Espírito da Verdade, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, não
propõe ações separadas, mas concomitantemente; não preconiza etapas estanques,
mas o estágio próprio do Espiritismo que associa o conhecimento que liberta ao
amor que felicita; a razão que lubrifica a mente ao amor que odoriza a alma.
“Amai-vos
e instruí-vos” é, portanto o ponto intermediário da passagem do amor
compulsório que até agora em nós vem desenvolvendo para o amor bem compreendido
e consentido e procurado e trabalhado e burilado pela vontade própria.
“Toda
a Lei e os Profetas se resumem no bem amar”, porque o amor em plenitude
constitui-se na felicidade tão acalentada e almejada por todos.
O
amor é a sutilização dos sentimentos, a transformação dos instintos, o
desabrochar do divino em nós.
Great subject! :)
ResponderExcluirThis is one of the most beautiful feelings ever!
Belíssimo conteúdo!!!!
ExcluirEle é a lapidação de toda a ignorância .
Tudo um dia será transformado em luz,porque por todos nós ele foi atingido.
Concordo!
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