"O Espiritismo será o que dele fizerem os homens."
(Léon Denis)
Por
Jorge Luiz (*)
As
manifestações pacíficas que ocorrem em diversas cidades brasileiras trazem em
seu bojo característica marcante: o
individualismo. Não há conotação institucional de qualquer ordem na sua
organização. Um exemplo disso são cartazes vistos com a seguinte frase: “ninguém me representa.”
O individualista tem noção clara de seus
limites e a fronteira que separa os direitos alheios dos seus. Em razão disso,
constato que as insatisfações são as mais variadas e unem grupos ideológicos díspares
em busca de uma unidade: o combate à
corrupção.
O individualismo é um conceito de afirmação do
indivíduo frente às questões sociais, políticas e morais. O indivíduo passa a
ser o agente legítimo nos processos de mudanças. O individualismo a que me
refiro é oposto ao egoísmo.
A
este respeito, o Espírito Emmanuel afirma que na marcha diária da evolução o
homem chega à conclusão de que o
individualismo ajustado aos princípios inelutáveis do bem é a base do
engrandecimento da coletividade.
Este é o momento ápice do processo de
individualização do Espírito, estagiando para o que Carl Jung, psiquiatra
vienense designou de individuação, que implica na ampliação da consciência
pelos valores orientados para a identificação com o Si-mesmo.
Fenômeno
parecido, porém sussurrante, vem ocorrendo no cenário religioso. O que se
presencia é que, seguido ao processo de desencantamento com o institucionalismo
religioso ocorre a subjetivação e individualização das crenças. Isto se torna
bem notório nos centros espíritas com frequentadores de outros credos
religiosos que buscam associá-los à crença espírita. A crença religiosa que no
passado não era objeto de critério de verificação racional, com a sua
individualização torna-se fluida, maleável e dispersa. Não é mais objeto de
transmissão herdada, mas conquista individual na busca da expressão de sua
singularidade.
Danièle
Hervieu-Léger, figura de destaque nos estudos da ciência da religião, foi
presidente da École de Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, de
2004-2009, conceituou os as atores da dinâmica acima de “peregrino” e “convertido”,
em sua obra “O Peregrino e o Convertido”, editora Vozes. Para ela o peregrino
não é mais guiado pelo badalar dos sinos, pela regularidade dos cultos e dos
espaços religiosos. Ao contrário do praticante regular, o peregrino produz o
seu próprio repertório de significados, construindo narrativamente sua
experiência em confronto com uma linhagem religiosa que ele se identifica
prioritariamente.
Conceitua
como “convertido”
aquele que diante dessa mobilidade faz com que esta desregulamentação favoreça
a sua conversão que se dá a partir da individualidade subjacente às variadas
disposições sociais e culturais.
Leiam
o que ela diz: “como compreender ao mesmo
tempo o processo histórico da secularização das sociedades modernas e o
desdobramento de uma religiosidade individual, móvel e moldável que dá lugar a
formas inéditas de sociabilidade religiosa? (...) A crença não desaparece, ela
se desdobra, se diversifica.”
O
professor, jornalista e filósofo J. Herculano Pires, em sua consagrada obra “O Centro Espírita”, prognosticou este
momento e a importância do Centro em sua execução: “Demonstrada a ineficácia de todas as encenações sacramentais,
esclarecidas as superstições que dominam
a mente humana insegura e medrosa, a Humanidade atingirá a sua virilidade e não
haverá mais campo para as explorações sistemáticas da natureza religiosa do
homem.”
Estamos presenciando
o que Kardec idealizou originalmente para o Espiritismo quando em suas reuniões
mediúnicas participavam judeus, muçulmanos, católicos...
Allan Kardec acreditava que
a nova ciência que ele descobrira poderia ser estudada por todos os homens,
tornando-os mais esclarecidos e a fé das religiões mais fortalecida.
Sendo a evolução espiritual
em espiral é óbvio que as transições não se operam mediante a ruptura com a
fase anterior. Portanto, são chegados os tempos que iremos encontrar profitentes
espíritas com valores do patrimônio religioso anterior.
É de significativa
importância que os dirigentes espíritas estejam lúcidos neste momento e possam
favorecer a realização desta revolução já que estes anseios avançam,
precisamente, em direção ao modelo espírita.
Não
será com a maneira ingênua como nos comportamos nos Centros Espíritas que
seremos verdadeiros agentes ativos da “revolução
copernicana”, como bem definiu Sir Oliver Lodge, que o Espiritismo operará para a regeneração da Humanidade.
Tomemos
tento!
Suas inspirações e ideias sempre muito elucidativas.
ResponderExcluirPrecisamos absorver isso e colocarmos na prática das coisas as quais acreditamos.Conceitos religiosos que nos arrastaram durante séculos precisam ser abandonados .Ampliar a consciência como você deixou explanado.
Vanessa Alves
Interpretação lúcida do contexto. Individualismo consciente versus "povo instrumento de manobra".
ResponderExcluirDeusimar
É uma situação bem difícil lidar com pessoas de credos que divergem em muito da doutrina espírita, especialmente aqueles credos que envolvem o plano espiritual com rituais, roupas especiais etc. Muitos chegam ao centro espírita sedentos de um momento a mesa mediúnica para "trabalhar".
ResponderExcluirÉ difícil, mas imprescindível mostrar o olhar espírita aos fenômenos ditos "sobrenaturais" para aqueles que pela primeira vez adentram um centro espírita.
Ótimo texto! :)
Fernanda Leal
COMPLEMENTANDO,
ResponderExcluirNão há prisão que escravize para sempre o pensamento,hoje reconhecido como energia mais poderosa do universo.
Vanessa Alves