“(...) retornemos
agora à questão das doutrinas religiosas.
Podemos agora repetir
que todas elas são ilusões e insuscetíveis
de prova.
(...) Assim, a
religião seria a neurose obsessiva
universal da
humanidade.(...)”
(Sigmund Freud)
Em ensaio publicado com o título “O Futuro de uma Ilusão” Sigmund Freud,
pai da psicanálise, tenta demonstrar que a religião não passa de uma ilusão;
uma neurose obsessiva da Humanidade.
A
publicação provocou questionamentos e levou o pastor e psicanalista Oskar
Pfister à discordância, também dentro do âmbito psicanalítico – “A ilusão do futuro”-, que se
desenvolveu em um embate amigável, publicado no Brasil sob o título de Cartas entre Freud & Pfister.
Interessante notar que Freud
define ilusão diferente do usual – conotações de engano ou invalidade -,
mas da seguinte forma: “Uma ilusão não é
a mesma coisa que um erro: tampouco é necessariamente um erro. (...) Podemos,
portanto, chamar uma crença de ilusão quando uma realização de desejo constitui
fator proeminentemente em sua motivação e, assim procedendo, desprezamos suas relações
com a realidade, tal como a própria ilusão não dá valor à verificação.”
Ora,
o que Freud condena é a religião apoiada em uma fé cega, que não cogita e
aceita tudo como mistério desta fé, o que não deixa de ser uma ilusão. Allan
Kardec a este respeito considera: “A fé
cega nada examina, aceitando sem controle o falso e o verdadeiro, e, cada
passo, se choca com a evidência da razão. Levada ao excesso produz o
fanatismo.”
Os
conceitos técnico-mecanicistas freudianos não deixam de ser compreensíveis se
considerarmos o período histórico em que surge com a psicanálise, bem como seu
contexto social. A psicanálise não deixa de ser um postulado sem dúvida reacionário, visto que hoje muitos dos
seus conceitos já se encontram superados.
A
visão da psicanálise é reducionista, vez que se circunscreve à investigação de
padrões do funcionamento da mente e do comportamento humano. A conclusão
ofertada por Freud resulta de “visão de
túnel”, pois não se deteve em questões estruturais da individualidade
humana. O que favoreceu a esta conclusão foi a real ruptura entre a cosmovisão
de Deus para a cosmovisão científica.
A
partir da década de 80 do século passado o que se tratava como neurose acha-se
diluído em outras denominações classificadas como transtornos.
A
sintomatologia da neurose obsessiva passa por pensamentos e comportamentos
cheios de superstições mágicas, idéias e condutas que comprometem a sua vida de
relação, pois fazem o contrário daquilo que pensam. Por não se saber
diferenciar religiosidade de religião, como instituição, ocorre em equívocos da
espécie.
A
religiosidade do ser humano é “o selo do Criador” na individualidade
espiritual. Resultado de experiências palingenésicas, se expressa em cada Ser
de forma diferenciada. Tentar enquadrá-la em normatizações dogmáticas
institucionais, forçosamente conduzirá o indivíduo a processos de alienações.
O
prof. Herculano Pires a seu turno afirma: “As
aspirações da alma se chocam diferentemente, em cada indivíduo, com as
exigências biológicas da espécie. Uns trazem a tendência mística predominante,
outros o impulso vital incoercível. Entre esses extremos há numerosas
expressões intermediárias. (...) Querer inverter essa estrutura psicobiológica
através de votos, juramentos, rituais e outras medidas exteriores é provocar
conflitos imprevisíveis, que pode levar o indivíduo a desequilíbrios
profundos.”
Já o psiquiatra
austríaco Viktor Frankl, pai da logoterapia, convergindo para o pensamento
espírita, inverte o diagnóstico de Freud ao afirmar que a neurose obsessiva é
que seria a religiosidade psiquicamente doente.
Analisando
os conceitos apresentados é fácil de concluir que há religiões que contribuem
para o equilíbrio psicossocial do indivíduo, para um crescente encontro do Si
consigo próprio, e outras que, ao contrário, produzem fraturas neste aspecto.
Portanto, como identificar uma religião sadia, que contribua para a capacidade
de pensar e criar, favorecendo ainda a saúde mental do indivíduo?
Olhando
para o passado e presente é fácil de identificar quando a religião é utilizada
de forma mortífera e sendo extremamente destrutiva para o ser humano.
Acredito
para que a religião atenda aos seus objetivos sagrados, construindo a
solidariedade e a fraternidade universal, deve responder racional e
comprovadamente às três indagações básicas do indivíduo: da sua natureza; da sua origem e da sua destinação.
O
Espiritismo atende a todas estas exigências e favorece concepção avançada do
Homem ensejando fé racional, investigativa e propicia evolução de todos os
conceitos da psique humana, favorecendo ao Ser à compreensão periódica a
respeito dos valores reais e aparentes, bem como a meditação dos objetivos da
vida, proporcionando a sua harmonia interior.
A
espiritualidade no mundo tem que passar necessariamente pelos postulados
espíritas, ou não será genuinamente, espiritualidade.
O espiritismo é libertador em qualquer circunstância de nossas vidas.
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