Por Sérgio Aleixo (*)
Kardec
sempre disse que o Espiritismo não era uma religião. Todo estudioso de suas
obras bem o sabe. Contudo, uma única vez, nem por isso menos determinante,
acabou assegurando que, sim, o Espiritismo era uma religião, embora sem
sacrificá-lo ao sentido usual do termo. Vejamos:
[...] o verdadeiro objetivo das
assembleias religiosas deve ser a comunhão de pensamentos; é que, com efeito, a
palavra religião quer dizer laço. Uma religião, em sua acepção larga e
verdadeira, é um laço que religa os homens numa comunhão de sentimentos, de
princípios e de crenças [...] O laço estabelecido por uma religião, seja qual
for o seu objetivo, é, pois, essencialmente moral, que liga os corações, que
identifica os pensamentos, as aspirações, e não somente o fato de compromissos
materiais, que se rompem à vontade, ou da realização de fórmulas que falam mais
aos olhos do que ao espírito. O efeito desse laço moral é o de estabelecer
entre os que ele une, como consequência da comunhão de vistas e de sentimentos,
a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a benevolência mútuas. É
nesse sentido que também se diz: a religião da amizade, a religião da família.
Se é assim, perguntarão, então o
Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida, senhores! No sentido
filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos vangloriamos por isto,
porque é a Doutrina que funda os vínculos da fraternidade e da comunhão de
pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as
próprias leis da Natureza.
Por que, então, temos declarado que o Espiritismo
não é uma religião? Em razão de não haver senão uma palavra para exprimir duas
ideias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da
de culto; porque desperta exclusivamente uma ideia de forma, que o Espiritismo
não tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público não veria aí mais
que uma nova edição, uma variante, se se quiser, dos princípios absolutos em
matéria de fé; uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de
cerimônias e de privilégios; não o separaria das ideias de misticismo e dos
abusos contra os quais tantas vezes a opinião se levantou.
Não tendo o Espiritismo nenhum dos
caracteres de uma religião, na acepção usual da palavra, não podia nem devia
enfeitar-se com um título sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado.
Eis por que simplesmente se diz: doutrina filosófica e moral.[1]
A
importância desse último discurso de Kardec à Sociedade Parisiense de Estudos
Espíritas é que, nele, o mestre explica por que sempre negara que o Espiritismo
fosse uma religião: por conta da acepção usual da palavra, inseparável de
culto, forma, que o Espiritismo não tem, donde simplesmente dizer-se doutrina
filosófica e moral. Sintomático, porém, é que, nesse derradeiro discurso, a
negativa vem motivada pela primeira e única afirmativa de que o Espiritismo
era, sim, uma religião, ainda que sem culto e forma, do que Kardec até se
vangloria. Em boa semiótica, restam duas respostas ao mote do discurso: O
Espiritismo é uma religião? 1. Sim, na acepção filosófica, larga e verdadeira,
de comunhão de pensamentos, sentimentos, princípios e crenças; 2. Não, no
sentido geral, usual, de culto e forma.
E veio
bem a calhar ao futuro da doutrina essa ambivalência. Na prática, o Espiritismo
é hoje uma religião apenas, do contrário, quase nada seria para a sociedade
contemporânea. Vejamos o processo histórico. Se os espíritas fossem hoje só os
que creem nas manifestações, como está em O Livro dos Espíritos, muita gente
poderia dizer-se (e se diz!) espírita a contragosto dos mais ortodoxos. Kardec
não queria ser chefe nem papa, embora soubesse ter uma missão. Cumpriu-a com
equilíbrio incomum, modéstia singular, mas soube chamar para si a
responsabilidade máxima quando isso foi necessário, como se vê no projeto da
Constituição do Espiritismo, em que o mestre claramente visa diminuir o número
aparente de espíritas, preferindo conferir maior coesão ao grupo vinculado
apenas ao que estabeleciam suas publicações.[2]
Na
época de instauração da doutrina, só havia lugares de frequência para adeptos
das outras escolas. As pessoas iam às igrejas, às sinagogas, às academias, e
faziam experimentos mediúnicos em casa, ou na de parentes e amigos. E era
suficiente para serem espíritas naquele momento, apesar de Kardec já as
enquadrar na condição nada ideal de espíritas experimentadores.[3] Com a
multiplicação das sociedades espíritas e, sobretudo, com a crescente
hostilidade das religiões contra o Espiritismo, os espíritas substituíram um
comportamento por outro. Em vez de irem às igrejas, passaram a ir aos núcleos
espíritas. Além do que, na condição de ciência, o Espiritismo não foi aceito.
Como filosofia, por tratar de objetos tipicamente religiosos, é ainda acusado
de misticismo. Restou o quê? A religião. Essa, a frieza glacial do processo
histórico. E nenhuma novidade haveria nele para Kardec. Já em 1863, pressentira
que um dos períodos de instalação social da doutrina seria justamente o
religioso.[4]
Os
espíritos assim definiram a própria missão: “Estamos encarregados de preparar o
reino de Deus anunciado por Jesus, e por isso é necessário que ninguém venha a
interpretar a lei de Deus ao sabor das suas paixões, nem falsear o sentido de
uma lei que é toda amor e caridade”.[5] Não é isso religião? Sim, é. E até com
dimensão profética! É filosofia? Também o é. Pode ser justificado numa ciência
não restrita ao materialismo? Igualmente o pode. Todavia, ao menos por ora,
para quem mais além de nós, os espíritas?
Aos
que repelem a palavra religião em prol de maior clareza à divulgação do
Espiritismo, lembro que nenhuma palavra sequer, de qualquer dicionário que
seja, é detentora de um único e invariável significado. Bem oportuno, aliás, é
este apontado pelo Dicionário Escolar da Língua Portuguesa: “Religião. (...)
religiosidade (...) modo de pensar ou agir escrupulosamente; princípios: Ex.:
Minha religião é praticar o bem”.[6] Mesmo “ciência” se presta a vertentes
múltiplas; doutro modo, não existiria uma parte da filosofia que se debruça
sobre o que seria o conhecimento: a epistemologia. Tão proeminente se tornou
essa parte da filosofia que chega mesmo a absorvê-la por vezes.
Kardec
indicou muito precisamente os fins a que deveriam chegar todos os que,
superando a mera experimentação mediúnica, compreendessem “o Espiritismo
filosófico”. Não coincidentemente, o primeiro desses fins é o desenvolvimento
do sentimento religioso, sendo os demais a resignação em face das vicissitudes
da vida e a indulgência para com todos os defeitos alheios.[7] Meu alerta
ocorre porque, entre os que negam ao Espiritismo sua condição de religião, em
geral estão os que, nesse ínterim, rejeitam o vínculo Espiritismo-Cristianismo,
a condição cristã do verdadeiro espírita e da doutrina, sua posição espiritual
de terceira revelação, a possibilidade de Jesus ser espírito puro, a necessidade
da prece, a legitimidade do passe e da água magnetizada, etc. Seria preciso
rasgar tudo que Kardec escreveu, que os espíritos iniciadores estabeleceram, e
criar outra coisa. E não daria origem sequer a uma nova parapsicologia, que
ainda assim não seria Espiritismo. Por trás disso há, na verdade, um
descontentamento inconfesso com os rumos kardecianos do Espiritismo. Por que
não fundam outra filosofia, ciência, ou lá o que seja? Por que ficam à sombra
de Kardec?
Se o
mestre lionês evitou a palavra religião por seu sentido usual, é nesse sentido
que estamos obrigados a afastá-la. Se ele a aplicou nos termos em que disso até
se vangloriou, é nessa acepção em que poderemos empregá-la. Ao demais, ninguém
vai hoje tirar da cabeça do povo que o Espiritismo é uma religião. Melhor
explicar em que sentido o é e não o é. Trata-se de rota mais curta para
conduzir os adeptos à ciência e à filosofia espírita, coisas delicadas e assaz
dependentes de uma compreensão invulgar. O choque de uma negação absoluta da religião
espírita, além de inoportuno, não tem base kardeciana. Espiritismo: doutrina
filosófica e moral, mas nem por isso laica, por seu caráter não só moral, mas
religioso. É o que se vê neste excerto de Kardec na valorosa Revista Espírita:
É para que a crença possa penetrar nos
mais humildes redutos que a mediunidade não é um privilégio; acha-se em toda
parte, a fim de que todos, pobres e ricos, possam ter a consolação de se
comunicar com os parentes e amigos do além-túmulo. Os espíritos não quiseram que
ele fosse convencido dessa maneira, porque o barulho que isto tivesse provocado
teria falseado sua própria opinião e a de seus amigos quanto ao caráter
essencialmente moral e religioso do Espiritismo.[8]
Nunca,
aliás, o li tão bem explicado, o vínculo religioso da moralidade espírita, como
na seguinte asserção da professora de filosofia e metodologia científica Astrid
Sayegh, doutora em filosofia contemporânea pela Universidade de São Paulo:
A razão prática, ou seja, a
consciência moral não se basta, se o sujeito não for mobilizado por um impulso
amoroso, por uma aspiração à transcendência, por um estado de ânimo que paute a
sua conduta de forma rica e intensa. A moral sem a religiosidade é como a
bússola que sequer pode ser vista sem o candeeiro. O homem que age de forma
correta possui uma atitude louvável, mas o homem que age por amor torna a sua
atitude sublimada. À medida que o espírito eleva-se, não lhe satisfaz agir por
dever, mas sim agir pela alegria de satisfazer os anseios de sua natureza essencial:
amar mais e mais, buscar a Deus infinitamente. E essa sensibilidade espiritual
se aguça através do exercício da religiosidade.[9]
A
negação, sem ressalvas, de que o Espiritismo seja uma religião implica que
Kardec teria cometido um erro em seu último discurso. Inadmissível! Estuda-se
nos seus livros: Deus, alma, prece, penas e recompensas, vida no além, moral
cristã, milagres e profecias evangélicas, etc., mas, segundo alguns, teríamos
que dizer que isso não tem nada de religião. A quem essa percepção acudiria
hoje? Ao cidadão médio? Ao acadêmico? Nem a um nem a outro, e também por isso é
que aí estão os extremos opostos da mais completa desfiguração doutrinária: o
igrejismo da F.E.B. e o laicismo da C.E.P.A.
Kardec
bem explicou por que não aplicara a palavra religião ao Espiritismo, que suas
negativas se restringiam ao sentido usual, salvaguardada a acepção filosófica
do termo. Onde Kardec a negou, ou a proibiu? Seu derradeiro discurso, por
sinal, finaliza com nada mais, nada menos que o credo, a religião do
Espiritismo. Não deveriam ser os princípios, a filosofia do Espiritismo? No
entanto, Kardec está certo, porque as verdades da religião não estão no seu
culto e na sua forma, mas exatamente nos seus princípios filosóficos e morais.
Sejamos
verdadeiramente religiosos, ao sermos racionalmente religiosos, como queria
Kardec.[10] Esclareçamos em que termos o Espiritismo é, sim, uma religião, ou
nunca chegará a ser entendido nem mesmo como filosofia e ciência. Não é
estupendo professar uma doutrina que permite o vislumbre de uma
interdisciplinaridade tão fascinante? O que ganharíamos se a limitássemos à
ciência, ou à filosofia, ou mesmo à religião? Esse fabuloso Espiritismo é tudo
isso e bem mais que isso. E que dizer do gênio de Kardec? Meu Deus! Um espírito
de fato superior.
Acresça-se
ainda um dado bastante sintomático. Esta informação dicionária constante de
Houaiss, Objetiva, 2001, pp. 179 e 265:
es.pi.ri.tis.mo s.m. 1 doutrina
baseada na imortalidade da alma, na reencarnação e na comunicação mediúnica 2
kardecismo” [...] “kar.de.cis.mo s.m. doutrina religiosa, codificada por Allan
Kardec, que prega a reencarnação ─ kardecista adj.2g.s.2g. ─ kardecístico adj.
Interessante
a sinonímia registrada para “espiritismo” e “kardecismo” e, depois, a
classificação deste como doutrina “religiosa”, quando o mesmo não acontece, por
exemplo, ao “kan.tis.mo s.m. doutrina filosófica de Immanuel Kant”. Mais do que
para concordarmos ou discordarmos, isto é para refletirmos. As palavras
pertencem à sociedade, aos usuários em geral. Não devemos supervalorizar a
informação dicionária, mas não podemos ignorar o “termômetro” que representa.
Kardec não queria que o Espiritismo fosse religião, alegou que a doutrina não
era sua; contudo, não lhe negou de forma absoluta aquele caráter, assim como
não se lhe pode afastar a condição irreversível de fundador da Filosofia
Espírita, embora como religião a percebam hoje, mais do que como ciência (só
entre espíritas), ou mesmo como filosofia (sempre acusada de misticismo).
No que
toca à sinonímia sugerida entre “espiritismo” e “kardecismo”, até pode ser
oportuna, na medida em que, sem Kardec, de fato nada existe em termos
verdadeiramente espíritas. Melhor que se considere o Espiritismo como
kardecismo do que se chame Espiritismo a ditados de um único espírito, por um
único médium, a emitir opiniáticas esdrúxulas. Kardec aceitou e defendeu a
informação dos espíritos superiores de que o Espiritismo é a Terceira
Revelação. Não surpreende, pois, que haja chegado a ser, não só, mas agora
também religião. É apenas um fato. A questão é como lidar com ele.
A
ideia marxista de que religião é forçosamente ópio do povo e só favorece os
“cleros” não se aplica à religiosidade proposta pela Doutrina Espírita, avessa,
por natureza, a qualquer mediação político-administrativa entre Deus e a
humanidade. Sustentar o Espiritismo também como religião não é, portanto,
servir a nenhum “clero”; mas vislumbrá-lo em sua interdisciplinaridade. Há bem
mais nisso do que passionais aprovos ou desaprovos do fato de o Espiritismo ser
uma religião, porquanto o que se impõe aí é a própria lógica granítica da
Doutrina Espírita que, nesse viés, não é de exclusão, e sim de totalidade. De
minha parte (e nele está inscrito igualmente o nome de Kardec), sempre fui
signatário daquele compromisso paradoxal assumido entre Alexandre Busca e Jacó
Satanás, sobretudo em seu n. 3: “Nunca esquecer, ao atacar a religião em nome
da verdade, que a religião pode dificilmente ser substituída e a pobre criatura
humana está chorando nas trevas”.[11]
[1]
Revista Espírita. Dez/1868. O Espiritismo é uma religião? Grifos meus.
[2]
Cf. Obras Póstumas. Constituição do Espiritismo. § X — Allan Kardec e a Nova
Constituição.
[3]
O Livro dos Espíritos. Conclusão, VII.
[4]
Revista Espírita. Dez/1863. Período de Luta.
[5]
O Livro dos Espíritos, 627.
[6]
A.B.L., 2.ª ed., 2008.
[7]
O Livro dos Espíritos. Conclusão, VII.
[8]
Mar/1864. Variedades. Grifo meu.
[9]
Ser para conhecer, conhecer para ser. Filosofia Espírita. FEESP, 2004. Cap. VI,
pp. 229/30. Grifos meus.
[10]
A Gênese, XIII, 19.
[11]
Pessoa, Fernando. Obras em Prosa. Volume único. Nova Aguilar, 1998, p. 33.
(*) Escritor e palestrante espírita. Vice-presidente da Associação de Divulgadores do Espiritismo do Rio de Janeiro.
Excelente!!!!!!!!!!
ResponderExcluirPara quem estuda Espiritismo torna-se fácil entender Kardec. Para o vulgo, no entanto, quando afirmamos que Doutrina Espírita é religião, a interpretação segue a compreensão igrejeira que se consolidou no movimento espírita brasileiro. Muito boa a análise! Sugiro a leitura do texto "A Religião Arreligiosa", de minha lavra e a "Religião Espírita", de autoria do confrade Francisco Castro. O Canteiro de Ideias, como o próprio nome advoga, permite a riqueza da diversidade de ideias, tendendo para a unicidade que a Doutrina Espírita integra.
ResponderExcluirPara quem estuda Espiritismo torna-se fácil entender Kardec. Para o vulgo, no entanto, quando afirmamos que Doutrina Espírita é religião, a interpretação segue a compreensão igrejeira que se consolidou no movimento espírita brasileiro. Muito boa a análise! Sugiro a leitura do texto "A Religião Arreligiosa", de minha lavra e a "Religião Espírita", de autoria do confrade Francisco Castro. O Canteiro de Ideias, como o próprio nome advoga, permite a riqueza da diversidade de ideias, tendendo para a unicidade que a Doutrina Espírita integra.
ResponderExcluirShow... compartilhando...
ResponderExcluirAcredito que esse texto seja pertinente ao assunto acima citado:
ResponderExcluirCultura é a herança social de um povo. É o conhecimento que um determinado grupo acumulou, e está acumulando, à medida que enfrentou e enfrenta situações, dificuldades, desafios. Essa herança é mantida através dos valores, dos conceitos, da mentalidade das pessoas, que, em constante mudança, fazem adaptações que atendem às necessidades do grupo.
A religião é um segmento particular dessa cultura. Os conhecimentos construídos através das experiências e vivências da pessoa, e do grupo ao qual pertence, quando enfrenta questões básicas como o significado do sofrimento, da dor, do Universo, da existência, da vida, de Deus, determinam um conjunto que é chamado de religião. Portanto, as diversas correntes religiosas que existiram, e as existentes, refletem diferentes necessidades, diferentes escolhas de questões prioritárias, diferentes interpretações, diferentes respostas, diferentes atitudes e comportamentos.
As respostas não são dadas, mas construídas pela pessoa ao enfrentar as situações que a sua trajetória de vida apresenta. A visão religiosa é, portanto, uma ferramenta que facilita a construção de respostas.
A visão de Deus, por exemplo, e a relação Dele com os homens, foram se modificando à medida que o homem foi tendo entendimentos e vivências que permitiram novas interpretações.
continua...
Para a Doutrina espírita, a interpretação religiosa resulta da soma do conhecimento de várias pessoas, encarnadas e desencarnadas, que superam os seus entendimentos anteriores, propiciando respostas que sejam aperfeiçoadas, ampliadas e sustentem um comportamento diferenciado. A interpretação não é definitiva, acabada, absoluta. É aberta, permitindo que novas sínteses sejam realizadas à medida que o conhecimento das pessoas envolvidas se amplie. A religião espírita, portanto, não tem dogmas, não tem posições a serem defendidas com o sacrifício da razão, da compreensão. A Doutrina não pede que se sustente o que não se entende pois essa atitude não resultará em ato consciente e responsável.
ResponderExcluirA religião espírita não é a religião do maravilhoso, do sobrenatural, do mágico, do oculto, do mistério, pois “toda a sua extensão é alcançável através do conhecimento” (A. Grimm).
Na visão espírita, a interpretação religiosa não está isolada de outros segmentos de entendimento humano, como a ciência e a filosofia. A ciência, a filosofia e a religião são interdependentes e se completam, resultando em um quadro muito mais amplo de entendimento do ser humano e da vida do que cada uma delas consideradas isoladamente.
Para a Doutrina, a religião não necessita de templos, de cultos, de cerimônias, de rituais, de fórmulas, de prescrições, de sacrifícios, de promessas, de sacramentos. Ser religioso, para a Doutrina, não é pertencer a uma igreja, a uma instituição formal. Não há necessidade de sacerdotes; não há intermediários na ligação entre pessoa, creatura, e o seu Creador, Deus.
O Espiritismo não vincula à religião os conceitos de salvação, de culpa, de castigo, de pecado, mas sim aos de consciência, responsabilidade, avaliação crítica dos atos praticados.
A religião espírita é uma religião interior. É transformação individual; é intensa e extensa modificação de comportamento da pessoa segundo valores que ampliam a consciência de sua unidade com o Creador.
A Doutrina espírita afirma a sua singularidade na fé como sendo “sempre a razão através do conhecimento” (L.J.Correia); na esperança, como empenho de construir melhor o futuro; na prece, como exercício de identidade com o Creador; na dor, como reflexão para mudanças; no livre-arbítrio, como fundamental para a evolução; na evolução, como o significado da vida; na moral, como defesa da vida; na morte, apenas como transição entre o polissistema material e o polissistema espiritual; em Jesus, como exemplo, referencial maior para o cotidiano; em Deus, como “a unidade que se revela todos os dias quando nos procuramos” (A. Grimm); na Religião, como comportamento sempre em transformação.
O Espiritismo é a religião da compreensão alcançada, do entendimento construído, dos valores vivenciados, da modificação consciente do comportamento através do conhecimento renovado de si mesmo, do conhecimento renovado do significado e da unidade da vida, do conhecimento renovado da identidade com o Creador.
A postura do religioso espírita é a que faz “...reflexão sobre a realidade em que se vive para alcançar o conceitual da sua origem, da significação do espiritual, da natureza, do semelhante, da finalidade evolutiva da vida, do exemplo sublime e benevolente de Cristo, da grandeza, da bondade, da justiça de Deus.” (Marina Fidelis)
O religioso espírita é o que sustenta pensamento, linguagem, comportamento, que o aproximam, cada vez mais, do agenciar conscientemente a organização, o ordenamento, a harmonia, a estruturação inteligente do Universo.
(Preparado para o Encontro de Coordenadores dos Grupos de Exercício Mediúnico da SBEE sobre Religião espírita)
Passamos a confundir toda a doutrina espírita que liberta com a religiosidade que aprisiona.
ResponderExcluirVanessa.