Por Luciano Klein (*)
Nasceu em Fortaleza, a 9 de janeiro de 1911,
sendo seus pais Álvaro Nunes Weyne (prefeito de Fortaleza em duas gestões) e
Maria José Rodrigues Weyne, primeira pessoa escolhida para exercer, em nosso
Estado, as funções de presidenta da LBA - Legião Brasileira de Assistência.
Estudou no Colégio Militar do Ceará. Ainda
tenente, assumiu as tribunas publicas no momento em que o mundo vivia a
tragédia da 2.ª Guerra Mundial. Ao lado de Perboyre e Silva e Madaleno Girão
Barroso, formou o conselho deliberativo da Sociedade Amigos da América,
empolgando o público com sua oratória na sessão cívica de instalação no Teatro
José de Alencar. Em outra vibrante alocução, na Praça do Ferreira, conclamou a
todos para a luta contra o fascismo e a Quinta Coluna.
O General Euclides Zenóbio da Costa,
comandante das tropas expedicionárias brasileiras, em sua passagem por
Fortaleza, no ano de 1943, hospedou-se na residência de Álvaro Weyne, o que
ensejou ao tenente Edynardo solicitar-lhe sua inclusão como voluntário. Segundo anotações do confrade e pesquisador
Ary Bezerra Leite, ao partir para a Itália, foi exaltado na imprensa, por
Aníbal Bonavides, como intrépido lutador democrata, que conquistara o direito
dessa homenagem na praça pública e na trincheira jornalística. Em pleno Atlântico,
a bordo do navio “General Meigs”, Edynardo anotaria em seu diário: O fim do fascismo só será proveitoso para a
humanidade se marcar o início de uma nova era onde os homens pratiquem, de
coração e não obrigados por leis draconianas, a fraternidade e a tolerância,
sem as peias das fronteiras nacionais e os entraves das igrejas...
As vivências da destruição e do sofrimento na
guerra marcaram-lhe profundamente a alma. Em seu Diário de Campanha, segundo
pesquisas do mesmo Ary, ele registrou, quando de sua chegada ao acampamento de
Ponte a Mariano: Pelo caminho vi os
espetáculos de sempre: mulheres famintas com crianças famintas nos braços; meninos
de bicicletas, todos com bolsas para levarem o que encontrassem para comer.
De volta ao Ceará, na patente de capitão,
disse com destemor à imprensa: Uma nova constituição, para o Brasil, é uma
necessidade, pois o mundo inteiro se reorganiza dentro dos postulados de
justiça social e fraternidade. Nessa fase de sua vida, exerceu diversas funções
públicas. Fundou e presidiu a Liga do Ex-Combatente no Ceará, reclamando o
amparo aos soldados brasileiros que lutaram na Itália. Posteriormente, foi
representante das Forças Armadas na Comissão de Abastecimento e Preços do
Estado do Ceará, órgão do qual se demitiu, com a seguinte justificativa: - Se no exercício das minhas atribuições não
puder fazer perguntas quando reputar ferido o interesse coletivo, não há razão
de ser da minha presença ali ...
Residindo em Varginha, Sul de Minas, foi
redator-chefe do periódico “A Razão”, que tinha como lema: “Amor aos humildes; guerra aos opressores”. Ali, o Coronel Edynardo
Weyne recebeu credenciais como Delegado do Partido Socialista Brasileiro e,
depois de reunir em convenção seus correligionários, fundou a seção municipal
do partido, assumindo sua presidência.
Edynardo era filho de um dos pioneiros do
Espiritismo no Ceará, Álvaro Weyne, que presenciou a fundação do Centro
Espírita Cearense, em 1910. Entretanto, somente em 1962, o destemido militar,
ao iniciar suas atividades profissionais na construção da Barragem de Furnas,
principiou sua tarefa espiritual de edificador de centros espíritas, com a
ajuda permanente da esposa, Maria Assunção Weyne. A comunidade, de
aproximadamente 7.000 empregados com seus familiares, viu surgir o Centro
Espírita Servos de Jesus, proclamando como missão: “Levar a luz do Evangelho de Jesus, interpretado segundo o Espiritismo,
aos angustiados do caminho, às vítimas das trevas e aos que perderam, ou nunca
souberam, o endereço de Deus”. Segundo Ary Leite, seu trabalho evangélico
foi tão contundente que, em carta assinada como “toda confidencial”, o Padre
João Henning pediu à direção de Furnas: Faça-nos
o favor de promover o Dr. Coronel e mande um que não se envolva na vida
católica do povo de Guapé.
As assumir funções em outro canteiro de
obras, na hidrelétrica de Boa Esperança, no Piauí, fundou, numa singela cabana,
o Centro Espírita Luz nas Trevas, instalado na noite de 15 de julho de 1964.
Novamente no Ceará, radicado no distrito de
Messejana, fundou em sua residência, na Rua Padre Pedro de Alencar, 108, às
margens da lagoa, no dia 27 de dezembro de 1964, o Centro Espírita Amor ao
Próximo, depois transferido para um anexo de sua nova casa, na Rua Maria José
Weyne. A tarefa espírita estava consolidada quando instalou promissora
associação, em seu sítio na Mangabeira, o Centro Espírita Rural Seara do Divino
Mestre.
O nome Edynardo Rodrigues Weyne ganhou
projeção não somente no Ceará, mas no Sul do País, mercê de sua ação na
imprensa, divulgando as ideias espíritas. Seu primeiro artigo foi publicado no
“Correio do Ceará”, a 17 de dezembro de 1965, seguindo-se uma série – extensa,
copiosa e fecunda – de mensagens doutrinárias através das colunas : “Pelos Caminhos do Espiritismo”, de 1967
a 1971, no matutino “Unitário”; “Sob a
Bandeira da Esperança”, a partir de 1968, nas páginas de “O Estado”; de
1969 a 1971, no periódico “Gazeta de Notícias”; “Ao Encontro de Jesus”, em 1972, na “Tribuna do Ceará”, e “A Grande Esperança”, no jornal “O Povo”,
a partir de 29 de abril de 1972. Esse labor jornalístico, tão inusitado quanto
expressivo, seria coroado com sua transferência para o matutino “Diário do
Nordeste”, no mês de dezembro de 1982. As crônicas espíritas assinadas por ele
levaram o alento da mensagem espírita aos leitores dos jornais cearenses
durante 26 anos ininterruptos, até a sua desencarnação, em 29 de março de 1991.
Mantendo intensa atividade doutrinária em
Fortaleza, colaborando em importantes veículos da imprensa espírita, promovendo
uma profícua correspondência fraterna com vultos da doutrina espírita, o
Coronel Edynardo Weyne tornou-se nome eternamente reverenciado. Uma idéia da
dimensão do seu trabalho encontra-se, por exemplo, numa carta fraternal do
escritor espírita Mário B. Tamassia, que afirma: Você me fez. Amparou-me no
início; cedeu-me a sua fortaleza. Por esta razão, nunca poderei esquecê-lo. É
de fato o “Irmão Edynardo” que os mentores colocaram ao meu lado.
Em artigo produzido para “Manhã de Sol”,
órgão dirigido pelo seu amigo Ary Leite, na edição de abril de 1977, sob o
título “Meu Compromisso com Jesus”, Edynardo Weyne narra como mãos invisíveis o
salvaram da morte em vários momentos de sua vida, dando-nos também uma idéia
das dores e dificuldades que enfrentaria no desempenho de sua missão espiritual
: “(...) Ainda não chegara o minuto
cármico do meu retorno ao Outro Lado do Véu. Aguardavam-me tribulações,
espinhos, dores morais, angústias, desencantos, vendavais, miragens, abismos e
pântanos na jornada da carne. Já no crepúsculo da minha existência material,
surgiu a razão da minha vinda ao Mundo dos Homens. Minha missão. Minha tarefa.
Meu compromisso. A Cruz que é o preço da minha evolução. Ser escriba, arauto,
porta-voz, divulgador dos fenômenos, dos princípios, das Verdades
transcendentais da Religião Espírita. Levar ao coração dos que me leem ou ouvem
uma réstia de Esperança, uma migalha de Esclarecimento, um fragmento de Bom
Ânimo, uma faísca de Amor, uma partícula de Paz (...)”.
(*) historiador e presidente da Federação Espírita do Estado do Ceará.
Fui presenteado tempos atrás com o opúsculo "A Próxima Parada", de autoria do Cel. Edynardo Weyne, Zilda Rosin e Leandro Guerrini. Na obra o Cel. Edynardo Weyne registra o recebimento da Revista "Sigmum" de 05.12.1975,editada na Suécia, enviada por uma amigo que lá lecionava.
ResponderExcluirO Cel. transcreve alguns trechos da reportagem "Espiritismo no Brasil", de autoria do Pe. Edvino Friederichs, onde ele narra a decisão conjunta com o Pe. Oscar Quevedo, conhecido nosso, de criar o Centro Latino-Americano de Parapsicologia, para eles, a única forma de combater o Espiritismo no Brasil. Trinta e oito anos passados, constatamos que o esforço foi em vão, apesar de que no artigo Friederichs argumenta que necessitaria investir muito dinheiro.
Sentimos falta de personalidades vibrantes como o Cel. Edynardo Weyne, Cairbar Schutel, Herculano Pires no movimento espírita brasileiro.
Saudoso Cel. Edynardo!
ResponderExcluirBelíssima memória, resgatada com justiça, para felicidade de quem souber apreciar a trajetória de uma alma decidida, forte e suave, arrojada e pura.
Deus seja louvado!
Everaldo C. Mapurunga
A emoção foi grande,quando ao ler tão belo relato de um homem acima de seu tempo. São esses exemplos que devemos seguir. Obrigado amigo.
ResponderExcluirEm homenagem a ele denominaram a antiga Estrada da Mangabeira que liga a Estrada do Fio a aquela localidade no município de Eusébio.
ResponderExcluirMuito interessante. Desconhecia. JORGE LUIZ
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