Por Sérgio Aleixo (*)
Educar é processo amplo, complexo. São tantas
as possibilidades... O centro espírita não consegue, hoje, sequer ensinar
Espiritismo, que dirá educar em sentido mais extenso, coisa que, por sinal, nem
mesmo escolas e universidades fazem a contento todo o tempo. Por que o centro
espírita teria de fazê-lo? Não se trata, pois, de saber se educar é mais ou
menos do que evangelizar, ou se evangelizar é palavra exclusiva da Igreja
Romana. Trata-se de saber se educação, para o Espiritismo e para os espíritas,
pode existir sem os evangelhos cristãos. Para Kardec, a educação moral está
acima da educação intelectual.
Há um elemento, que se não costuma fazer
pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria.
Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral.
Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na
arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o
conjunto dos hábitos adquiridos.[1]
A moral adotada pelo Espiritismo não é a de
Jesus? Os mais completos manuais dessa educação moral não são os evangelhos
cristãos, mesmo os extracanônicos? E se forem "segundo o
Espiritismo"? Não serão melhores ainda? Não são eles a gênese da
evangelização? Necessitam os espíritas de uma palavra nova? Espírito é palavra
nova? Alma é palavra nova? Deus é palavra nova? A Doutrina as utiliza com
proveito, ou não? Então, tudo na sua justa medida. Mesmo a palavra Espiritismo,
Kardec não a criou, adotou-a do inglês, afrancesando-a com a vocal
"e" (spirit+ism+"e").
Espírito, em francês, é "esprit",
não "spirit". Foi acusado
de barbarismo à época.[2]
Os evangelhos cristãos não são propriedade da
Igreja Romana. Evangelizar não é necessariamente catequizar. Para os adeptos do
Espiritismo, “CUJA DOUTRINA”, aliás, no dizer de Kardec, “MAIS NÃO É DO QUE
APLICAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA DOUTRINA DO EVANGELHO”,[3] evangelizar será
educar moralmente conforme Jesus, sempre mais que consoante Buda, Maomé, ou
outros, apesar do respeito que se lhes deve naquilo, sobretudo, em que convirjam
com o singular camponês judeu do mediterrâneo.
Claro que a moralização nos moldes dos
evangelhos cristãos não será tudo na educação do nosso ser espiritual. Mas que
adianto seria se nos evangelizássemos deveras neste casebre cósmico chamado
Terra. Que adiantou, meu Deus! Porque estar evangelizado significa estar
educado para o amor fraterno, incondicional. Assegurou Kardec: “As instruções
que promanam dos espíritos são verdadeiramente as vozes do céu que vêm
esclarecer os homens e convidá-los à prática do Evangelho”.[4] Os espíritos
também são, portanto, evangelizadores!
(*) Comunicador, palestrante e escritor dedicado ao Espiritismo. Presidente
da Associação de Divulgadores do Espiritismo do Rio de Janeiro.
[1] O
Livro dos Espíritos, 685.
[2]
Cf. O Que É o Espiritismo? Cap. I.
[3]
O Evangelho Segundo o Espiritismo, XXIV, 16.
[4]
O Evangelho Segundo o Espiritismo, Introdução, § I.
É uma constatação funesta. Evangelizar, segundo os dicionários é catequese; pregar o evangelho. Educar está bem definido por Kardec. Se o centro espírita não consegue sequer ensinar Espiritismo, "vã é a nossa fé", parafraseando o apóstolo Paulo.
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