O último paciente do dia que
se tornara quase noite entrou no consultório com passos curtos e respiração
abreviada pela dispnéia. Tinha o abdômen bastante volumoso pelo líquido que
extravasou dos vasos, tornando a cavidade um repositório chamado de ascite. Em
fase terminal de câncer, ainda tinha o cuidado de cuidar de outros problemas de
saúde, entre eles a disfunção da tireóide.
Como se fosse inevitável
para o momento e situação surgiu a pergunta fatal _ “O que a Medicina tem a
dizer do momento da morte, devo me
preparar para o nada?” Não perguntava a opinião do médico, eivada das crenças e
convicções pessoais, mas a visão da ciência chamada por Hipócrates de Arte de
Curar.
Uma década se passou desde a
publicação do artigo do Dr. Pin Van Lommel pela prestigiosa revista médica
inglesa The Lancet, o qual estudou a prevalência e as consequências da
Experiência de Quase-Morte após parada cardíaca, sobre uma população de 10
hospitais da Holanda.
Experiência de Quase-Morte?
Foi com assombro de desconhecimento que essa pergunta me foi endereçada por um
médico residente, em uma conversa informal sobre o trabalho do Dr. Van Lommel.
Experiência de Quase-Morte foi o termo utilizado para descrever lembranças que
retornam à mente de pessoas que passaram por situações extremas, entre elas
afogamentos, acidentes graves, hipotermia e parada cardíaca. A Experiência de
Quase-Morte surge de modo espontâneo nessas situações e, o que é interessante,
é que as pessoas que passaram por tal condição descrevem um quadro muito
parecido _ sentem-se fora do corpo, alguns são capazes de enxergar o próprio
corpo, depois são conduzidos a um túnel escuro , por onde caminham, até
encontrarem uma luz brilhante, onde sentem uma espécie de expansão da
consciência e encontram familiares, pessoas queridas, alguns descrevem a
presença de anjos ou seres celestiais. Repentinamente são convidados, ou
induzidos, ou forçados a voltar ao corpo, onde acordam da morte.
O mais impressionante da
Experiência de Quase-Morte, que vou passar a chamar agora de EQM, é que a
imensa maioria dos que por ela passaram tem a sua vida profundamente
modificada, porque os valores de antes são substituídos por outros, com
marcante devoção à vida e às conquistas subjetivas, como felicidade e bem estar
de si e do próximo.
Os cientistas que estudam a
EQM tendem a justifica-la pela anoxia cerebral, ou falta de circulação cerebral
no momento da experiência. Na visão dos que defendem tal postulação, a anoxia
cerebral seria responsável pela ocorrência quase uniforme de manifestações,
como a entrada no túnel e o enxergar as luzes.
Nos casos estudados pela
equipe do Dr. Van Lommel, 61 ao todo, a EQM ocorreu quando o coração parou de
bater, ou seja, havia morte clínica, o cérebro não poderia registrar mais nada,
tecnicamente falando.
Além do argumento que o
paciente estava morto no momento da EQM, fatos curiosos cercaram os relatos de
vários pacientes do Dr. Van Lommel. Em um deles, a dentadura de um paciente foi
retirada de sua boca quando o monitor cardíaco fez soar o alarme que o coração
havia parado. Dois dias após ter sido ressuscitado, o paciente pediu de volta a
dentadura, causando certo constrangimento à equipe de enfermagem que julgava
te-la perdido. Eis que o paciente então avisa à enfermeira responsável que
quando retiraram a sua dentadura para colocarem o tubo oro-traqueal, uma outra
enfermeira, que usava óculos e era de estatura baixa, havia retirado sua
dentadura, embrulhado com gaze e guardado na gaveta de determinado armário.
Para espanto de todos, a dentadura foi encontrada no local indicado e a citada
enfermeira confirmou que, aos cinco minutos de parada cardíaca, antes da
entubação, retirou os dentes do paciente e os guardou.
Outro caso inusitado foi o
de outro paciente que, horas depois de retornar da parada cardíaca pergunta
ansioso pela adolescente que fora atropelada na porta do hospital e para a
Emergência conduzida. Eis que realmente houve atropelamento e uma adolescente
dera entrada no serviço de Trauma do hospital, mas o horário de ocorrência era
exatamente o mesmo em que o paciente estava clinicamente morto e recebendo
assistência médica.
O que o Dr. Lommel questiona
ao final de seu artigo é a impossibilidade de localizar a consciência no
cérebro. A EQM é uma prova inconteste que o cérebro é instrumento da
consciência e não sua sede.
A Medicina ainda interroga
casos como os de EQM, tentando encontrar uma resposta no cérebro, argumentos
esses muito pequenos para explicar a multiplicidade de fatos que ocorrem quando
o paciente está clinicamente morto. Mas ainda a Medicina se contorce para não
assumir que todas as evidências que a EQM oferece devem dizer ao paciente
próximo à morte que, ao atravessar a fronteira da vida no corpo, uma nova forma
de vida acontece, a vida que vai além da vida.
Se você passou por
Experiência de Quase Morte, não hesite em me enviar um email.
Email: endocrinologista@gmail.com
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