Por Roberto Caldas(*)
Se você precisou
nesses anos de sua vida despedir-se de alguém que a morte convidou para a
grande viagem; se sofreu essa perda sem aviso prévio; se teve que respirar a
dor de entregar à terra o corpo de alguém muito querido com quem julgava
caminharia ainda muito tempo nessa existência, a visão espírita consegue
compreender o que se passa nos seus corações. Durante muitos anos a morte não
passava de um mistério cruel que separava os amores e levava as pessoas para
nunca mais se encontrarem.
Compreensível que a falta da
constatação dos olhos nos olhos e das mãos nas mãos continue a preencher-nos a
alma com a sensação de saudade, mas a saudade deve passar longe do conceito de
sofrimento. Ter saudade é uma das mais satisfatórias percepções do ser humano,
uma espécie de garantia de que foi bom o tempo que passamos juntos, mesmo que a
opção do existir tenha sido indicar-nos uma nova paisagem para caminharmos.
À parte dessa noção de descontinuidade
dos laços, a Doutrina Espírita afirma que a morte estreita os laços da
afetividade entre aqueles que se amam verdadeiramente e que aqueles que
partiram são muito sensíveis aos bons pensamentos que os encarnados lhes emanam
em qualquer momento, independente de datas (LE, q. 320). Assim como permanecem
os laços, não há nenhuma distância entre nós e aqueles que se foram porque a
estrada que nos aproxima ou separa é resultado apenas da forma como dirigimos o
nosso pensamento (LE, q. 89 e 89a) e o mundo espiritual está tão próximo dos
encarnados que basta um leve cochilo para penetrarmos nele (LE, q. 401).
O Espiritismo trouxe não só a
comprovação da imortalidade da alma, embasado nas insofismáveis comunicações
dos mortos, para o entendimento da morte, foi muito mais além nessa nova
concepção que já atravessa mais de 150 anos. Trouxe-nos a certeza de que
seremos nós mesmos que estaremos no comando de nossas vidas, passados os
momentos do desenlace corporal; estaremos cercados por todas as pessoas que nos
anteciparam e permanecem vinculadas aos nossos corações; poderemos acompanhar
mais ou menos proximamente as pessoas que deixarmos no planeta, como somos
acompanhados pelos que já se encontram no mundo espiritual.
Quem de nós que tenhamos deixado no
sepulcro amores e amigos não nós permitamos transitar pelas ruas da amargura e
da aflição. É apenas uma armadilha que os olhos do corpo, cegos à
forma-pensamento, nos prega. Aqueles que se foram continuam a fazer parte de
nossas vidas e precisamos pelo respeito que lhes temos fazer valer muito à pena
o tempo de existência que ainda nos resta sobre esse solo amigo da Terra. O
maior preito de respeito que podemos oferecer aos que partiram é a manutenção
da nossa caminhada dentro dos princípios que tenhamos vivenciado enquanto
estivemos juntos. Lembremo-nos de que a morte é um presente que vem enrolado em
uma caixa de surpresas, sabe-se apenas que um dia chega para cada um de nós,
justamente para que possamos celebrar a data de hoje com o doce e o salgado que
cada dia comporta.
¹ editorial programa Antena Espírita de 03.11.2013.
(*) integrante da equipe do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
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