Felicidade faz bem para a saúde. O que era
uma assertiva da sabedoria popular virou prescrição médica desde que uma série
de artigos, que datam desde a década de 80, demonstraram efeitos benéficos de
estados relacionados ao que chamamos felicidade, como o sorrir alegremente, o
viver sem preocupação com o dia de amanhã, planejar o futuro com otimismo, ter
uma rede saudável de amigos reais (e não virtuais, como o que ocorre com as
redes sociais da internet).
Na
década de 80 uma série de pesquisas iniciadas na UCLA, Universidade da
Califórnia em San Francisco, demonstrou a íntima relação entre estados de humor
e sistema imunológico, mediado pelos neuropeptídios, que se encontram por todas
as regiões cerebrais. Relações entre queda imunológica e depressão, mediados por
transmissores celulares, chamados citoquinas e interleucinas, e hormônios, como
o CRF (Fator Liberador de Corticotropina) foram demonstrados e uma nova
disciplina surgiu, chamada de Psiconeuroimunologia.
Entre
os estudos da UCLA, um testou o efeito de sorrir-se alegremente. No momento da
gargalhada realmente feliz, os níveis dos chamados hormônios do estresse, e
assim são chamados porque são mediadores das reações inflamatórias do estresse,
caem abruptamente, o que provou que sorrir alegremente traz benefícios sobre a
saúde.
Alcançar
a felicidade é um roteiro mais que filosófico ou metafísico. É uma construção
árdua, contínua, cujo êxito se obtém após muitas frustrações. Em verdade,
podemos dizer que sem frustrações não há felicidade.
Sigmund
Freud foi o grande estudioso da alma humana. Em um texto extremamente bem
elaborado, “Muito Além do Princípio do Prazer”, o neurofisiologista vienense
relata que (por instinto) somos levados, desde a infância, à busca da
satisfação de prazeres, que vão desde a relação com os esfíncteres à satisfação
dos impulsos sexuais. E essa pulsão não tem fim, exceto se contrariada por
frustrações, e são as frustrações que permitem desde simples ordenações sociais
às mais complexas, desde a vida em um pequeno grupo ao relacionamento pacífico
entre povos e culturas distintas.
A
proposta de Freud foi reavivada com os estudos da moderna neuroimagem
funcional, que é o estudo das imagens cerebrais, através de aparelhos
sofisticados, capturando um momento de estabilidade, como também após um
estímulo específico.
Um
estudo de neuroimagem funcional muito ilustrativo foi apresentado por João
Ascenso nas V Jornadas Portuguesas de Medicina e Espiritualidade, em Maio de
2010 e também em Junho de 2011, no Congresso Médico Espírita do Brasil. No
estudo apresentado por Ascenso, os sujeitos pesquisados receberam dois tipos de
estímulos, um de recompensa que foi imaginarem que ganharam uma fortuna, o
outro, de frustração, foi de imaginarem que a fortuna não ficaria com eles.
Nesse segundo estímulo, os sujeitos tiveram duas opções, ou doariam tudo o que
tinham para uma entidade filantrópica ou deixariam que tudo se perdesse.
Analisando as imagens neurofuncionais por ressonância magnética, o autor do
estudo apresentado por Ascenso, M. Benchimol, percebeu que quando as pessoas
eram estimuladas pela recompensa, ativavam áreas cerebrais correspondentes a
estruturas básicas e instintivas, o mesmo se dando quando ocorria a frustração
com a opção de perderem tudo e não doarem. Todavia, os sujeitos do estudo que
optaram por doar a recompensa, ativavam áreas cerebrais correspondentes aos
lobos pré-frontais.
A
região pré-frontal do neocortex é a área das realizações superiores, segundo
informação do espírito André Luiz na obra psicografada por Chico Xavier, No
Mundo Maior, na década de 1950. Os estudos modernos comprovam que essa região
cerebral é estimulada pelas pessoas que se sentem felizes.
Outro
dado interessante é que esses achados são compatíveis com a proposta de Mario
Beauregard em seu livro O Cérebro Espiritual. O pesquisador canadense, da
Universidade de Montreal, obteve o mesmo tipo de imagens, mas após modificação
do padrão cerebral por terapia, efeito placebo ou estado de atenção sobre si
mesmo, ou mindful state.
Para
obter esse tipo de padrão de neuroimagem, correspondente à ativação de regiões
cerebrais que equivalem a estados de felicidade, uma frustração anterior teve
que ocorrer, ou seja, a intenção deliberada de modificar-se o estado mental
anterior, ou ir muito além do princípio do prazer , como disse Freud.
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