Por Roberto Caldas (*)
O mundo virou um mercado. Tudo virou artigo
de compra e venda, até a própria fé. Aliás, a fé desde todos os tempos já era
utilizada como produto de negociação, senão qual terá sido a razão do maior
cisma já sofrido pelas doutrinas cristãs ocorrido no início do século XVI
capitaneado por Martinho Lutero?
É
inegável que a desigualdade social, instituição egóica humana que permite a
convivência do esbanjamento irresponsável frente a frente com a escassez
absoluta, estabelece um padrão de repressão às classes menos favorecidas que
naturalmente intentam descobrir o caminho para atingirem os patamares do
sucesso. Aí que entram os instrutores da riqueza fácil, sob as diversas capas
de credibilidade que variam dos princípios do “self-made man” até a intermediação de Deus pelas trocas através
dos dízimos passando por uma centena de outras idéias que seduzem pelas
promessas de grandes resultados. Muitas dessas idéias utilizam os princípios da
Física Quântica, modelo que transformou irreversivelmente a visão científica da
solidez da matéria jogando-nos a todos no insofismável mundo das energias.
Esses
sistemas, no entanto cometem uma falha grave ao proclamarem suas teorias de
mudança de vida, mesmo aqueles que tentam desvendar os “segredos” resguardados
nas leis da atração que afinal definem a forma de reciprocidade entre as
pessoas e o Universo. Todos eles baseiam as suas perspectivas numa existência
que inicia com o nascimento finalizando com a morte do corpo e avaliam a
contabilidade do sucesso apenas nos ganhos pecuniários que venham a ser gerados
pelas crenças que disseminam. Vinculam os resultados a serem alcançados ao
período de vida produtiva na contagem de anos de uma existência.
A
Doutrina Espírita reconhece que qualquer esforço honesto na busca de alcançar-se
novos e melhores patamares existenciais constitui-se em justa busca e tal deve
ser incentivado. Inegável que a decisão de mudança gera motivações e cria
paisagens que transformam a condição humana, porém a primeira ambição a que se deve
aspirar é aquela que permite ao homem entender-se como um Espírito imortal,
cuja atual existência se encontra comprometida com um planejamento prévio, de
escolha própria segundo estabelece a questão 258 de O Livro dos Espíritos (Na
espiritualidade, antes de começar uma nova existência corporal, o Espírito tem
consciência e previsão das coisas que acontecerão durante sua vida? – Ele mesmo
escolhe o gênero de provas que quer passar. Nisso consiste seu livre-arbítrio).
O
significado dessa compreensão em nada se interpõe a que se aspire as mudanças.
Simplesmente estabelece que certas mudanças, quando imprópria ao crescimento do
Espírito encarnado lúcido durante o sono e solicitada durante a vigília quando
no esquecimento das suas necessidades espirituais mais profundas, são abortadas
por ele mesmo até que chegue o momento para acontecerem. E esse momento pode se
propiciar nessa ou noutra existência, não necessariamente agora, como o desejam
os movimentos que pregam tais práticas. Enquanto a oportunidade parece nos
fugir das mãos é fundamental que cuidemos dessa existência com aceitação da
realidade e empenho na transformação do que nos compete absolutamente que é
cuidar para fazermos ao outro o que gostaríamos que o outro nos fizesse.
¹ editorial do programa Antena Espírita de 10.11.2013
(*) integrante da equipe do programa Antena Espírita e voluntário do C.E. Grão de Mostarda.
A resposta dos Espíritos à questão 27 de O Livro dos Espíritos, considera o espírito e a matéria como elementos universais e acima deles Deus, que forma a trindade universal. A matéria é importante na nossa escada evolutiva. Seu valor é relativo. Absolutos, são os valores espirituais.
ResponderExcluirBelo editorial!
Parabéns caríssimo Roberto Caldas!
Abração!