domingo, 12 de janeiro de 2014

"COMPADRES, AMAI-VOS!?"







Por Jorge Luiz (*)




“A liberdade de consciência é consequência
da liberdade de pensar, que é um dos
atributos do homem; e o Espiritismo, se não a
respeitasse, estaria em contradição com
os seus princípios de liberdade e tolerância” (Allan Kardec)


          
Há dezoito anos escrevi ao confrade Divaldo Franco o convidando para um evento na cidade em que residia, no interior do Estado do Ceará.  Ele educadamente informou que só aceitaria o convite via Federação Espírita. Na ocasião, a Federação do Ceará era presidida pelo saudoso Benvindo Melo que facilmente viabilizou a visita do tribuno baiano.

            As iniciativas de Divaldo Franco, bem como Raul Teixeira àquela época visavam fortalecer o movimento federativo.
            Em nossos dias a atitude assume uma nova feição por parte de algumas federativas, talvez sob a mesma alegativa. São duas as linhas de condutas:
a)    a federativa não avaliza convites feitos a expositor local, que não seja simpático aos trabalhos desenvolvidos pela mesma;
b)    alguns expositores, por sua vez, não participam de eventos patrocinados por casas espíritas que não são afiliadas/não se afinizam com a federativa.

             O que era um gesto de deferência passou para uma postura provinciana e inquisitorial. É indiscutível a necessidade de fortalecimento do movimento federativo. No entanto, esta afirmativa não isenta de que a dinamização das atividades federativas não sejam sujeitas a críticas. Sabe-se que é de competência das federativas, os seguintes objetivos e fins:
I – O estudo, a prática e a difusão do Espiritismo em todos os seus aspectos, com base nas obras de Allan Kardec, que constituem a Codificação Espírita;
II – A prática da caridade espiritual, moral e material por todos os meios ao seu alcance, dentro dos princípios da Doutrina Espírita, desenvolvendo, para tanto, atividades nas áreas assistencial, cultural, beneficente e filantrópica;
III – A união solidária das sociedades espíritas e a unificação do movimento espírita.

            Nem mesmo a Federação Espírita Brasileira - FEB, que se autodenomina “casa-máter do Espiritismo do Brasil”, é infalível. É de bom alvitre lembrar que não existe esta figura no Espiritismo, nem no Brasil e nem em lugar nenhum, até porque a FEB nasceu como centro espírita. A este respeito leia-se o que afirma o Espírito Massilon, em a Revista Espírita, abril de 1861:

“(...) Esta criança não tem pátria; percorre toda a Terra, procurando o povo que há de ser o primeiro a arvorar a sua bandeira, e esse povo será o mais poderoso entre os povos, pois tal é a vontade de Deus.”

            Não restam dúvidas que muitas federações espíritas estão distantes dos objetivos e fins que lhe são instituídos. As funções de algumas estão mais restritas às atividades de relacionamento público-social.
            O Espiritismo não tem estrutura hierárquica, nem clerical. Não tem sacerdotes nem chefes religiosos. O Espiritismo é fundamentado em bases efetivamente morais.
            O que se percebe na realidade é que parcela das federativas se transformaram em reduto de majestades no exercício do poder, sem nenhuma legitimidade no universo doutrinário em que se situa, até pela falta de visão de algumas lideranças em relação à dinâmica das atividades federativas.   Por outro lado, espíritas embora dotados de boa vontade alçam-se à condição de dirigente sem conhecimento da função e do próprio significado de um centro espírita, alheios; e até por interesses pessoais permanecem alheios aos destinos do meio espírita em que se insere. Estabelece-se uma “política de compadres”, esquecendo-se a máxima do “Amai-vos e Instruí-vos!” do Espírito da Verdade, sob o jugo dos interesses próprios, sufocam o ideal de união ensinado por Kardec que forjará a grande família espírita.
            O professor, filósofo, jornalista, escritor espírita José Herculano Pires, em sua obra “Curso Dinâmico de Espiritismo”, adverte:
“Não há mais lugar para comodismos, compadrismos, tolerâncias criminosas no meio espírita. Cada um será responsável pelas ervas daninhas que deixarem crescer ao seu redor. É essa a maneira mais eficaz de se combater o Espiritismo na atualidade: cruzar os braços, sorrir amarelo, concordar para não contrariar, porque nesse caso, o combate à doutrina não vem de fora, mas dentro do movimento doutrinário.”
            As iniciativas de algumas destas entidades em direção aos princípios de união e unificação entre os espíritas e as suas instituições são subnutridas. Os órgãos informais funcionam de forma independente, muito mais como espaços sociais do que fórum de discussão em busca da unidade desejada por Allan Kardec.
            A falta de uma participação ativa dos espíritas e especialmente dos dirigentes espíritas possibilitam espaços para posturas desta natureza.
            Caminhamos para a institucionalização de comportamentos extremamente reacionários. Parece que a simpática personalidade do papa Francisco atingiu o inconsciente arcaico desses espíritas favorecendo processo de “romanização” no movimento espírita brasileiro.
            Todo este cenário demonstra de forma inequívoca o desconhecimento do espírita Allan Kardec. E ainda, o afastamento de tudo que ele escreveu sobre a dinâmica que se deve observar nas diretivas para a construção da unidade de princípios favorecendo a marcha progressiva do Espiritismo.
            Em “O Que é o Espiritismo”, ensinamento oportuno de Allan Kardec:

            “Se transformardes, porém, uma crença em si mesma inocente, em instrumento de perseguição, ela então se tornará nociva e pode ser combatida.”

(*) livre-pensador e voluntário do Instituto de Cultura Espírita do Ceará.

6 comentários:

  1. Parabéns pela lucidez do texto.

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  2. Espero Jorge, que faça a sua parte....esclarecendo e despertando consciência.
    Sem estudo aprofundado da CODIFICAÇÃO...continuará o equívoco ou equívocos.
    Bem lembrado meu grande amigo, Bem Vindo.
    Abraço fraterno e minha gratidão pelos teus excelentes comentários.

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  3. Excelente lucidez!
    É preciso que mentes assim possam pensar e terem a coragem para assumir de fato a verdadeira doutrina.

    Márcia.

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  4. Excelente Jorge Luiz! Vai para o Twitter, para o Facebook e para o mundo!

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  5. Muito Bom Compadre Jorge!
    Francisco Castro de Sousa

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