quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

ESPIRITUALIDADE NA EMPRESA, SEM RELIGIÃO NA EMPRESA





Como em tudo na vida, existem duas formas de implantar espiritualidade na empresa: a adequada e a não adequada. A não adequada é confundir “espiritualidade na empresa” com a implantação de “religião na empresa”. E este crucial ato pode matar, no nascedouro, a mais eficaz das ferramentas de gestão empresarial de todos os tempos.
Implantar “religião na empresa” significa adotar dogmas, regras e rituais, que pela sua essência geram no ambiente empresarial mais divergências do que convergências. Por outro lado, implantar “espiritualidade na empresa” é adotar princípios e valores, no campo do inter-relacionamento pessoal, que sejam comuns à todas as crenças, o que, em síntese, significa a aplicação do necessário respeito e valorização do próximo e da natureza, que é – esse respeito e valorização - o mais importante pilar da produtividade empresarial.
Espiritualidade na empresa significa ações da empresa e do seu quadro de funcionários que permitam estabelecer um clima de cooperação mútua e de respeito ao próximo e à natureza. Essas benfazejas ações vão propiciar o desenvolvimento pessoal que, além de melhorar substancialmente a produtividade, tende a culminar na espiritualização do indivíduo. Em vez de regras religiosas, devemos adotar procedimentos e atitudes que significarão a aplicação da religiosidade e, assim, surgirão caminhos para o estabelecimento de novos e fortes valores que implicarão no surgimento da responsabilidade social da empresa e dos seus funcionários. Fato este que tenderá a gerar, como natural consequência, a tão comentada e ainda não plenamente vivenciada ética empresarial.

Peter Drucker já dizia que “Ganhar a vida já não é suficiente; o trabalho tem de nos permitir vivê-la também”. Aplicando espiritualidade na empresa como se deve, o trabalho passará a ser prazeroso e produtivo, proporcionando ao trabalhador sentido e significado.
Cabe a todos nós unirmos esforços no meio empresarial para melhor aproveitar essa inesgotável fonte de saber que é a essência ou a centelha divina presente no ser humano. Não obstante esta realidade, visar o crescimento do pessoal no campo espiritual implica em também enxergarmos a empresa em três fundamentais aspectos, instituição geradora de atitudes proativas de valorização do indivíduo (funcionário, cliente e acionista), instituição responsável social e comunitariamente e fundamentalmente fonte criadora de riqueza e novas tecnologias, haja vista que nenhuma empresa que valoriza o aspecto espiritual do seu pessoal, pode se esquecer da manutenção e do crescimento do seu foco que é a razão de sua existência: gerar lucro.
Conforme palavras de William Greider, em seu livro O mundo na corda bamba, Geração Editorial: “Estamos vivendo uma revolução que administra a si mesma”. Não há um líder mundial, encarnado em um corpo físico, fazendo as coisas acontecerem; simplesmente elas estão acontecendo. Por isto a razão dos tópicos a seguir.

a) A importância da empresa para a evolução espiritual nesse mundo.
Não há como esquecer que o desenvolvimento espiritual é, obviamente, uma decisão individual e particular, mas a empresa pode difundir o ambiente apropriado para os funcionários serem estimulados a seguir esse caminho. É preciso, no entanto, o trabalho árduo de alterar os seus valores.
A empresa que quiser antecipar-se no tempo, isto é, a empresa que quiser caminhar para a cultura e os valores que serão padrões comuns a todas as instituições e empresas, bastará começar a inserir em seu meio o amor (o respeito às pessoas), a integridade, a boa ética, a preocupação com a ecologia e função social. E então naturalmente criará o ambiente necessário para o funcionário se espiritualizar. Em outras palavras, estará implantada a espiritualidade na empresa.
Espiritualidade na empresa deve ser vista como ação da religiosidade, ou seja, o fato de o funcionário pôr em prática – em favor do próximo – o que sua religião ensina.

b) Ser hominal e ser espiritual:
Precisamos passar de seres hominais para seres cósmicos ou espirituais.
O ser hominal reage, o ser espiritual age.
O ser hominal tolera, o ser espiritual resigna-se.
O ser hominal perdoa, o ser espiritual não perdoa, pois, por não se magoar, por não se ofender, não há o que perdoar.

c) A valorização do invisível:
Há mais de cem anos Leon Denis Leon já dizia: “Não se transforma a sociedade por meio de leis. As leis nada são sem os costumes e as crenças elevadas. Só a compreensão do visível e invisível educará o homem”. Deduzimos, pelas palavras de Denis, que somente a educação plena, que valoriza o invisível, é que despertará o ser consciente. Corroborando com essa tese há a opinião de Gilberto Velloso, diretor do Instituto Chiorlin Velloso: “Espiritualidade é a consciência de estar neste mundo de um modo muito especial, ou seja, de um modo responsável. Portanto, espiritualidade é a consciência da responsabilidade de cada indivíduo pela ampliação da sua própria consciência. É a responsabilidade dele frente a si mesmo, ao outro, à natureza, ao universo e, consequentemente, frente à organização”.

d) A importância do autoconhecimento:
Dizem os textos religiosos que em determinada época o mar se abriu, num outro momento o alimento caiu do céu e certa vez a água transformou-se em vinho. Hoje não é comum a ocorrência de tais acontecimentos ou milagres. Hoje temos que, com esforço, abrir nosso grande mar interior à procura daquele brilhante encoberto pelas areias de suas profundezas. Depois desse intenso esforço não esperemos que cairá do céu o nosso alimento espiritual. A necessidade do contínuo e infindável esforço continuará a se fazer presente e, então, como fruto de nossa persistência (em desbravar o nosso mar interior), conseguiremos transformar a água do nosso mar interior no doce vinho do autoconhecimento, no doce vinho da descoberta da espiritualidade.
E, na busca do autoconhecimento, é importante enxergamos a prevalência do espírito sobre a matéria. Sobre esse tema há um texto de Lao Tsé, mestre taoísta, que, dos que já li, é um dos mais belos e sugestivos: “Trinta raios convergentes no centro fazem uma roda de moinho, mas somente os vazios entre os raios lhe facultam o movimento. Com a argila, o oleiro faz o vaso, mas este só ganha significado pelo seu vazio interior. A casa tem paredes, portas e janelas, mas é somente seu vazio interior que lhe dá utilidade. Assim são as coisas físicas, parecem principais, mas o valor está na metafísica”.

e) Deus em nossa vida:
Em maio de 1998 a consultoria CPM, orientada pela psicóloga Oriana White, em pesquisa com jovens, chegou à conclusão que 98,2 por cento dos jovens acreditam em Deus. Determinada pesquisa divulgada pela revista Veja dizia que a maioria quase absoluta dos brasileiros acredita em Deus. E sobre esse Ser maior, causa primária de todas as coisas, disse certa vez Ayrton Senna (após ter sofrido um acidente): “Acho que passei por um período de adaptação. Descobri algumas coisas importantes na vida. Esse caso em particular contribuiu muito para me estimular, para ponderar, me fez pensar muito no que mais importa em nossa vida, que é Deus".
Sobre Deus e amor, complementa Miguel Reale, ex-reitor da USP, jurista, filósofo, membro da Academia Brasileira de Letras: “Em minha já longa experiência, estou convencido de que o amor (amor como inclinação afetiva a outra pessoa, ou até mesmo como dedicação desinteressada a algo que nos transcende) é a via de mais fácil acesso à compreensão do sentido da vida, porque amar já é por si mesmo um modo de nos transcendermos, de nos elevarmos ao mundo dos valores ideais, chegando à conclusão final de que sem Deus a vida não tem sentido”.

f) Deus nas empresas:
A empresa que tem Deus em seu ambiente:
a) Transcende o sentido de identidade do funcionário, isto é, respeita e valoriza-o independentemente do seu sexo, profissão, cor, raça, crença, ideologia;
b) Crê que cada ser humano é portador de uma essência superior, ou de uma centelha divina;
c) Respeita a condição evolutiva de cada funcionário;
d) Procura resolver, sem paternalismo, as dificuldades sociais e culturais do funcionário.


Sabemos que estamos longe – muito longe – da plenitude espiritual. Mas certamente esse caminho será mais curto e mais prazeroso se as empresas estimularem em seu interior, a prevalência de um ambiente espiritualizado, em que Deus seja o Comandante Supremo. E no caminhar para alcançar a plenitude, seremos pessoas mais felizes, mais realizadas e mais produtivas, pois dar passos em direção a um objetivo maior, a um objetivo transcendental, é munirmos de uma força interior intensa que propiciará a energia necessária para o bem viver, para encontrar um sentido para a vida, independentemente da distância que estejamos do ser pleno, do ser espiritual, do ser integral, que um dia seremos.

3 comentários:

  1. Boa tarde!
    Muito válida sua postagem, Jorge! Muitas pessoas escondem sua crença em certas empresas, por não fazerem parte do culto da maioria, se isolam das conversas sobre religião e não expõe nunca sua opinião.

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  2. Eu, particularmente, compartilho da opinião que os ensinamentos do Cristo serão vivenciados no contexto das iniciativas empresarias do que das religiosas. Se tomarmos mais de 2000 anos de inanição, veremos que isto está prestes a ocorrer. Consideremos que, pelo menos oito horas do nossos dia são dedicados ao trabalho. Enquanto as vivências religiosas ficam ou ficaram restritas apenas um dia na semana, como tradição.

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  3. Muito bom texto, o grande entrave que enxergo são ao paixões pelas religiões e não pelos ensinamento de Cristo, no qual a base é o amor.

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